O José Pimentel Teixeira (JPT) engana-se. Quando me apetece responder a comentários, respondo. Da mesma forma que os deito para o lixo quando são insultuosos, redundantes ou simplesmente imbecis. O critério - e a inerente censura - é, naturalmente, o meu. Se o JPT aqui vem de vez em quando, já deve estar "familiarizado" com o que penso sobre Joseph Ratzinger. Em geral, e para resumir, penso bem. Muito bem, até. E sabe porquê? Porque o li antes de ele estar sentado na famosa cadeira de Pedro. Raztinger é, para além de um grande teólogo, um bom filósofo. E um bom filósofo, como ensinou Nietzsche, serve para incomodar a estupidez. Muitas das coisas que se lêem e escrevem sobre Raztinger relevam desta infeliz rasura intelectual. Se há alguém que "mede" bem o que diz, esse alguém é justamente o antigo Cardeal Ratzinger. Por outro lado, a Aura Miguel é uma jornalista (porventura a única portuguesa) que está, há anos, acreditada no Vaticano e acompanha, também há muitos anos, as visitas papais. Foi minha colega e tenho-a como minha amiga pelo que, por aí, JPT, estamos conversados. Sobre o pseudo-tema "de fundo", limito-me a deixar aqui dois comentários que respondem, na perfeição e melhor do que eu o poderia fazer, às suas "inquietações africanas". Para mais, não adianta obnubilar o carácter essencial de uma visita apostólica com a relevância desta com a habitual "lana caprina" do "diz-que-disse" para encher chouriços nas televisões e nos jornais com meias-verdades ignorantes.
«O que o Papa disse foi que a forma mais eficaz de combater a SIDA não é o preservativo e esta é uma afirmação confirmada pela realidade africana. Recomendo uma leitura atenta do documento “PROJECT LESSONS LEARNED CASE • STUDY - What Happened in Uganda? - Declining HIV Prevalence, Behavior Change, and the National Response “ apresentado à Conferência Internacional sobre a Sida em Barcelona 2002. O que a experiência nos diz no caso do Uganda, o maior caso de sucesso no combate à SIDA em África na década de 90, é que o preservativo não é um factor determinante nesse combate - “Condom social marketing has played a key but evidently not the major role: Condom promotion was not an especially dominant element in Uganda’s earlier response to AIDS, certainly compared to several other countries in east-ern and southern Africa” pag. 8. São estes os casos de relativo sucesso o do Uganda e do Malawi, já nos países onde a ênfase tem sido diferente com uma forte aposta na distribuição massiva de preservativos a situação agravou-se, e muito – é o caso da África do Sul e de Moçambique. A Igreja sabe bem do que fala, são homens e mulheres que estão lá onde os africanos morrem diariamente, e não passam a vida em seminários e workshops, quase todos patrocinados pelas multinacionais farmacêuticas. »
«O que o Papa disse foi que a forma mais eficaz de combater a SIDA não é o preservativo e esta é uma afirmação confirmada pela realidade africana. Recomendo uma leitura atenta do documento “PROJECT LESSONS LEARNED CASE • STUDY - What Happened in Uganda? - Declining HIV Prevalence, Behavior Change, and the National Response “ apresentado à Conferência Internacional sobre a Sida em Barcelona 2002. O que a experiência nos diz no caso do Uganda, o maior caso de sucesso no combate à SIDA em África na década de 90, é que o preservativo não é um factor determinante nesse combate - “Condom social marketing has played a key but evidently not the major role: Condom promotion was not an especially dominant element in Uganda’s earlier response to AIDS, certainly compared to several other countries in east-ern and southern Africa” pag. 8. São estes os casos de relativo sucesso o do Uganda e do Malawi, já nos países onde a ênfase tem sido diferente com uma forte aposta na distribuição massiva de preservativos a situação agravou-se, e muito – é o caso da África do Sul e de Moçambique. A Igreja sabe bem do que fala, são homens e mulheres que estão lá onde os africanos morrem diariamente, e não passam a vida em seminários e workshops, quase todos patrocinados pelas multinacionais farmacêuticas. »
(do leitor Paulo)
«Admito que a forma como o Papa se exprimiu facilite as polémicas que se geraram, estamos cada vez mais habituados a reter só a frase em vez de nos determos uns minutos a reflectir no sentido global da mensagem completa. Mas há também uma enorme tendência para confrontar a Igreja com um simples sim-ou-não aos meios, numa tentativa de apagar a importância da orientação espiritual e as exigências de comportamento moral versus a eficácia da técnica e da ciência. Tornámo-nos uma sociedade de grande sentido prático mas de reduzido sentido de valores. Ora a ciência e a técnica bem precisam de uma boa ajuda da moral e da exigência individual, senão arriscam-se a não dar conta do recado. Vivemos uma sociedade de grande sentido prático, que com toda a facilidade dispensa discursos de moral ou de exigência ética e de comportamento, porque quer ver resultados já. No entanto, apesar dos esforços gigantescos para a prevenir e combater, a SIDA persiste como uma peste dos tempos modernos. A ciência, a técnica e a sociedade bem podiam aceitar a ajuda do apelo a outro tipo de comportamentos, tal como a Igreja defende, em vez de se escandalizarem com o que não querem entender. »
(da dra. Suzana Toscano)
10 comentários:
«O que o Papa disse foi que a forma mais eficaz de combater a SIDA não é o preservativo e esta é uma afirmação confirmada pela realidade africana»
Nem para combater a gravidez precoce, como está à vista na Grã-Bretanha e arredores.
Mas isto, digo eu, cada vez mais reaccionário. Ao falso progresso.
JB
Certíssimo, esperemos então uma "mudança de comportamentos". Mas enquanto não mudam, que se morra aos milhões.
Até Cristo deve ter tremido com tamanha falta de sensibilidade por parte do Papa.
É afinal isto a caridade cristã? Condenar pessoas à morte por um preconceito moral? A cada queca tem que corresponder uma nova vida? É essa a questão de fundo?
Ah, é verdade, para além de católico praticante, como já afirmei num outro comment, tb sou um admirador da obra intelectual deste Papa.
Há quem perca muito tempo a enfunar-se contra a Igreja e perde de vista o essencial: a mensagem que salva e que ela é depositária não é sanitária. É de sentido, tem implicações profundas na forma como nos relacionamos e interagimos incluindo no plano sexual. O preservativo, se for visto como a ração que falta à saúde dos africanos, não funciona. É preciso ir mais além.
Fundamentalmente, o que as DST trouxeram ao Ocidente foi uma revisão geral de comportamentos. O sexo furtivo e fortuito leva preservativo e outros cuidados. Os exames fazem-se. Os parceiros têm em conta o background recíproco. No Ocidente engravida-se menos. Em África adoece-se mais.
1. sobre Ratzinger não comento. Não li. Mais, nada percebo de teologia, mesmo que o fosse ler não estaria capacitado para botar a "crítica" (fácil) que brilha. Dele tenho, apenas, uma ideia geral - que é a que V. aqui explicita - de ser um vulto fortissimo do pensamento católico actual.
2. Do Papa não costumo falar. Sou ateu e muito me irrita a mania dos ateus (ou dos "agnósticos") que sistematica ou ciclícamente botam sobre o que a igreja católica "deve fazer" ou "deve ser". [blogoexemplo disso a parvoeira generalizada quando ocorreu a eleição deste Papa]
Não sigo, julgo, um preconceito contra Ratzinger ou contra o Papa.
3. De Aura Miguel conheço o texto que V. recomendou: explícita está a ideia de "uma sexualidade responsável", implícito está o conteúdo desta. Não valerá a pena discutir o quanto de impositivo isso tem [uma moral sexual muito particular, um modelo familiar e de controle individual muito particular, um processo histórico muito particular, um etc de particulares] e do quanto o texto não funciona. Em épocas de hoje, muito ligadas ao "multiculturalismo" todos optam por considerar que há diversos contextos culturais o que explicaria (ou não, para os adversários disso) outra moral sexual. Mas é real: em tanto lado não vigora o discurso da abstinência (pro-ascético), não vigora o discurso da virgindade pré-nupcial, não vigora o ideal do casamento tardio, não vigora o discurso da fidelidade, etc, etc. Em muitos locais africanos e não só. Dizer que deveria vigorar? Sim, é o que a Igreja fez, com diferentes sucessos na Europa e depois na América. Em África fá-lo agora (daí o crescimento dos católicos ser agora, não nos regimes coloniais). Mas não é só uma questão "cultural" - é também "social", de vivências: migrações, transumâncias, emigrações, poliginia.
A jornalista pode conhecer bem o VAticano - mas o texto dela é completamente preconceituoso, ignorante.
[E, já agora, mágico. O Papa em digressão é um enorme acontecimento político, social, religioso, mágico. Que se diga que este problema (o tal seu "pseudo-tema") não conta porque a visita é um sucesso popular está absolutamente no registo propagandístico que V. aqui costuma zurzir - quando os festejados não são do seu agrado]
1. "as minhas inquietações africanas", como diz, que me fazem intervalar o silêncio sobre o que a igreja católica diz e faz, são de convivência com a doença: colegas que morrem, assistentes que morrem, alunos que morrem, vizinhos que morrem, amigos que morrem, empregados que morrem, "informantes" que morrem. Por saber que a hierarquia católica propala que a Sida é invenção dos brancos para conquistar Africa, que alguma elite intelectual também o diz, que o povo acredita que os preservativos são o meio de propagar a doença (o líquido dos preservativos em particular).
Diz-se que os preservativos não resolvem. Claro, mas alteram. Há países com taxas de cerca de 50& de infectados (swazi, botswana) outros bem menos. O Uganda é um caso peculiar, sempre divulgado - a precisar também de estudos que expliquem porquê, também na sua dimensão política.
O preservativo não resolve mas mitiga. Muito. Certo que é um mero pseudo-tema, mas é inacreditável afirmar o contrário.
2. Nunca pediria que o Papa ou a hierarquia fizessem a campanha em seu favor. Toda esta questão é um obstáculo intransponível na mensagem ética-social da Igreja. Mas podia, em África, nesta década, elidir a oposição frontal e conduzir de outras formas a retórica evangelizadora, neste contexto. Não de uma forma facilitista, até porventura exigindo uma maior profundidade comunicacional.
Isso sim seria "responsável" (no meu sentido particular de "responsabilidade"). Ou, e aqui estou no mero, senso comum, isso sim seria "cristão".
São estas as minhas inquietações africanas sobre o referido pseudo-tema. Não sobre o diz-que-diz do dia. MAs também não na colecção de cromos (deste gosto, deste não gosto).
OBrigado por me responder ao comentário
os alarves (caa é um deles) continuam a dizer mal do Papa.
por fazer não venham mostrar mais ignorância.
se a camisa resolvesse o problema não havia sida em washington.
há demasiados cus e vaginas em portugal que não são locais recomendáveis.
quando havia putas estas iam ao médico.
a promiscuidade provoca doenças e mata
radical livre
Cinco estrelas. Eles não entendem, não querem entender, não são humanos. Ver para além do imediato é coisa a que poucos chegam.
Para qualquer leigo, há neste Papa uma postura profundamente irritante que é o de fazer afirmações completamente descabidas da realidade dos factos como se não fosse deste mundo. Toda a gente sabe e isso está cientificamente comprovado que o preservativo evita a transmissão de doenças infecciosas designadamente da SIDA. O preservativo garante, com relativa segurança, a "promiscuidade sexual, que se traduz por contactos com múltiplos parceiros, coisa que a igreja católica, evidentemente condena. Daí que, segundo a moral católica a utilização do preservativo seja moralmente condenável porque leva à promiscuidade. Por essa razão os católicos devem manter a abstinência sexual ou ter um único parceiro do sexo oposto durante toda a vida visando a procriação e a constituição da família. Ficam de fora todos os outros que, neste caso, são a grande maioria. Daí não entender a razão desta diatribe contra as declarações do Papa. O que ele defende é perfeitamente coerente com os princípios da Igreja. Ou estavam à espera que ele fosse defender o uso do preservativo!
João, mais uma vez lhe agradeço o juízo claro e lúcido sobre o Papa Bento XVI.
Eu apenas gostaria de referir a coerência da Igreja (coerência no Tempo (séculos) e no Espaço (onde quer que esteja o Homem, de Nova York às florestas da Indochina e para lá delas). E uma coerência que faz sentido para milhões de pessoas, desde as mais cultas e viajadas às que não têm acesso ao "Mundo".
Por comparação podemos recordar o que qualquer das nossas maiores sumidades (políticas, económicas, culturais e artísticas) diziam há 30 anos, há 20 ou há 5) e o que dizem hoje. E sempre com a certeza de que "debitam" a VERDADE ABSOLUTA. Se fossem um pouco mais humildes não pareceriam tão patéticos.
Queria ainda agradecer ao João Gonçalves por, por vezes, nos poupar a comentários "excessivamente estúpidamente altivamente arrogantes" (embora os seus autores admitam desconhecer em boa parte do todo que é o assunto que comentam), principalmente quando vêem de alguém que parece pensar que sexualidade é ter relações sexuais com múltiplos parceiros ao mesmo tempo mas parece desconhecer que há casamentos poligâmicos.
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