18.10.06

CRIME E CASTIGO

Não gosto de falar de mim e muito menos do que faço "na vida". Todavia, no caso em apreço, já fiz e já deixei de fazer há mais de cinco anos. Depois disto, e sendo interpelado pela Fernanda Câncio nos comentários a este post, respondi nos termos que lá se encontram. De seguida, a Fernanda foi à "história"e relembrou casos mais ou menos conhecidos de violência policial. Só umas observações. Os casos que a Fernanda acompanhou jornalisticamente, ou acontecerem antes da criação da IGAI, ou foram seus contemporâneos. Até ao ministro Figueiredo Lopes, incluído, - isto é, com Alberto Costa, Jorge Coelho, vagamente Fernando Gomes e Severiano Teixeira - a IGAI teve todo o apoio político e institucional para reverter, com êxito, os padrões comportamentais dos agentes policiais e de, quando tal se justificava, os perseguir disciplinarmente ou encaminhar para a entidade judiciária competente. Como ninguém é perfeito, de vez em quando as coisas correm mal. E correm mal quer para os cidadãos, quer para os agentes. Manusear uma arma de fogo não é exactamente uma brincadeira. Não o é quando, em vez de "atirar" aos pneus, o agente "atira" ao vidro. E não o é quando um agente aborda um cidadão e ele responde-lhe, como aconteceu o ano passado nos arredores de Lisboa, à bala. Para ambos os casos, existem investigações e a lei. Para agentes da autoridade e cidadãos, há - partindo do princípio virtual que somos um país a sério - crime e castigo. O que não pode haver é vítimas menos vítimas do que as outras. Um homem morto é sempre um homem morto, independentemente de ter roubado um carro ou de ter perseguido o carro roubado. O "deixá-los fugir" do actual IGAI pode ser uma cacha "gira" se for dita por mim ou por si, Fernanda. Dita por um magistrado nas funções que Clemente Lima ocupa, já não tem tanta graça.

3 comentários:

f. disse...

um homem morto é sempre um homem morto -- essa é indiscutível. continuo é sem perceber a correlação e essa ideia de que umas vítimas são 'menores' que as outras (quem terá dito tal coisa?).
quanto aos exemplos que dei,são na sua maioria, como diz o joão, anteriores à formação da igai ou ocorreram no seu início. não porque não tenham ocorrido outros, semelhantes ou aproximados, após 1996, mas porque eu, para dizer a verdade, me fartei de escrever sobre o assunto. é cansativo estar sempre a investigar o mesmo tipo de coisas, e eu, apesar do que parece (e do que é a tal propaganda das 'causas'), até gosto de variar.
além disso, quis crer que uma série de alterações entretanto praticadas, nomeadamente na psp (passagem de chefia militar para civil, por ex, legalização das associações sindicais, para além da existência da igai, que pela primeira vez assegurava uma investigação disciplinar externa às corporações) poderiam garantr uma mudança na situação que as minhas reportagens haviam diagnosticado.
a minha noção, hoje, é que 10 anos depois demasiadas coisas me parecem na mesma, demasiadas histórias me soam ao costume.e, meu caro joão, sempre tão descrente nas instituições, não posso deixar de anotar que parece atribuir às investigações (judiciais?) um crédito inusitado.

Anónimo disse...

...fiquei perplexa: "deixá-los fugir"!!! Se assim é, e a norma a adoptar for essa, pois então meninos larápios, façam o favor de IR ROUBAR OS CARROS DOS MINISTROS e dos PRESIDENTES DAS INSTITUIÇÕES!! Deixem os cidadãos com aquilo que lhes é tão útil e tanto trabalho deu para os pagar!!!

Ora esta...."deixá-los fugir"!!!!

Anónimo disse...

Foi uma força de expressão! Não podia dizer "é deixá-los ir" porque isso podia ser mal interpretado.