26.7.08

JOÃO UBALDO RIBEIRO


Deram-lhe o Prémio Camões deste ano. Pertence ao pequeno grupo dos que gosto. Vale meia dúzia de Lobo Antunes que recebeu o do ano passado. Eis um pouco dele, em A casa dos budas ditosos. «Explicar que sou um grande homem e não digo que sou uma grande mulher pela mesma razão por que não existe onço, só onça, nem foco, só foca, tudo isso é um bobajol de quem não tem o que fazer ou fica preso a idiossincrasias da língua, como aquelas cretinas feministas americanas que queriam mudar history para herstory, como se o his do começo da palavra fosse a mesma coisa que um pronome possessivo do gênero masculino, a imbecilidade humana não tem limites. Sou um grande homem fêmea, da mesma forma que os grandes homens machos são grandes homens machos, fica-se catando picuinha porque o nome da espécie é por acaso masculino e não neutro, como é possível que seja em alguma outra língua, como se a gramática resolvesse alguma coisa nesse caso. Explicar isso, não existem grandes homens e grandes mulheres, existem grandes homens machos e grandes homens fêmeas. Não há nada mais ridículo do que galeria de grandes mulheres isso e aquilo, fico morta de vergonha. A espécie é humana, como Panthera uncius, Panthera leo, um onça, no feminino por acaso, outro leão, no masculino por acaso, questão de língua, exclusivamente. Explicar isso como quem explica a um marciano. A um terráqueo. Escuta aqui, terráqueo, deixa de ser débil mental. Bem, ambições inúteis, vamos ao trabalho.»

11 comentários:

Anónimo disse...

Este seu post fez nascer em mim a vontade de reler "A casa dos budas ditosos". Confesso que da primeira vez me deixou um pouco indiferente. Tanta obscenidade pareceram-me um truque para ter sucesso! Talvez me tenha enganado...
Quanto ao Lobo Antunes, deve ser um grande escritor! Não consigo lê-lo!
Xico

Anónimo disse...

o meu ex-vizinho carvalhasss dizia sempre "portuguesasss e portuguesesss" . como designar paneleiros e fufas? o socialisticamente correcto está cada dia imbecil. andamos todos "intochicados" com tantos "acórdos". é dos "númaros" da matemática com que se fabrica uma geração asnática.
quando Albert Einstein era técnico duma repartição de patentes de invenção disse com toda a razão "a mediocridade é imbatível"
para seu conhecimento. num jantar do gol estava um revolucionário da I república. contou que na noite de 11 de Outubro de 1917 foi com o pe. joão soares serrar a azinheira onde tinham ocorrido os milagres.
PQP

radical livre

Unknown disse...

Meia dúzia de Lobo Antunes não deixa de ser um comentário. Injustificado, mal amanhado, um misto de pena e de raiva que é para não chamar invejoso, dum menino que levou muita tareia no recreio e que se calhar lhe custa a entrar na psicose do autor, mas não deixa de ser um comentário.

Anónimo disse...

Se bem recordo (mas eu só nasci em 1971), creio que foi a Sra. D. Edite Estrela quem introduziu o patrulhamento sobre a filogenia da língua portuguesa no discurso político e quotidiano. Muitos dirão que foi Natália Correia, mas não é verdade. Natália Correia questionava outra coisa, mais abstracta. Edite Estrela foi o precursor desta história toda, porque sempre defendeu a confusão entre o género do sujeito e o género dos substantivos - que, na minha opinião, devem exprimir a origem etimológica independentemente do género do sujeito. No caso dos adjectivos, concordo que o género deva corresponder ao sujeito, mas noutro caso não me parece que faça muito sentido. No fundo, a Sr. D. Edite Estrela apenas promove a confusão entre os substantivos e os adjectivos, desleixando a importância que essa distinção tem na aprendizagem. Eu, por princípio, defendo uma definição da sintaxe o mais próximo possível da origem etimológica - e é por isso que lamento o novo Acordo Ortográfico. Não creio que o hábito deva fazer o monge, no que toca a Língua: pelo simples princípio de que se uma nova ideia não é introduzida no léxico, não faz nenhum sentido procurar adaptações ortográficas de acordo com a medida em que as pessoas vão usando a Língua. Não vejo a Língua como uma coisa sagrada, mas considero que quanto mais próxima estiver da sua origem lexical mais simples se torna, pelo simples facto de que as línguas tendem a adaptar-se pela simplificação falada (muitas vezes fruto de erro) e não pela introdução de novos elementos sígnicos, e tudo isso só propicia a confusão. Foi pena os visigodos não nos terem deixado uma influência definitiva da sua língua genial. Hoje, seria tudo bem mais simples, porque na linguagem estão os condimentos para a forma como pensamos. Quanto mais limpa de complicações for a língua, mais claro é o pensamento. Não nos calhou essa sorte (o que lá vai, lá vai) mas também nunca vi nenhum excelso linguista preocupado como a forma e a estrutura da Língua, em silêncio, nos afecta o pensamento.

Unknown disse...

O "politicamnete correcto" resolveu passar a usar as duas formas (masculino/feminino)para fingir que não discrimina, o que me parece de uma infantilidade tocante. E como fazer no caso dos substantivos sobrecomuns (vg. testemunhas) ou comuns de 2 géneros (vg. camaradas, jornalistas)? Direi "Senhores e Senhoras camaradas"?

Anónimo disse...

que texto tão coisinho ... bolas..................... eu sou melhor ... melhor ....melhor................................................................................................................

Anónimo disse...

Semi aspas: "Pertence ao pequeníssimo grupo dos que gosto. Dos "portugueses", três. Valem dúzias de Lobos que receberam o do ano passado." M Assis, Amado e ele. Três brasileiros e dois, coincidentemente, da Baía... Médicos e Casas dos Bicos, f.... que são tristes como uma noite escura...de chuva e nevoeiro.

Nuno Castelo-Branco disse...

Bah, gostei é de o ouvir dizer ..."com este, só este ano já são 5 (ou 6?) prémios"...
Afinal, mera questão de contabilidade.

Quanto ao texto publicado, apenas um sonoro ehehehehehehehehe!

Anónimo disse...

Ora, ora ... com povo burrinho até pensamento banal leva prémio ...

de.puta.madre disse...

Em 8 séc. de Portugal, finalmente, há alguém ímpar acima de tudo o mais que se vai escrevendo por esse mudo fora. Ah! Não sabem!? Eu digo: ANTÓNIO FRANCO ALEXANDRE. E o bom mesmo é lê-lo.

Anónimo disse...

"Vale meia dúzia de Lobo Antunes que recebeu o do ano passado."

Essa foi pouco inteligente. Deve preferir um intragável Saramago, ou quiçá, até uma Margarida Rebelo Pinto.