A perda de tempo com farsantes e com personagens menores desvia-nos, por vezes, de pessoas a quem devíamos prestar mais atenção. Se não erro, à excepção de José Manuel Fernandes no Público, nenhum outro hebdomadário - nem sequer o "sempre-em-pé" Actual do Expresso, já que as páginas ditas "culturais" do Sol não existem - se lembrou dos cem anos de Hannah Arendt. Como escreve JMF, Arendt passou a vida a tentar perceber: os outros, o seu tempo e, nessa notável "reportagem" do julgamento de Eichmann em Jerusalém, "a banalidade do mal". Judia, emigrada nos EUA aquando da emergência totalitária na Europa e na URSS, foi aluna de Heidegger e de Karl Jaspers, tendo mantido com o primeiro uma relação ambígua e afectiva para além das afinidades intelectuais e das discordâncias ideológicas. Nas nossas miseráveis "feiras do livro", costuma aparecer a um preço insignificante um livrinho de Arendt que se lê num fôlego. Homens em tempos sombrios (Relógio d' Água) constitui um interessante "fresco" sobre figuras tão díspares como Benjamin, Brecht, Broch, Jaspers, Karen Blixen ou Rosa Luxemburgo. A passagem que se segue, parecendo aparentemente "datada", mantém toda a actualidade, até mesmo para nós.
"Se a função do domínio público é iluminar os assuntos dos homens, proporcionando um espaço de aparências onde eles podem mostrar, em palavras e actos, para o melhor e o pior, quem são e o que sabem fazer, então as trevas chegam quando esta luz é apagada pelas "faltas de credibilidade" e pelo "governo invisível", pelo discurso que não revela aquilo que é, preferindo escondê-lo debaixo do tapete, pelas exortações, morais ou outras, que a pretexto de defender velhas verdades degradam toda a verdade, convertendo-a numa trivialidade sem sentido." (1968)
5 comentários:
Caro JG,
Porque não escreve mais frequentemente sobre temas como este?
Porque não expressa essencialmente a sua opinião e algum saber sobre questões deste género...?
Constituiria tão mais interessante leitura!
Porque perde tanto tempo,
e gasta tanto latim
(e aflige nos seus moody desaires)
com assuntos comezinhos,
da agenda hebdomadaire nacional
mas que não têm qualquer interesse para lá do já reportado (e desgastado) pela imprensa de estimação?!
Pense nisso.
Escreve muito bem e até sabe e pensa algumas outras coisas que deveria expôr e explanar por escrito...
Mais frequentemente.
(my two cents)
Não me bastava o Pulido Valente no Público, ainda tenho de apanhar com uma cópiazita na bloga. Santa Paciência...
Parabéns pelo tema. Talvez Arendt seja a "pensadora" do séc. XX. Teve a coragem e o "estômago" de pensar os fenómenos mais terríveis da história da humanidade, os fenómenos que desafiaram (e desafiam) o próprio pensamento. Se me permite deixo aqui um pequeno excerto de Eichmann in Jerusalem:
"He was not stupid. It was sheer thoughtlessness –something by no means identical with stupidity –that predisposed him to become one of the greatest criminal of that period. …That such remoteness from reality and such thoughtlessness can wreak more havoc than all the evil instincts taken together which perhaps are inherent in man –that was, in fact, the lesson one could learn in Jerusalem.”
Não será, que também esta passagem aparentemente "datada", mantém toda a actualidade, até mesmo para nós?
Um abraço, e continue!
...eu bem quis comprar livros da Hanna Arendt.......queria....mas as livrarias não existem para nós comprarmos o que queremos, mas antes para venderem o que nos querem IMPINGIR!!!!!
EXCELENTE COMEBTARIO O DAS 11:43PM
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