14.10.10

À ATENÇÃO DA PATRULHA DA "RESPONSABILIDADE" LIMIANA

«Agora, que as coisas mudaram, a incapacidade política revelou-se de um modo tão estrondoso como evidente. Esta incapacidade é bem clara no impasse actual: por um lado, exibe-se um optimismo todo feito de deslumbramento tecnológico e de virtualidades mediáticas, que vive ao sabor dos movimentos quase infinitesimais das estatísticas mais irrelevantes. Mas ao mesmo tempo insiste-se, por outro lado, no fatalismo mais paralisante: "ninguém previu", "não há alternativas", "a culpa é da crise internacional", etc. Com o optimismo, procura ganhar-se em tempo o que se perde em acção, com o fatalismo, procura ganhar-se em impunidade o que se esconde de irresponsabilidade. De resto, que classe política, que não fosse dominada pelo arcaísmo das suas ideias e pelo egoísmo dos seus interesses, poderia, há um ano, ter pensado - um só segundo que fosse! - que seria possível lidar com a mais grave crise que Portugal enfrentou desde 1974, com um governo minoritário? Mais: que outra classe política poderia, de um modo tão inconsciente, ter completamente esquecido a lição das experiência minoritária de 1995/2001, e o "pântano" a que ela conduziu? (Compare-se, a propósito, com o que recentemente - em situação análoga - aconteceu em Inglaterra). E como é possível que se ignorem todas as análises e todos os dados da sociologia e da ciência política, que têm mostrado como hoje é difícil governar, não em minoria - hipótese que o simples bom senso deveria levar a excluir! -, mas mesmo em maioria, devido a fenómenos tão diversos como a crescente fragmentação eleitoral, o forte individualismo dos cidadãos, a disjunção das temporalidades, a precariedade das identidades ideológicas, multiplicação das legitimidades políticas, a erosão dos mandatos, os efeitos do curto-termismo, etc. A palavra responsabilidade anda muito na boca dos políticos portugueses - mas há, infelizmente, razões para desconfiar que se trata sobretudo de má consciência. Porque a responsabilidade é uma exigência que liga não só as promessas e o seu cumprimento, mas também a acção e as suas consequências - e ela é tanto mais incontornável quanto maior for a previsibilidade destas. Os dias difíceis que vivemos são a mais do que natural consequência das imprudentes opções que se têm feito. E ela aponta para a importância e para a urgência de se trocar a cultura política de permanente afrontamento, que desespera os cidadãos e esgota o País, por uma cultura política de abertura, de pluralismo e de negociação, que clarifique as opções dos cidadãos e dê serenidade ao País.»

Manuel Maria Carrilho, DN

Adenda: A partir de hoje, e para memória futura, convinha registar os nomes daqueles que vão aparecer a defender a proposta de orçamento para 2011. Entre o "29 de Setembro" e agora, as famosas "ideias gerais" mudaram substancialmente. Por exemplo, e pelo lado da receita, à "ideia geral" do aumento do IVA foram acrescentadas coisas muito concretas e "técnicas" que, sem se chamarem "aumento de impostos", são aumento de impostos e não propriamente sobre os circunspectos banqueiros que foram ontem implorar ao dr. Coelho que seja complacente com esta mistificação. Consequentemente, e parafraseando o desgrenhado general Vasco Gonçalves, dos idos de "Almada 75", ou se está com esta proposta de orçamento ou se está contra esta proposta de orçamento concreta. Não há terceiras vias, queijinhos ou emplastros Leão. É preciso, de uma vez por todas, ser sério com as pessoas e deixar de as tratar como estatísticas envacalhadas. Que regresse, pois, a política.

16 comentários:

Anónimo disse...

A política não carece de regresso, está aí, aqui e ali, é a política possível para aquilo que é possível fazer por estas possíveis pessoas que politicam o país.
Não vejo, sequer adivinho, grandeza em ninguém, nem mesmo naquelas barbas recentes de gente antiga envergadas por Ramalho Eanes, mesmo que o general seja dos escassos entre os poucos que permitem consolidar uma ideia de... possibilidade.
Mas vamos por partes visto que isto já não é uma parte, é um aparte. Esta gente fez de Portugal um à-parte semiótico, onde os sinais abundam para disfarçar a ausência de caminho e não para indicar o caminho. Provavelmente deveriamos usar o código da estrada, ou aqueles manuais das escolas de condução como "Bíblia" para Sócrates encher os seus dias, os dias que lhe faltam e nos faz faltar horas para emagrecer os meses.
Eu não quero isto, não quero esta merda, não quero esta gente, não quero que me confundam com gentalha enfiada em lugarzinhos para gente pequenina só porque ser pequenino é a chave de entrada para o mundo dos grandes enganados, do corno manso, do corno bravo... mas corno, fazedor de ordens para cumprir uma missão gratificada pela manutenção do que isto é, vai ser e será, senão houver quem diga: Chega!!
Mas que merda é esta?? Que querem estes gajos, orçamento para cá, orçamento para lá, quando, como se evidencia dia para dia, a resposta esxtá onde sempre esteve: ctrl-alt delete. E prontos, regressar recuar, até à idade média se necessário for, mas refazer esta bandalheira, dizer aos papalvos que já não podem ter um Ford Mondeo novinho mas sim um Fiesta em segunda mão vindo da Holanda, em que de um LCD de 1500 euros, uma coisa de não vá além dos 100 euros, porque os golos do Ronaldo valem o mesmo, independentgemente da dimensão do ecrã, foda-se!
Quantos mil milhões se espatifam por estas merdas que, na verdade, não fazem falta? Esse o caminho.
E, como diz o outro, vem aí um grande inverno e ter coberores à mão dá mais uso que um filho da puta de um LCD carote.
Enfim, cheira-me que já se vai tarde.
repare-se no pânico desses imbecis que o Sócrates meteu nas empresas públicas ou quase públicas, por todo o lado, que agora apanham por tabela ficando ligados a esta metabulimia lusitana. Que gente, porra, que gente merdosa! E como se agarram a este lusco-fusco para não terem de acender as velas dos seus próprios velórios. Amem!!

Rita

Nuno Oliveira disse...

Caro Joao,

Quando defendi que a responsabilidade politica deveria ser usada em nome daqueles que votaram, que nao sao mais do que parte do pais, houve demasiadas vozes "responsaveis" que defenderam que os interesses do pais passavam exclusivamente por uma estabilidade politica. Em nome dumas presidenciais que viriam. Em nome duma paz podre.
Hoje, a maioria dessas vozes, que vivem de e para a politica, ja comecam a ver que a estabilidade que compraram era utopica.
Ser uma pessoa seria em Portugal e simplesmente uma obstinacao idiota de alguns perante a voracidade egoista da maioria dos portugueses.
Os politicos reflectem apenas o povo que os elegeu. Tiveram apenas a sorte e oportunidade (visao) de escolherem a politica como meio de subsistencia.
MFL e alguns outros seres serios sao a excepcao que confirma a regra. Mesmo assim sao levados por esta corja e constantemente chantageados em nome dum mal menor. Que vem agora a verificar-se ser um mal enorme.

Ser serio e ingrato...

Anónimo disse...

Ontem fiz o sacrifício de ouvir Vítor Ramalho atém ao fim, cantando a Mário Crespo e aos Portugueses a antídese de tudo que andou a dizer nos últimos anos. O mundo mudou. Se tudo eram comboisos e aeroportos e um país a andar para a freente, de repente tudo vai de retro. Menos a falta de vergonha do PS. Essa vai a alta velocidade e em força. Gostava de lhes poder telefornar a todos, um por um, para os mandar ao raio que os parta.

mcorreia disse...

Pôr os pontos nos is:

"Nos próximos 15 dias ficaremos a saber se o governo quer mesmo um orçamento ou se pretende provocar uma crise política"

Diogo Freitas do Amaral - Visão - 14/10/10

Henrique Pereira dos Santos disse...

a questão não é nem de responsabilidade, nem de defender ou não o orçamento.
A questão é puramente estratégica: a quem pertence a iniciativa e o tempo político no dia seguinte à decisão sobre o orçamento (qualquer que seja essa decisão)?.
A Sócrates sem sombra de dúvida.
Reler Sun Tzu.
henrique pereira dos santos

S.C. disse...

Tanta lucidez do Dr. Carrilho calada durante o tempo em que mais falta fez, quando ainda seria porventura possível travar tanta asneira! Agora.... pouco crédito merece nas intenções, embora seja melhor ainda assim que vá denunciando.

Carlos Dias Nunes disse...

Emídio Rangel, mais socretino que o próprio, disse ontem à noite na RTPn que Passos Coelho vai “meter o rabinho entre as pernas”.
Trata-se, sem dúvida, de uma linguagem finíssima, que só por si diz tudo sobre a postura “negocial” do PS.

Anónimo disse...

Pergunto-me como é possível o Governo avançar com o TGV neste orçamento e não haver de imediato uma guerra no Parlamento. Será que o vão pagar com o "dinheiro do PS"? Ou será que José Sócrates está a arrranjar sarna para se coçar?

antónio chupado disse...

Para 'memória futura', o competente (!?) ministro das finanças, do competente (!?) governo deste país, que já não está à beira de nada, diz que, no futuro e na base, talvez !, do orçamento, há maior (mais) desemprego e desaceleração do crescimento da economia - o homem nem deve saber o que quer dizer "crescimento" - é, imaginem !,é um mal menor.


Um "BEM MAIOR" é pôr a canalha (leia-se governo) na rua, se possível, na da amargura, onde nos encontramos.

Entretanto, o pequeno Lacão continua a distribuir, bolsando gratuitamente, as suas 'sábias' opiniões.

Será que o dr. Carrilho "assenta" bem no ps ?

antónio chupado

Anónimo disse...

Nada mais tenho a acrescentar ao que alguns dos comentadores anteriores (concretamente Rita, Nuno Oliveira e S.C.) escreveram. "Isto" vai ter um tratamento de choque tipo Europa de Leste nos anos 1990, e ainda bem!

Ah! Um detalhe: estou CONTRA o "orça-mente"! Não só por vir das bandas do dito cujo.

PC

Manuel Brás disse...

... quais forças vivas fedorentas!

Ganhando na impunidade,
que é, por demais, evidente,
tapa-se a realidade
que se declara estridente.

Sem saber tão pouco lidar
com este impasse actual,
há quem só sabe consolidar
uma valentia virtual…

Numa deriva prolongada
após décadas poeirentas,
esta nação é fustigada
por políticas fedorentas.

Anónimo disse...

«E como se agarram a este lusco-fusco para não terem de acender as velas dos seus próprios velórios».

Todo o texto está muito bom, mas esta tirada da Rita que acima transcrevi é simplesmente excelente. Muito bom, muito bom.
Os meus sinceros parabéns.

A propósito, este PM devia ser chamado à pedra por crime de lesa Pátria porque é mesmo disso que se trata. Um grande, enorme canalha.

Anónimo disse...

A merda dos políticos do PS perderam de vez a vergonha.
Não é que em vez de chatearem o PSD, e dizendo-se de esquerda, porque carga de água não se entendem com todos os partidos de esquerda, ou seja com blocos e comunistas!!!
A vergonhosa chantagem que fazem à sua direita, além de nada ética, só demonstra que esta gente precisa de ser enfiada toda na cadeia.
Governantes que enganam o povo deveriam ser responsabilizados na justiça, comportam-se como verdadeiros malfeitores e assaltantes de estrada.
Gente sem escrúpulos e sem vergonha, ainda têm a tremenda desfaçatez de impor sacrifícios incomportáveis a tanta gente, que por vezes nem comida tem na mesa, para alimentar as bocas que tem em casa.
É uma indignidade termos políticos sem carácter e mentirosos compulsivos, que não olham a meios para atingir fins, que neste caso é a sua perpetuação no poder a todo o custo.

Cps
Scaramouche

Eduardo Freitas disse...

Carrilho zurze o PS e, particularmente, Sócrates. Nada a dizer. Que não caia nenhuma no chão.

Mas o "pântano" de Guterres nada teve a ver com governos minoritários. Foi, simplesmente, o fim do bambúrrio (onde couberam também generosos orçamentos com que Carrilho pôde contar).

joshua disse...

EVIDENTEMENTE QUE ESTÁ NA HORA DE ESTAR COMPLETAMENTE CONTRA ESTA PROPOSTA DE ORÇAMENTO. Eu estou. É preciso rasgar os consensos apodrecidos e deixar escoar a peçonha. Fique bem à luz do dia o mal que nos têm feito e pretendem continuar a fazer.

Quem sobe impostos, contra todas as promessas, nunca mais os descerá? E hoje em Portugal tudo é imposto ao ponto de tornar insuportável a vida, o futuro, as mais legítimas aspirações de quase todos.

Eu estou completamente contra. Mais alguém está?

Anónimo disse...

Acho que até o Teixeira dos Santos está contra, caro Joshua.

Em mim reside apenas uma dúvida: qual das duas possibilidades, aprovar ou chumbar o orçamento, põe fim de forma mais célere a esta porcaria!

Rita