10.6.11

UM DIA COM O PRESIDENTE


Por definição, o 10 de Junho é um dia em que o Presidente da República está, por assim dizer, mais exposto. Barreto, na sua homilia "estado-novista" (o apelo à fraterna simbiose do capital com o trabalho, da política com as "corporações", em suma, à "união nacional"), esqueceu-se de referir que não basta mudar a constituição no sentido de garantir a exigência de governos maioritários. A constituição também deve reforçar o papel do PR não apenas enquanto "árbitro" ou "provedor nacional", garantindo-lhe a liderança política e institucional efectiva do regime. A legitimidade de único órgão político singular eleito carece de uma tradução constitucional diferente daquela instituída ad hominem, em 1983, para sossego dos partidos e respectivas nomenclaturas. O PR podia e devia ter mais poderes, por exemplo, em relação à justiça cujo controlo é feito, na prática, pelos partidos e pelos "pares" naqueles obscuros "conselhos superiores". Por falar em justiça e em Presidente - e dando de barato o intenso mau-gosto de comparações com Isaltinos e Fatinhas Felgueiras que decorre daquela grosseria populista "os políticos são todos iguais" - não me parece, apesar de se tratar do Chefe de Estado, que Cavaco devesse dar luz verde a um processo contra um jornalista. Nos EUA até duvidaram que Obama fosse americano e não consta que ele tivesse mandado abrir processos judiciais. Aliás, o "tema" (sórdido e urdido pelos arietes da "central" de agitprop derrotada no passado domingo) foi explorado à náusea pelos media o que, em termos de pura equanimidade, obrigaria abstractamente a "persegui-los" a todos. Salazar tinha, entre outras, esta frase luminosa: decididos até onde ir, não devemos ir mais além. Serve para quase todo o jornalismo caseiro em vigor e, em geral, bronco. E serve para isto.

3 comentários:

Mani Pulite disse...

ABRIU A ÉPOCA DA CAÇA AOS PINTOS E NÃO A ÉPOCA DE DAR TIROS NO PRÓPRIO PÉ.AO INSULTO RESPONDEMOS PELA PALAVRA E PELO DESPREZO SEM NUNCA RECORRER À JUSTIÇA MONTADA.É ESSA FARSA DE JUSTIÇA QUE DEVE SER DE IMEDIATO DESMONTADA E NÃO REFORÇADA ATACANDO A LIBERDADE DE EXPRESSÃO, SEM A QUAL NÃO EXISTE DEMOCRACIA.

MBO disse...

Quem acredita na liberdade e na transparência, quer nos seus benefícios civilizacionais práticos quer na sua superioridade ética, tem vergonha de Pinto Monteiro e tem pena de Cavaco Silva.

Por isso coloquei a frase que levou o Pinto a processar criminalmente o referido jornalista como subtítulo provisório do meu blogue. Convido outros blogues a fazerem o mesmo.

http://supraciliar.blogspot.com/2011/06/cavaco-silva-e-pinto-monteiro-tomem-la.html

observador disse...

Meu caro, o problema presente não é propriamente os dos poderes do PR, mas sim o entendimento e modus operanti de quem ocupa, por eleição directa, o cargo.

Cavaco há muito que, a meu ver, mostrou um mau entendimento dos poderes que tem.

Mário Soares, com poderes semelhantes, fez deles melhor uso.

Sendo assim, é bom que não lhe dêem mais, e se preocupem em equilibrar efectivamente os Poderes dos vários órgãos do Estado, e em fazê-los inter-respeitar-se.