14.10.06

PENTIMENTO

O Jorge Ferreira, que possui no seu blog uma memorabilia indispensável, recordou que passavam ontem vinte e seis anos sobre a formação do "movimento de acção reformadora" - uma sequela do "movimento reformador" de 79, dividido nessa altura entre o apoio a Soares Carneiro e a Ramalho Eanes - especificamente destinado a integrar a comissão de recandidatura do General. Os nossos juvenis vinte anos permitiam estas coisas. O Jorge, como lhe competia, andava por Soares Carneiro e nós - eu, a malograda Ana Gonçalves que seria mais tarde deputada do PRD, e os "seniores" Adão e Silva e Medeiros Ferreira - por Eanes. Na noite da morte de Sá Carneiro e de Adelino Amaro da Costa, na sede da CNARPE, redigi, em nome do dito "movimento", um comunicado sobre este acontecimento e, no dia seguinte, meio atordoados, estivemos com o Jorge no barzinho da mesma CNARPE, sem complexos ou afasias, uma vez que campanha tinha terminado. No domingo subsequente, Eanes era reeleito. O resto da história é conhecido. François Mitterrand, no livro "Memórias Interrompidas", quando questionado sobre a sua vitória em 1981, disse ao jornalista que não era aos sessenta e cinco anos que se começava a sonhar, outro tropismo inteligente do homem. Todavia, Mitterrand fez da sua presidência um monumento à política: contraditório, aristocrático e definitivo, para quem aprecia e para quem não aprecia. Nós, na ingenuidade dos nossos vinte anos, também imaginávamos que podíamos sonhar com a política, com um país diferente e com grandes "políticos". Quase trinta anos depois, terá valido a pena?

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