Assisti ontem, pela primeira vez, a umas provas de doutoramento, no caso, de sociologia. De lá saiu, com um antigo "muito bom com distinção", o júri, com uma frequência de uns cento e vinte alunos - que foi, por circunstâncias diversas, varrida do currículo daquela disciplina, a sociologia. Da mesma maneira que George, por outras ou as mesmas circunstâncias, não ficou na universidade onde apenas regressou para este doutoramento. As universidades portuguesas, como o universo em má hora globalizado, estão pejadas do bom e do mau. Bolonha contaminou tudo no sentido tendencial da preponderância do mau. O jecto a dois em torno destas coisas literário-literatas que começaremos em breve. Quando acabarmos, estaremos porventura tão divertidos como isolados (mais do que o costume). Porque, parafraseando o George no prefácio do livro da foto, nestes "assuntos" como em quase todos, é preciso ser rude, torcido, cruel, inconveniente, excessivo, indelicado e dar "respostas chulas". «Quando à nossa volta o clima mental é lúgubre e estéril; quando o meio literário [qualquer "meio] em que vegetamos não promove o espírito crítico, antes o comércio escuro e as mútuas mesuras (mas isto é como malhar em ferro frio, quem é que quer saber disso?), abençoado Pacheco! Num ambiente destes, repito, as judiarias e o temperamento belicoso do Luiz tinham um efeito desinfectante. E atirar à cara dos obsoletos literatos locais uns quantos raciocínios sumários, aplicar-lhes algumas dentadas de cobra cascavel, fazendo-lhes sangrar o orgulho, era um dever, mais, era um sinal de civilização.»
3 comentários:
Gostava que Pacheco fosse vivo; e que, a par da sua descrição da 'hora da higiéne no lar, feita pelas cachopas', falasse do PS, dos políticos e de sócrates. E que junto com Medina Carreira no mesmo estúdio, caracterizassem o Portugal actual, a sociedadezinha e os seus 'tipos'. Pacheco, mais sobre escritores-ao-metro e Canavilhas; Medina, mais sobre os rapazes das secretarias, das leis e das finanças. Enfim, o País.
Ass.: Besta Imunda
Neste país, quando alguém ousa dizer a verdade, quando proclama que o rei vai nu, mesmo que o rei não tenha apelo algum para a sua nudez, é pura e simplesmente ostracisado.
A sociedade prefere ocultar, hipocritamente, o seu conhecimento do curriculo de certa gente.
Conversei com o João Pedro George apenas uma vez, numa comunidade de leitores em que ele era convidado, mas gostei do que ouvi; e gostei (gosto) do livro que menciona, bem como de outro, em que "malha" forte e feio em alguns escritores portugueses que são tidos por excelentes. E, sim, Luíz Pacheco faz muita falta, tal como, por exemplo, Natália Correia -- e até, chegados a este ponto, alguém como Vera Lagoa.
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