10.10.10

A "RESPONSABILIDADE"


De repente, apareceu no léxico da língua de pau nacional a palavra "responsabilidade". Quem nunca cá tivesse estado nos últimos, vamos lá, dez anos, poderia julgar que estivemos entregues a irresponsáveis e que, finalmente, meia dúzia de prosélitos, prenhes de "sentido de Estado" e de gravitas, desceram à Terra (Marcelo já tinha descido previamente como os rapazes e as raparigas dos "segredos" da Júlia Pinheiro) para distribuir, com método e equanimidade, a dita cuja. E, para estes prosélitos, o que significa "responsabilidade"? "Responsabilidade" é, por esta ordem, deixar passar um orçamento que só de conhece da boca do "responsável" Sócrates (o orçamento é uma espécie de décimo primeiro estádio do euro 2004, um verdadeiro "desígnio nacional"), fazer de conta que não existe uma coisa "irresponsável" chamada PSD e transformar as eleições presidenciais num amuleto para o acima referido "responsável" Sócrates continuar a distribuir "responsabilidade" pelo país por mais tempo. Isto tudo porque o lugar - em que todos estes novos e velhos teóricos da "responsabilidade" têm responsabilidade pelo estado a que o lugar chegou - deve parecer um país aos olhos dos seus prestamistas, nem que seja a engolir "queijos limianos" para ficar bem na fotografia. Neste contexto de "responsabilidade", o mais natural e sábio é que Sócrates não apareça ou fale até à completa edificação do seu "estádio", o orçamento. Aqueles que, adequadamente e a tempo, perceberam a natureza do homem, são os mesmos que, atento o tal "desígnio nacional", o sustentam. Ele pode permanecer inerme a rir-se deles e de nós. Passos Coelho, faça o que fizer, está condenado para todo o sempre a ser um "irresponsável" nem que seja por ter ousado perguntar se, independentemente do "estádio/orçamento", não custará mais manter o "empreiteiro". Foi este argumento da "responsabilidade" que levou Sócrates à maioria absoluta de 2005 praticamente sem se mexer. É com ele, o argumento, na boca de outros supostamente insuspeitos que Sócrates conta para ir ficando, como sempre afirmei que poderá ficar até ao final da legislatura. Carrilho dizia na sexta-feira que a democracia não vive de consensos. Vive da diferença. Mas afirmar isto, com clareza e sem ambiguidades oportunistas, é correr o risco da "irresponsabilidade" e significa perturbar a instalada "comissão de honra de apoio a Sócrates" que se extende patrioticamente de Lisboa a Bruxelas como num concurso de empadões para o "guiness". Nem os melhores espíritos escapam a esta timorata conclusão. Vasco Pulido Valente, ontem, verberava o regime que, na prática, é esta "comissão de honra" mais Sócrates. Hoje já acha que, em nome da "responsabilidade", o regime de Sócrates deve ser salvo através do desconhecido orçamento. Que saudades de umas férias, sem bilhete de volta, em Marrocos. O original.

Adenda: A título ilustrativo, têm aqui um "pormenor" do "estádio/orçamento" (porque depois há mais orçamentos e mais orçamentos por causa do "estádio"). Talvez umas três cadeiras da bancada lateral. E a Helena Matos, que é uma pessoa "normal", escreve nos jornais e vai às televisões, também pergunta se o famoso orçamento tem poderes taumatúrgicos. Ou o Moita de Deus, um dos "heróis" do 5 de Outubro de 2010 e pessoa igualmente frequentável, que acha graça ver «o país pensante a pedir que a oposição abdique de fazer oposição por causa do estado das finanças públicas.»

27 comentários:

Henrique Pereira dos Santos disse...

O seu post, parece-me, tem um equívoco muito comum por estes dias: a ideia de que chumbar o orçamento é despedir Sócrates. Ainda não percebi o fundamento dessa ideia.
henrique pereira dos santos

João Gonçalves disse...

Não, não é despedir o dito cujo. É tomar uma posição política porque é disso que se trata. Aliás, repito no post o que ando sempre a dizer - dificilmente o dito não terminará a legislatura. Não lhe faltam "apoios".

Anónimo disse...

Como já por diversas vezes afirmei, quando se pensa ter atingido o ponto mais baixo e não ser possível coisas piores eis senão que elas se manifestam.
Vem isto a propósito do que se soube agora sobre a total desvergonha de serviços do Estado no que concerne às despesas sumptuárias em tempo de crise ao que acresce a posição de VPV citada no post.
Apetece perguntar: Também tu, Vasco?

Zé Rui disse...

Para todos aqueles que não percebem o que VPV ou JPP têm vindo a alertar lembrem-se de Clinton:

"It's the economy, stupid"

(não ofendendo ninguém, naturalmente)

O tempo da politica (politiquice no caso português) já acabou e produziu os tristes resultados que temos. Agora é a economia que varre tudo e mete esta tropa fandanga na ordem.....

A economia de quem tem dinheiro que olham para este triste canto e pensam: "emprestar dinheiro a esta malta???"

Chumbem o orçamento e preparem-se para a tormenta que ai vem..... ninguém nos empresta 1 tusto!!!

Minguem reparou ainda que quase há um ano que ninguém (literalmente) empresta dinheiro ao sector bancário português, com excepção do BCE?? Acham que isto é algo colateral?

Infelizmente, e por mais que custe, estamos de mão estendida perante a Europa....a posição em que Sócrates e companhia nos meteram......

E quando se esta dependente de um parto de lentilhas não podemos pensar em muito mais que assegurar o caldo do dia.....

E a ideia de sermos um protectorado eterno da UE até não é má....... evitávamos mais sarilhos futuros.

antónio chupado disse...

Estou confuso.

Diz o sr. Henrique P. Santos que, se o orçamento for chumbado (pena é que não seja o socialista que veste Armani a levar uns bons chumbos no rabo), o pavão de S. Bento não é despedido; de facto, assim é.

Mas então não foi o agente que desgraçou o país, no dizer de Medina Carreira, que afirmou ir embora (oxalá fosse para bem longe, mas ... não temos essa sorte!) se o orçamento não 'passasse' fazia as 'malas'?

Afinal é pior o orçamento ser chumbado, o fmi 'entrar' adentro deste rectângulo mal acabado, haver novas eleições, não sermos penalizados com as vergonhosas medidas de austeridade, a despesa do Estado não crescer dia a dia, os boys e esbirros do pavão não continuarem a chupar e mamar ou, pelo contrário, limpar de vez com a tralha que atrofia e empobrece o país, isto é, correr com o consulado socretino?

Afinal, de que, de quê e de quem temos medo?

antónio chupado

Karocha disse...

Devia ser chumbado e, ninguém emprestar um chavo.
Anda aí muito dinheiro, nas mãos de muita gente!
É só ler "O António Maria"

Anónimo disse...

Alternativa:
(num país transformado numa grande empresa de alterne ao nível da finança/governo)
a) 'Deixar' passar o OE, com uma declaração, que além de explicativa, afirme outra:
A moção de censura ao governo, no dia seguinte.
Ver-se sem OE aprovado, deve ser neste momento o que mais interessa ao licenciado da Independente.
Ver-se livre disto.
b) Oportunidade para a 4ª República:
Eleições legislativas, após queda do governo, dentro de dois meses.
Li hoje, que basta um processo administrativo, independentemente de revisão da CRP (Sampaio, apesar dele mesmo).
E eu acrescentaria: novo governo, duas semanas após as eleições.
Quanto aos 'pais' da CRP, batatas.
A oportunidade do PR.
E do País.
PS: lê-se o «Aqui» acima e dá para entender: incompetência, desleixo,irresponsabilidade...
JB

Anónimo disse...

Tal como muitos também eu testemunhei (através de contactos profissionais) ao longo dos últimos quinze anos o crescimento inusitado de uma camada da população que ia ostentando considerável riqueza.
Como se sabe agora (e os mais cépticos já suspeitávamos) houve um verdadeiro assalto aos contribuintes (actuais e futuros) e fez-se uma infâme tranferência de recursos beneficiando boys do PS, cavaquistas do PSD, banqueiros, advogados dos grandes escritórios e empresários do regime. E hoje, com receio que não estejamos dispostos a pagar a conta, aparecem todos a anunciar o apocalipse. Por mim, acabou-se a mama.

Anónimo disse...

Chumbar o OE significa: a) continuar com Sócrates até ao Verão de 2011; b) ter um novo OE em Novembro de 2011. As duas coisas são suportáveis num quadro de cessação de pagamentos por parte do Estado? Duvida o João Gonçalves que um OE chumbado teria como consequência a imediata cessação do crédito externo? Sem esse crédito, como é que o Estado paga aos funcionários públicos e pensionistas? À segurança social? Às Forças Armadas? Ao SNS? Etc. Admitindo que a situação fosse "resolvida" in extremis por apoio externo de emergência, quantos funcionários do Estado, professores, médicos, polícias, aguentavam 15 (quinze) dias sem salário? Aguentava V., JG, receber o vencimento de Novembro a 15 de Dezembro? É disto que estamos a falar. E é com isto que o líder do PSD anda a brincar como um miúdo a medir pilas: «A minha é maior que a tua.» Haja juízo!

Anónimo disse...

O Zé Rui está enganado. Economia não é isto... Economia é orientar os recursos que temos para optimixar resultados.

O que tem sido feito é desbaratar recursos que não temos em resultados de qualidade pior que duvidosa...

A questão do financiamento é uma máscara para se continuar nesta "vidinha". A economia só voltará com um choque como os países do leste levaram nos anos 90. E olhem como estão agora a República Checa, a Polónia ou a Eslovénia. A Hungria só não o está porque também teve o seu "dito cujo" (este era mais honesto que o nosso, chegou a dizer que estava a mentir ao povo).

Portanto, "orça-mente", não!

PC

Mani Pulite disse...

PASSADOS 4 DIAS O OE 2011 VAI SER APRESENTADO.ATÉ AGORA TUDO FOI FEITO PARA PARTIR O PSD E OBRIGÁ-LO A PASSAR UM CHEQUE EM BRANCO A SÓCRATES E RESPONSABILIZAR-SE PELAS MEDIDAS IMPOPULARES DO NOVO OE.O PSD NÃO CEDEU E MUITO BEM.A PARTIR DE 15 DE OUTUBRO VAI-SE SÓ DISCUTIR AQUILO QUE NÃO INTERESSA A SÓCRATES E À CAMARILHA.O CONTEÚDO DO PRÓPRIO OE.É NESSE MOMENTO QUE O VERDADEIRO JOGO COMEÇA.SÓ DEPOIS DE VISTO E MUITO ANALISADO INTERNA E EXTERNAMENTE SE SABERÁ QUAL A MELHOR SOLUÇÃO PARA PORTUGAL E OS PORTUGUESES,VIABILIZAR OU NÃO O QUE SERÁ SEMPRE UM MAU ORÇAMENTO.QUANTO AOS BLUFFS DE SÓCRATES DEIXEM-NO BLUFFAR À VONTADE E LEIAM COM ATENÇÃO O QUE DIZ A CONSTITUIÇÃO QUANTO À DEMISSÃO DE UM GOVERNO E A EXONERAÇÃO DE UM PRIMEIRO MINISTRO.

Nuno Oliveira disse...

Caro Antonio Chupado,

Nao somos nos que temos medo. Sao alguns poderes bem instalados que nos tentam incutir esse sentimento de medo. E a maioria do povo "sabio" vai na conversa!

Mas o que me mete medo e o que vejo que iria substituir o que ja esta no poleiro...

Ha uns tempos li um artigo do VPV que, de tao obvio, passa despercebido a maioria das pessoas:

Os politicos nao sao mais do que um retrato do povo!

Conclusao: so no dia em que mudar a mentalidade da generalidade do povo e que poderemos aspirar a politicos diferentes...

Anónimo disse...

Eu cá tenho medo de ser governado por PPC e sus muchachos é que a emenda pode ser pior que o soneto

Garganta Funda... disse...

Despedir o Sr.Sócrates, por gestão danosa, indecente e má figura, é o que se impõe a uma sociedade que se quer decente e civilizada.

Continuar a contemporizar com a cretinice; com as mentiras; com as trafulhices; com a destruição do país, só por causa dum «imbroglio instituicional» que devia ter sido previsto há muito tempo, é uma posição moralmente inqualificável.

Há que pôr um ponto final no maior embuste politico dos últimos trinta anos e que começou com uma grande «fraude» eleitoral no tempo do Presidente que dizia que «havia mais vida para além do deficit».

E agora?, Sr. Presidente Cavaco, Sr. Prof. Marcello; Srs. Comentadores Avençados deste Regime Sucialista; Srs. Banqueiros e Luminárias da Economia,etc,. Onde é que está a «boa moeda» e a «má moeda»??????

Zé Rui disse...

Sábias palavras do Prof. Marcelo..........

Anónimo disse...

Já há muito que desconfiava que as nossas "elites" eram pobres, muito pobres mas confesso que conseguiram ultrapassar as piores expectativas.
Tacticismo puro...preocupação com o umbigo...até o PR vai ao ponto de apelar à dissidência.

Grande parte da entourage de Passos Coelho levanta-me as mais legítimas dúvidas mas Passos Coelho, pelo que fez e disse no último mês, é seguramente mais sério que os pachecos e manuelas desta vida.

Zé Rui disse...

Referia-me ao problema económico que temos(que é naturalmente consequência de anos de incúria e má gestão e do tsunami financeiro de 2008) pela frente e não a qualquer definição de um livreco de Samuelson......

Nem sou um grande entusiasta de Marcelo Rebelo de Sousa, mas a discrição de hoje das consequências do chumbo do orçamento foi exemplar.

Repito: nenhum banco português se financia fora do Banco Central. Nenhuma empresa portuguesa (das maiores) consegue crédito no mercado Europeu de Divida. Ninguém confia em nós.

Uma crise politica agora mandava-nos inevitavelmente para uma situação de default iminente.....

Esqueçam a fase do wishful thinking....a realidade é o que é....e não o que gostaríamos que fosse....

Alguém faz ideia da quantidade de divida que o sistema financeiro português tem para financiar em 2011??? É melhor nem saberem........

Para os mais distraídos, lembrem-se que as maiores crises económicas começam com o colapso do sistema financeiro...e o nosso está à beira.....

M. Abrantes disse...

O PSD vai, obviamente, deixar passar o OE. O tabu serve apenas para fazer peito frente ao inútil e decadente partido do governo. Tudo parece resumir-se a politiquice inútil.

Anónimo disse...

Ora bem, Zé Rui, temos mais um tudólogo que mete os pés pelas mãos e confunde economia com finanças... Voilá! Fica-lhe bem a admiração pelo tudólogo Marcelo.

A propósito, o Marcelo está cada vez está mais desonesto e interesseiro. Ultimamente até está um republicano de 1ª linha. Deve estar a pensar em 2016...

PC

Karocha disse...

Zé Rui

"Alguém faz ideia da quantidade de divida que o sistema financeiro português tem para financiar em 2011??? É melhor nem saberem........"

Sei e parem com a desculpa de 2008!

Zé Rui disse...

PC,

Um dia peço-lhe que me explique a diferença ente Economia e Finanças. Certamente que irei ficar esclarecido......

Karocha,

Não usei 2008 como desculpa. Apenas disse que foi mais uma "acha na fogueira". É ver o que se passa pelo sector financeiro por esse mundo fora.

E se sabe o volume de divida que vence em 2011 e que aquela que se venceu este ano está a ser refinanciada em financiamentos de curto prazo (Repo) no BCE, não pode estar muito descansada com um possível chumbo do orçamento..... por mais que este Governo merece-se um chuto no cú para bem longe....

Quem está totalmente endividado e dependente dos credores não tem margem de manobra.......

Nuno Oliveira disse...

Caro Ze Rui,
Lendo a sua opiniao realista fico com o sentimento que nem tudo esta assim tao mal em Portugal. O BCE ainda nos empresta dinheiro. Para mais TGV, terceira travessia do Tejo, auto-estradas, aeroportos, etc.
Na sua opiniao, o BCE ira deixar de nos emprestar dinheiro se o OE for chumbado?
Ou sera que ja batemos no fundo e so nao o sabemos porque ha muita divida ocultada?

Mal por mal, prefiro so do que mal acompanhado...

Justiniano disse...

Caríssimo J. Gonçalves, excelente!!
Um bem haja para si;

Zé Rui disse...

Caro Nuno Oliveira,

Não sei (nei o Constâncio que anda por lá) o que o BCE irá fazer, mas sei que financeiramente a situação é insustentável. Ou os mercados (que não acredito serem racionais, mas são o que são e nós estamos hiper dependentes deles) regularizam a o crédito volta a fluir para a nossa economia e o ajuste ao excesso de divida será feito de um modo controlado (ou seja empobrecemos todos, mas não de um modo abrupto com todos os custos inerentes), ou então o crédito não vem e ficamos dependentes do BCE eternamente (alguem acredita nisto?? Um dia fecha a torneira e seremos a Lehman Brothers dos Soberanos).

Alguem fica contente com esta situação? É como termos uma granada na mão......pode rebentar a qualquer momento.

Eu partilho com a generalidade dos comentadores (e com o autor) deste blogue a "furia" e a "náusea" perante este desgoverno. Tb me apetece dizer basta!!

Mas económicamente é muito perigoso....estamos á beira do abismo..... Quando o mundo da finança fecha a torneira, não há economia que sobreviva..... quer o amigo PC, goste ou não....

Podemos fechar os olhos à realidade....mas ela não desaparece.....

Nuno Oliveira disse...

Caro Ze Rui,

Ao aprovar o OE agora adia e piora a situacao portuguesa.

Ou acha que algo que o Socrates fizer agora srra diferente do que fez ate agora?

Se ja nem o Teixeira dos Santos parece ser serio como espera que resolvam desta o que nunca quiseram resolver?

Por alguma razao o Campos e Cunha abandonou o governo...

E demasiada ingenuidade pensarmos que e desta vez que o Socrates quer mesmo resolver o problema. Mais ingenuidade ainda sera pensar que, mesmo que quisesse, o consguiria fazer...

Zé Rui disse...

Nuno,

O facto de não ter a ingenuidade de acreditar que esta cambada tenha capacidade para fazer algo diferente do que fez até agora, não me faz querer saltar para o abismo........

Nuno Oliveira disse...

Caro Ze Rui,

Se nos ja estavamos de tanga quando o Durao tomou posse, como pode acreditar que ainda nao estamos no abismo?
So falta mesmo e oficializar. Assim que se acabar com a desorcamentacao... fica oficial...