12.10.10

JOAN SUTHERLAND (1926-2010)




Desapareceu ontem a cantora australiana Joan Sutherland. Era, por assim dizer, uma das últimas "divas" num mundo já há muito sem elas. Independentemente do gosto de cada um, é indisputável que Sutherland abordou com enorme competência repertórios líricos a que poucas podem aspirar sem arriscar situações pífias. Não tinha o pathos da Callas, evidentemente. Mas muitas das interpretações fundamentais do chamado bel canto, no século XX, são dela. A título meramente pessoal, e de cor, recomendo as suas rainhas donizettianas, a Semiramide, de Rossini, a Lucia de Lammermoor e Turandot, de Puccini, dirigida por Zubin Mehta. O maestro das primeiras é o seu marido, Richard Bonynge. No clip, ambos no Lincoln Center de Nova Iorque, em 1979.

6 comentários:

Bartolomeu disse...

De certo que sem os revolucionários contributos que a Callas deu na interpretação, a Tebadi no ideal sonoro e a Sutherland na perfeição técnica vivem ainda entre nós a Scotto, a Caballé, a Price ou a gentil Mirella Freni(todas elas, tal como a Sutherland, de espírito Callaniano) que são ainda a ligação a esse generoso e maravilhoso universo lírico do passado.

joshua disse...

O Carisma é um dos primeiros grandes mortos do século XXI. A Imagem veio substituir o Carácter.

JMarques disse...

À Sutherland e ao seu marido se deve em boa parte a "ressurreição" de Donizettis e Bellinis pràticamente esquecidos,para alem dos clássicos Lucia e Norma. Já a Callas tinha feito tambem um apreciável esforço nesse sentido(as fantásticas Anna Bolena e Maria Stuarda,por exemplo) mas o timbre mais "etéreo" da Sutherland convinha a muitos outros monumentos do BelCanto. Não sei se há substituições ou descendências,pois de facto as personalidades marcadas parecem ter desaparecido,ou pelo menos não terem tanta atenção mediática. Mas quanto à Ópera,não creio que devamos ser pessimistas. A inconcebível decadência do S.Carlos não é felizmente sinal de semelhantes tristezas pelo mundo fora,a começar pela nossa vizinha Espanha,na qual,como já referi noutro comentário,nunca se viu tanta qualidade e quantidade. E os festivais continuam cheios,e o entusiasmo do público parece genuíno. Mas talvez seja de facto um novo mundo de Ópera sem divos e divas,em que o encenador tem um papel por vezes excessivo,até parecendo o novo divo,mas com cantores e direcção musical muito satisfatórios. Já não haverá o arrebatamento de récitas memoráveis do passado,mas tambem nós(falo por mim) estamos mais "gastos". E com estas temporadas do S.Carlos,resta-nos o "Addio del Passato"...

S.C. disse...

A importância dada pelos jornalistas da nossa praça ao desaparecimento de Dame Joan Sutherland diz muito do nível cultural da comunicação social que temos. Fosse um jogador de futebol ou um bimbo mediático... Francamente!

Anónimo disse...

Hoje talvez seja mais apropriado falar de superstars do que de divas. Mesmo no que diz respeito aos encenadores - ver a Diapason deste mês. A draculina Gheorghiu bem gostaria de ser as duas coisas. E ainda há recitas memoráveis: ser ovacionado 35 minutos como Kaufmann foi este ano em Bayreuth o que é?
Carlos F

m.a.g. disse...

Uma voz absolutamente limpida e poderosa. O "pathos" não é de facto para todos mas não é requisito incondicional, a meu ver.
Já agora, há uns anos deram-me a conhecer e...

http://www.youtube.com/watch?v=xarEJGYwNR4