De repente, apareceu no léxico da língua de pau nacional a palavra "responsabilidade". Quem nunca cá tivesse estado nos últimos, vamos lá, dez anos, poderia julgar que estivemos entregues a irresponsáveis e que, finalmente, meia dúzia de prosélitos, prenhes de "sentido de Estado" e de gravitas, desceram à Terra (Marcelo já tinha descido previamente como os rapazes e as raparigas dos "segredos" da Júlia Pinheiro) para distribuir, com método e equanimidade, a dita cuja. E, para estes prosélitos, o que significa "responsabilidade"? "Responsabilidade" é, por esta ordem, deixar passar um orçamento que só de conhece da boca do "responsável" Sócrates (o orçamento é uma espécie de décimo primeiro estádio do euro 2004, um verdadeiro "desígnio nacional"), fazer de conta que não existe uma coisa "irresponsável" chamada PSD e transformar as eleições presidenciais num amuleto para o acima referido "responsável" Sócrates continuar a distribuir "responsabilidade" pelo país por mais tempo. Isto tudo porque o lugar - em que todos estes novos e velhos teóricos da "responsabilidade" têm responsabilidade pelo estado a que o lugar chegou - deve parecer um país aos olhos dos seus prestamistas, nem que seja a engolir "queijos limianos" para ficar bem na fotografia. Neste contexto de "responsabilidade", o mais natural e sábio é que Sócrates não apareça ou fale até à completa edificação do seu "estádio", o orçamento. Aqueles que, adequadamente e a tempo, perceberam a natureza do homem, são os mesmos que, atento o tal "desígnio nacional", o sustentam. Ele pode permanecer inerme a rir-se deles e de nós. Passos Coelho, faça o que fizer, está condenado para todo o sempre a ser um "irresponsável" nem que seja por ter ousado perguntar se, independentemente do "estádio/orçamento", não custará mais manter o "empreiteiro". Foi este argumento da "responsabilidade" que levou Sócrates à maioria absoluta de 2005 praticamente sem se mexer. É com ele, o argumento, na boca de outros supostamente insuspeitos que Sócrates conta para ir ficando, como sempre afirmei que poderá ficar até ao final da legislatura. Carrilho dizia na sexta-feira que a democracia não vive de consensos. Vive da diferença. Mas afirmar isto, com clareza e sem ambiguidades oportunistas, é correr o risco da "irresponsabilidade" e significa perturbar a instalada "comissão de honra de apoio a Sócrates" que se extende patrioticamente de Lisboa a Bruxelas como num concurso de empadões para o "guiness". Nem os melhores espíritos escapam a esta timorata conclusão. Vasco Pulido Valente, ontem, verberava o regime que, na prática, é esta "comissão de honra" mais Sócrates. Hoje já acha que, em nome da "responsabilidade", o regime de Sócrates deve ser salvo através do desconhecido orçamento. Que saudades de umas férias, sem bilhete de volta, em Marrocos. O original.
Adenda: A título ilustrativo, têm aqui um "pormenor" do "estádio/orçamento" (porque depois há mais orçamentos e mais orçamentos por causa do "estádio"). Talvez umas três cadeiras da bancada lateral. E a Helena Matos, que é uma pessoa "normal", escreve nos jornais e vai às televisões, também pergunta se o famoso orçamento tem poderes taumatúrgicos. Ou o Moita de Deus, um dos "heróis" do 5 de Outubro de 2010 e pessoa igualmente frequentável, que acha graça ver «o país pensante a pedir que a oposição abdique de fazer oposição por causa do estado das finanças públicas.»
Adenda: A título ilustrativo, têm aqui um "pormenor" do "estádio/orçamento" (porque depois há mais orçamentos e mais orçamentos por causa do "estádio"). Talvez umas três cadeiras da bancada lateral. E a Helena Matos, que é uma pessoa "normal", escreve nos jornais e vai às televisões, também pergunta se o famoso orçamento tem poderes taumatúrgicos. Ou o Moita de Deus, um dos "heróis" do 5 de Outubro de 2010 e pessoa igualmente frequentável, que acha graça ver «o país pensante a pedir que a oposição abdique de fazer oposição por causa do estado das finanças públicas.»
27 comentários:
O seu post, parece-me, tem um equívoco muito comum por estes dias: a ideia de que chumbar o orçamento é despedir Sócrates. Ainda não percebi o fundamento dessa ideia.
henrique pereira dos santos
Não, não é despedir o dito cujo. É tomar uma posição política porque é disso que se trata. Aliás, repito no post o que ando sempre a dizer - dificilmente o dito não terminará a legislatura. Não lhe faltam "apoios".
Como já por diversas vezes afirmei, quando se pensa ter atingido o ponto mais baixo e não ser possível coisas piores eis senão que elas se manifestam.
Vem isto a propósito do que se soube agora sobre a total desvergonha de serviços do Estado no que concerne às despesas sumptuárias em tempo de crise ao que acresce a posição de VPV citada no post.
Apetece perguntar: Também tu, Vasco?
Para todos aqueles que não percebem o que VPV ou JPP têm vindo a alertar lembrem-se de Clinton:
"It's the economy, stupid"
(não ofendendo ninguém, naturalmente)
O tempo da politica (politiquice no caso português) já acabou e produziu os tristes resultados que temos. Agora é a economia que varre tudo e mete esta tropa fandanga na ordem.....
A economia de quem tem dinheiro que olham para este triste canto e pensam: "emprestar dinheiro a esta malta???"
Chumbem o orçamento e preparem-se para a tormenta que ai vem..... ninguém nos empresta 1 tusto!!!
Minguem reparou ainda que quase há um ano que ninguém (literalmente) empresta dinheiro ao sector bancário português, com excepção do BCE?? Acham que isto é algo colateral?
Infelizmente, e por mais que custe, estamos de mão estendida perante a Europa....a posição em que Sócrates e companhia nos meteram......
E quando se esta dependente de um parto de lentilhas não podemos pensar em muito mais que assegurar o caldo do dia.....
E a ideia de sermos um protectorado eterno da UE até não é má....... evitávamos mais sarilhos futuros.
Estou confuso.
Diz o sr. Henrique P. Santos que, se o orçamento for chumbado (pena é que não seja o socialista que veste Armani a levar uns bons chumbos no rabo), o pavão de S. Bento não é despedido; de facto, assim é.
Mas então não foi o agente que desgraçou o país, no dizer de Medina Carreira, que afirmou ir embora (oxalá fosse para bem longe, mas ... não temos essa sorte!) se o orçamento não 'passasse' fazia as 'malas'?
Afinal é pior o orçamento ser chumbado, o fmi 'entrar' adentro deste rectângulo mal acabado, haver novas eleições, não sermos penalizados com as vergonhosas medidas de austeridade, a despesa do Estado não crescer dia a dia, os boys e esbirros do pavão não continuarem a chupar e mamar ou, pelo contrário, limpar de vez com a tralha que atrofia e empobrece o país, isto é, correr com o consulado socretino?
Afinal, de que, de quê e de quem temos medo?
antónio chupado
Devia ser chumbado e, ninguém emprestar um chavo.
Anda aí muito dinheiro, nas mãos de muita gente!
É só ler "O António Maria"
Alternativa:
(num país transformado numa grande empresa de alterne ao nível da finança/governo)
a) 'Deixar' passar o OE, com uma declaração, que além de explicativa, afirme outra:
A moção de censura ao governo, no dia seguinte.
Ver-se sem OE aprovado, deve ser neste momento o que mais interessa ao licenciado da Independente.
Ver-se livre disto.
b) Oportunidade para a 4ª República:
Eleições legislativas, após queda do governo, dentro de dois meses.
Li hoje, que basta um processo administrativo, independentemente de revisão da CRP (Sampaio, apesar dele mesmo).
E eu acrescentaria: novo governo, duas semanas após as eleições.
Quanto aos 'pais' da CRP, batatas.
A oportunidade do PR.
E do País.
PS: lê-se o «Aqui» acima e dá para entender: incompetência, desleixo,irresponsabilidade...
JB
Tal como muitos também eu testemunhei (através de contactos profissionais) ao longo dos últimos quinze anos o crescimento inusitado de uma camada da população que ia ostentando considerável riqueza.
Como se sabe agora (e os mais cépticos já suspeitávamos) houve um verdadeiro assalto aos contribuintes (actuais e futuros) e fez-se uma infâme tranferência de recursos beneficiando boys do PS, cavaquistas do PSD, banqueiros, advogados dos grandes escritórios e empresários do regime. E hoje, com receio que não estejamos dispostos a pagar a conta, aparecem todos a anunciar o apocalipse. Por mim, acabou-se a mama.
Chumbar o OE significa: a) continuar com Sócrates até ao Verão de 2011; b) ter um novo OE em Novembro de 2011. As duas coisas são suportáveis num quadro de cessação de pagamentos por parte do Estado? Duvida o João Gonçalves que um OE chumbado teria como consequência a imediata cessação do crédito externo? Sem esse crédito, como é que o Estado paga aos funcionários públicos e pensionistas? À segurança social? Às Forças Armadas? Ao SNS? Etc. Admitindo que a situação fosse "resolvida" in extremis por apoio externo de emergência, quantos funcionários do Estado, professores, médicos, polícias, aguentavam 15 (quinze) dias sem salário? Aguentava V., JG, receber o vencimento de Novembro a 15 de Dezembro? É disto que estamos a falar. E é com isto que o líder do PSD anda a brincar como um miúdo a medir pilas: «A minha é maior que a tua.» Haja juízo!
O Zé Rui está enganado. Economia não é isto... Economia é orientar os recursos que temos para optimixar resultados.
O que tem sido feito é desbaratar recursos que não temos em resultados de qualidade pior que duvidosa...
A questão do financiamento é uma máscara para se continuar nesta "vidinha". A economia só voltará com um choque como os países do leste levaram nos anos 90. E olhem como estão agora a República Checa, a Polónia ou a Eslovénia. A Hungria só não o está porque também teve o seu "dito cujo" (este era mais honesto que o nosso, chegou a dizer que estava a mentir ao povo).
Portanto, "orça-mente", não!
PC
PASSADOS 4 DIAS O OE 2011 VAI SER APRESENTADO.ATÉ AGORA TUDO FOI FEITO PARA PARTIR O PSD E OBRIGÁ-LO A PASSAR UM CHEQUE EM BRANCO A SÓCRATES E RESPONSABILIZAR-SE PELAS MEDIDAS IMPOPULARES DO NOVO OE.O PSD NÃO CEDEU E MUITO BEM.A PARTIR DE 15 DE OUTUBRO VAI-SE SÓ DISCUTIR AQUILO QUE NÃO INTERESSA A SÓCRATES E À CAMARILHA.O CONTEÚDO DO PRÓPRIO OE.É NESSE MOMENTO QUE O VERDADEIRO JOGO COMEÇA.SÓ DEPOIS DE VISTO E MUITO ANALISADO INTERNA E EXTERNAMENTE SE SABERÁ QUAL A MELHOR SOLUÇÃO PARA PORTUGAL E OS PORTUGUESES,VIABILIZAR OU NÃO O QUE SERÁ SEMPRE UM MAU ORÇAMENTO.QUANTO AOS BLUFFS DE SÓCRATES DEIXEM-NO BLUFFAR À VONTADE E LEIAM COM ATENÇÃO O QUE DIZ A CONSTITUIÇÃO QUANTO À DEMISSÃO DE UM GOVERNO E A EXONERAÇÃO DE UM PRIMEIRO MINISTRO.
Caro Antonio Chupado,
Nao somos nos que temos medo. Sao alguns poderes bem instalados que nos tentam incutir esse sentimento de medo. E a maioria do povo "sabio" vai na conversa!
Mas o que me mete medo e o que vejo que iria substituir o que ja esta no poleiro...
Ha uns tempos li um artigo do VPV que, de tao obvio, passa despercebido a maioria das pessoas:
Os politicos nao sao mais do que um retrato do povo!
Conclusao: so no dia em que mudar a mentalidade da generalidade do povo e que poderemos aspirar a politicos diferentes...
Eu cá tenho medo de ser governado por PPC e sus muchachos é que a emenda pode ser pior que o soneto
Despedir o Sr.Sócrates, por gestão danosa, indecente e má figura, é o que se impõe a uma sociedade que se quer decente e civilizada.
Continuar a contemporizar com a cretinice; com as mentiras; com as trafulhices; com a destruição do país, só por causa dum «imbroglio instituicional» que devia ter sido previsto há muito tempo, é uma posição moralmente inqualificável.
Há que pôr um ponto final no maior embuste politico dos últimos trinta anos e que começou com uma grande «fraude» eleitoral no tempo do Presidente que dizia que «havia mais vida para além do deficit».
E agora?, Sr. Presidente Cavaco, Sr. Prof. Marcello; Srs. Comentadores Avençados deste Regime Sucialista; Srs. Banqueiros e Luminárias da Economia,etc,. Onde é que está a «boa moeda» e a «má moeda»??????
Sábias palavras do Prof. Marcelo..........
Já há muito que desconfiava que as nossas "elites" eram pobres, muito pobres mas confesso que conseguiram ultrapassar as piores expectativas.
Tacticismo puro...preocupação com o umbigo...até o PR vai ao ponto de apelar à dissidência.
Grande parte da entourage de Passos Coelho levanta-me as mais legítimas dúvidas mas Passos Coelho, pelo que fez e disse no último mês, é seguramente mais sério que os pachecos e manuelas desta vida.
Referia-me ao problema económico que temos(que é naturalmente consequência de anos de incúria e má gestão e do tsunami financeiro de 2008) pela frente e não a qualquer definição de um livreco de Samuelson......
Nem sou um grande entusiasta de Marcelo Rebelo de Sousa, mas a discrição de hoje das consequências do chumbo do orçamento foi exemplar.
Repito: nenhum banco português se financia fora do Banco Central. Nenhuma empresa portuguesa (das maiores) consegue crédito no mercado Europeu de Divida. Ninguém confia em nós.
Uma crise politica agora mandava-nos inevitavelmente para uma situação de default iminente.....
Esqueçam a fase do wishful thinking....a realidade é o que é....e não o que gostaríamos que fosse....
Alguém faz ideia da quantidade de divida que o sistema financeiro português tem para financiar em 2011??? É melhor nem saberem........
Para os mais distraídos, lembrem-se que as maiores crises económicas começam com o colapso do sistema financeiro...e o nosso está à beira.....
O PSD vai, obviamente, deixar passar o OE. O tabu serve apenas para fazer peito frente ao inútil e decadente partido do governo. Tudo parece resumir-se a politiquice inútil.
Ora bem, Zé Rui, temos mais um tudólogo que mete os pés pelas mãos e confunde economia com finanças... Voilá! Fica-lhe bem a admiração pelo tudólogo Marcelo.
A propósito, o Marcelo está cada vez está mais desonesto e interesseiro. Ultimamente até está um republicano de 1ª linha. Deve estar a pensar em 2016...
PC
Zé Rui
"Alguém faz ideia da quantidade de divida que o sistema financeiro português tem para financiar em 2011??? É melhor nem saberem........"
Sei e parem com a desculpa de 2008!
PC,
Um dia peço-lhe que me explique a diferença ente Economia e Finanças. Certamente que irei ficar esclarecido......
Karocha,
Não usei 2008 como desculpa. Apenas disse que foi mais uma "acha na fogueira". É ver o que se passa pelo sector financeiro por esse mundo fora.
E se sabe o volume de divida que vence em 2011 e que aquela que se venceu este ano está a ser refinanciada em financiamentos de curto prazo (Repo) no BCE, não pode estar muito descansada com um possível chumbo do orçamento..... por mais que este Governo merece-se um chuto no cú para bem longe....
Quem está totalmente endividado e dependente dos credores não tem margem de manobra.......
Caro Ze Rui,
Lendo a sua opiniao realista fico com o sentimento que nem tudo esta assim tao mal em Portugal. O BCE ainda nos empresta dinheiro. Para mais TGV, terceira travessia do Tejo, auto-estradas, aeroportos, etc.
Na sua opiniao, o BCE ira deixar de nos emprestar dinheiro se o OE for chumbado?
Ou sera que ja batemos no fundo e so nao o sabemos porque ha muita divida ocultada?
Mal por mal, prefiro so do que mal acompanhado...
Caríssimo J. Gonçalves, excelente!!
Um bem haja para si;
Caro Nuno Oliveira,
Não sei (nei o Constâncio que anda por lá) o que o BCE irá fazer, mas sei que financeiramente a situação é insustentável. Ou os mercados (que não acredito serem racionais, mas são o que são e nós estamos hiper dependentes deles) regularizam a o crédito volta a fluir para a nossa economia e o ajuste ao excesso de divida será feito de um modo controlado (ou seja empobrecemos todos, mas não de um modo abrupto com todos os custos inerentes), ou então o crédito não vem e ficamos dependentes do BCE eternamente (alguem acredita nisto?? Um dia fecha a torneira e seremos a Lehman Brothers dos Soberanos).
Alguem fica contente com esta situação? É como termos uma granada na mão......pode rebentar a qualquer momento.
Eu partilho com a generalidade dos comentadores (e com o autor) deste blogue a "furia" e a "náusea" perante este desgoverno. Tb me apetece dizer basta!!
Mas económicamente é muito perigoso....estamos á beira do abismo..... Quando o mundo da finança fecha a torneira, não há economia que sobreviva..... quer o amigo PC, goste ou não....
Podemos fechar os olhos à realidade....mas ela não desaparece.....
Caro Ze Rui,
Ao aprovar o OE agora adia e piora a situacao portuguesa.
Ou acha que algo que o Socrates fizer agora srra diferente do que fez ate agora?
Se ja nem o Teixeira dos Santos parece ser serio como espera que resolvam desta o que nunca quiseram resolver?
Por alguma razao o Campos e Cunha abandonou o governo...
E demasiada ingenuidade pensarmos que e desta vez que o Socrates quer mesmo resolver o problema. Mais ingenuidade ainda sera pensar que, mesmo que quisesse, o consguiria fazer...
Nuno,
O facto de não ter a ingenuidade de acreditar que esta cambada tenha capacidade para fazer algo diferente do que fez até agora, não me faz querer saltar para o abismo........
Caro Ze Rui,
Se nos ja estavamos de tanga quando o Durao tomou posse, como pode acreditar que ainda nao estamos no abismo?
So falta mesmo e oficializar. Assim que se acabar com a desorcamentacao... fica oficial...
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