30.6.11

VOLTAR À GRANDE POLÍTICA


«É urgente quebrar o conformismo de chumbo que se instalou na UE, que se arrisca a transformar a crise da dívida numa devastadora crise da própria Europa e que, acentuando a deslegitimação das suas incompetentes lideranças, terá consequências e proporções difíceis de antecipar. E para quebrar este conformismo e os seus dogmas, só há um modo: é o de voltar à "grande" política, isto é, às ideias que podem mudar o actual estado de coisas. E que terão de ser tão ousadas como fundamentadas. Tal só será possível cortando com a ideologia sem ideias em que se tornou a "vulgata europeia", e elaborando uma nova agenda para a Europa. Uma agenda que exija que a Comissão Europeia deixar de se comportar como um dócil secretariado de um Conselho Europeu dominado pela Alemanha. Uma agenda que leve os líderes dos países europeus a falarem mais vezes e mais demoradamente entre si, e com as respectivas opiniões públicas, de modo a encontrarem e a formularem alternativas à ortodoxia dominante. Uma agenda capaz de federar os interesses e as ideias de diversos países, sem medo de confrontar a Alemanha ou de visar os seus pontos fracos. Uma agenda que avance com iniciativas credíveis e com propostas ambiciosas, e que abra os indispensáveis debates sobre as novas circunstâncias da globalização, os paradoxos do livre-cambismo, as opacidades da "financeirização" da economia ou o interminável (e contraproducente) alargamento da União. E é muito que se pode fazer, com iniciativas de variada ordem: política, económica, financeira, social, cultural. Uma delas, e das mais urgentes, deveria neste momento ser relativa ao valor do euro, cuja excessiva valorização nos últimos dez anos tem beneficiado sobretudo à Alemanha, e a dois ou três aliados, e prejudicado todos os demais países da Zona Euro. E esta valorização teve, é preciso sublinhá-lo, um papel decisivo na perda de competitividade de diversas economias europeias, e na eclosão da crise das dívidas soberanas. (Note-se, a propósito, que a Inglaterra desvalorizou a libra, durante a crise financeira dos últimos anos, em cerca de 20%, sem que a inflação tenha ultrapassado 1,6%...) Este é um dos caminhos por onde é possível e urgente avançar, se realmente quisermos que o euro fale outras línguas para lá do alemão. Outros, por exemplo, são a unificação da dívida (como Roosevelt fez em 1932), a emissão de "eurobonds" e a criação de um ministério das finanças europeu. A Europa precisa de uma nova agenda que só um franco e vigoroso o debate de ideias poderá viabilizar, criando condições para que se enfrente uma especulação que se faz cada vez mais à margem de todas as regras, e que está a tornar o mundo numa verdadeira selva.»
Manuel Maria Carrilho, DN

14 comentários:

Anónimo disse...

Sim!!Tudo isto é verdade. O Problema é que as lideranças politicas hoje em dia, na europa, são dominadas por anões politicos, sem rasgo nem visão... A europa de Delors, de Kohl, Gonzalez, Mitterrand, entre outros, infelizmente, passou...

Anónimo disse...

Em suma: debate sim, mas desde que se aponte para o federalismo; novas agendas sim, mas desde que a Alemanha saia do Euro (...'ela' é que está a prejudicar os outros países - todos eles cumpridores e produtivos); desvalorização do Euro sim, mas desde que se mantenha o Estado-providência que continue 'a pagar tudo a todos' (e competir com a China e com a India?). Já existe um federalismo; ele é informal pela imposição absurda do Euro a economias fracas e de artesanato pobre, e a sua informalidade também passou pela proliferação de "presidentes do conselho", cargos, e toda a estruturazinha que primeiro é criada e depois logo se vê como corre... E tudo isto sem respeitar o resultado de referendos ou mesmo sem os fazer (qual debate! ele devia ter acontecido no passado, com tudo às claras). Depois a Cultura Europeia. Mas qual? a de Canavilhas, a que baniu o Cristianismo?, a que promove esterilidade e coisas sem significado?, a que vê tudo como bom, desde que seja "multicultural" (ou seja, 'tropical' e terceiro-mundista)? E será bom que Países e Europa se verguem a 'coisas' inconcebíveis como o TPI, que é composta (como a ONU) por hipócritas, mentirosos e tipos distraídos que só reparam nos ditadores depois de 20 anos de boas-práticas?
Dever-se-á, de facto, voltar à Grande Política - mas para não embarcar em disparates e sim para falar grosso e verdadeiro.

Ass.: Besta Imunda

Nuno Oliveira disse...

Toda esta conversa é estéril.

Toda a política está ao serviço do poder económico e não ao contrário.

O sistema financeiro está à beira de um colapso que fará a crise de 1929 parecer um oásis.

Concordo apenas com um ponto do texto: é preciso discutir seriamente o paradigma económico-financeiro do mundo. Não basta discutir o europeu. Enquanto a tendência do sentido da riqueza se mantiver (40% nas mãos de 1%), enquanto as pessoas forem escravas do consumismo e idolatrarem a riqueza, não haverá mudança. Já se perdeu (se é que alguma vez houve) a necessidade de colocar o ser humano no centro da discussão. Crescemos com um cifrão pendurado em frente dos olhos tal qual a famosa cenoura e não nos permitem tempo para o ócio. O negócio está no vértice da existência actual e sem o pensamento somos uma das sociedades mais retrógadas de sempre, equiparada à época medieval denominada pelos ingleses de "dark ages". É no escuro que se vive iludidos de que a claridade de alguns consiga levar esta sociedade para algum porto seguro. Pena que este porto esteja depois do abismo de um planeta plano...

da-se disse...

Hoje, o título principal do "Público" é: "Parque automóvel do Estado está velho e 71% circula sem seguros".
71 circula...
Pelos vistos, 71 passou a ser singular.
Quando o analfabetismo, aqui consubstanciado na "troika" Bárbara+Gaspar+Carvalho, se instala na direcção de um jornal dito "de referência", tudo é de esperar, não?

Anónimo disse...

...por falar em ócio: o ano tem 52 semanas e vou grosseiramente assumir que são 52x2dias (Sábado e Domingo) de folga para trabalhadores. Depois existem ainda, em geral, 22 dias úteis para férias. Depois temos também 14 dias feriados e santos (vamos admitir que não calham a fins-de-semana...)somemos, pois: 104+22+14=140 dias sem ter de trabalhar. Ora 140 dias perfazem mais do que 4 meses (estimo 4 meses em 122 dias). O ano tem 365 dias. Os dias de inactividade são 140 - cerca de 38%. Mesmo nesta sociedade que ainda se insiste em apelidar de "capitalista". Resta ainda o justíssimo e inevitável número de algumas horas que temos por dia para dedicar à família, a nós próprios e ao sono. Não me parece que falte "ócio". Se por "ócio" se entende "tempo sem ralações, competição ou pensamentos consumistas" de acordo - ele está em falta. Mas a culpa também é muito do 'consumidor', de quem ainda não arrepiou caminho e acha que é bom querer permanecer consumista. Afinal de contas ninguém obriga ninguém - levando-o pela mão. Como em breve faltará o dinheiro ou qualquer pouca folga que ainda existisse nos puídos bolsos portugueses, a questão do 'consumo' estará à força resolvida - tendo sido decidida pelas circunstâncias. E já há gente (680.000) cheia de ócio nas mãos; sem saber o que fazer.

Ass.: Besta Imunda

Anónimo disse...

Voltar à grande politica?

Só depois duma grande guerra na Europa.

Devastar tudo isto é a única solução!

Lionheart disse...

A "Europa" tem sido um enorme "casino". Não sejamos hipócritas. Alguém acredita que os credores da Grécia não sabiam que os gregos aldrabavam as contas? E não continuaram mesmo assim a emprestar-lhes dinheiro até rebentar? E ainda continuam. Pois agora iamos ter pena da "cumpridora" Alemanha? Penas têm as galinhas. Interessava-lhes financiar o consumo no Sul, para aqui poderem exportar. Foi a mesmíssima coisa que a Espanha, o nosso maior credor, aqui fez. Agora estão TODOS entalados, credores e devedores. Todos igualmente oportunistas e irresponsáveis. Por isso não alinho nada em discursos que ilibam os países credores, que sabiam muito bem qual era a estrutura de quem estavam emprestar dinheiro, e agora fingem-se surpreendidos e até ofendidos com o incumprimento do Sul, que trabalha pouco, vejam só. Uma palhaçada.

Gallagher disse...

"da-se disse...
2:33 PM".


Pode explicar onde está o erro? Não encontro, mas gostava de partilhar a sua indignação.

71% do parque circula, metade circula, a totalidade circula.
Uma boa parte dos comentadores é analfabeta ou são analfabetos?

Nuno Oliveira disse...

Há várias formas de olhar para as coisas.

"Ora 140 dias perfazem mais do que 4 meses"

Dito desta maneira até parece demais, não é? Vamos lá encurtar isso tudo pois o ser humano nasceu para trabalhar, não foi? Quanto acha suficiente? 1 mês? 2?
Não somos todos iguais. Os empregos não são todos iguais. Nada é equiparável, no fundo. Claro que vivemos de acordo com as regras que nos foram impostas. E jamais as deveremos por em causa...

"Mas a culpa também é muito do 'consumidor', (...) Afinal de contas ninguém obriga ninguém - levando-o pela mão.
Sem dúvida que é. Aqui sem ironia. Ninguém deve atirar as culpas da sua "loucura consumista" para cima de outros. Mas uma coisa é certa: todo o nosso sistema económico e financeiro (logo, a nossa vidinha!) é baseada em dívida. Dívida esta que necessita do consumo para que o sistema financeiro não colapse. Não existe dinheiro no mundo para pagar a dívida. Logo, se deixar de pedir crédito, irá descobrir que o sistema financeiro é uma farsa da qual todos fazemos parte. Por desconhecimento da maioria, é claro. Por isso também podemos atribuir a culpa aos nossos educadores que nos incutiram desde que nascemos que só há uma missão na vida: trabalhar para pagar o que queremos. E somos alimentados de uma forma brutal (estou a ser brando) com um marketing cuja agressividade deixa-nos atordoados e dormentes. A sociedade está montada nisto e se as pessoas se recusarem a participar... colapsa.

da-se disse...

Olhe, Zé, que tal umas aulinhas de Gramática?
Não lhe ensinaram, na escola primária, que o predicado deve concordar com o sujeito?

Gallagher disse...

Da-se, eu discordo é do sujeito com tantos predicados.
Para mim 71% é uma cifra muito singular.

Gallagher disse...

Da-se,

Eu ficaria piurso se lesse que
"71% do setor dos afetados de fato(...)"

Também não gostaria de ler
"71% do parque automóvel circulam sem seguros", porque leria um erro.

Antes de criticar quem sabe mais que nós, devemos informar-nos.
Aconselho-o a consultar o Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. Pode começar pela frase "25% dos alunos ficou em casa".

da-se disse...

Zé,

Essa frase está errada.
A frase correcta é: "25% dos alunos ficaram em casa".
Com Ciberdúvidas ou sem elas - e eu conheço isso... -, a regra sem excepções é a de que o predicado deve concordar com o sujeito.
Não vale a pena insistir no que lhe soa ou deixa de soar mal...

Nuno Baptista/ Lisboa disse...

MMC não tem razão.

A nível financeiro o BCE tem tido uma política pouco popular e difícil, mas segue a via correcta. Esperemos que a saída do Sr. Trichet não traga o "quantitative easing" paleativo ao BCE.

A única forma de salvar a Europa é com uma política monetária forte, que não desvirtue o papel de reserva de valor e poupança da moeda. Uma economia não se pode desenvolver quando se destrói, através da emissão de moeda, as poupanças dos que, a custo, as fizeram. Os EUA, de forma desgovernada, e o RU seguem esse erro cabal. No inicio essa receita tira as dores, como o analgésico. Mas não corrige os problemas a médio e longo-prazos. São medidas simpáticas para evitar encarar os factos. Pena que MMC, por desconhecimento, acredito, vá por aí.

Os alemães sofreram na pele, nos anos vinte, os resultados de brincar com a moeda e com a inflação. Nessa altura, fruto da emissão descontrolada de bonds para "salvar a economia" as notas de biliões de marcos serviam para acender os fogões a lenha. E a história sempre provou ser uma solução errada. Nunca uma moeda fraca vingou a longo prazo.

Actualmente todos os bancos centrais desvalorizam as suas moedas, descredibilizando-as. Um Euro forte será atractivo como moeda-reserva de valor. Pela dificuldade de aceder à outra moeda que tem essas qualidades (o renmimbi), o Euro é a alternativa mais à mão. O resultado: atractividade de investimento e maior liquidez.

Os nossos problemas de competitividade não se resolvem com moedas fracas, nem os problemas de dívida. E se as pessoas vão ter que pagar mais juros numa moeda forte, a menor inflação daí decorrente compensa em muito pela menor perda de poder de compra (a inflação é o imposto escondido que afecta mais os que se precaveram e fizeram poupanças e os que têm rendas fixas - salários - que não se actualizam à mesma velocidade - isto é, a inflação prejudica mais os que poupam e os que trabalham por conta de outrem). Como é que MMC, sabendo ou não disto, pode entender que a solução passa por destruir as poupanças essenciais ao investimento e retirar valor aos salários? Como é que MMC pode defender a emissão de eurobonds para salvar a economia sabendo nós que na história essa solução sempre serviu para agravar mais o fosso dos que tem acesso a esse dinheiro fresco (muitas vezes usado para comprar moeda estrangeira e matérias primas) e os outros que manterão salários fixos que valerão cada vez menos?

Eu que tenho uma actividade de investimento em mercados de moeda e matérias primas sei que essa solução está minada de injustiça e de miséria.

Muitas vezes de acordo com o seu ponto de vista, desta vez não tenho forma de não discordar.

Nuno Baptista