16.5.10

A DOUTRINA DA IGREJA NÃO É MATÉRIA DE OPINIÃO


«Por que razão se criou a ideia de que o Papa Ratzinger era um terrível "reaccionário"? O catolicismo (como qualquer outro ramo do cristianismo) é uma religião do Livro. Ou seja, assenta num livro: neste caso na Bíblia e, sobretudo, no Novo Testamento. O Novo Testamento tem quatro Evangelhos (Marcos, Mateus, Lucas, João), tem Epístolas (de S. Paulo e outros), tem o que se chama Actos dos Apóstolos e um livro profético, o Apocalipse. Como qualquer livro, o Novo Testamento pode ser - e, de facto, foi - directamente interpretado por qualquer um, sobretudo do século XIX para cá. O estudo da Bíblia, principalmente se vinha de universitários, nem sempre chegou às mesmas conclusões da doutrina oficial da Igreja, coisa muito natural e até, num certo sentido, inevitável. Sempre houve heresias na Igreja, que partiam de leituras diferentes do Livro sagrado. Mas, com o aparecimento do laicismo e do ateísmo militante, a ameaça de fora acabou por se tornar mais perigosa e a resposta de dentro mais rígida e mais turva. Pouco a pouco, os crentes começavam a rejeitar a ortodoxia, pelo menos na sua vida. Em meados do século XX, muita gente, incluindo Ratzinger, pensava seriamente que era preciso um esforço para reaproximar a Igreja do mundo. E dessa ideia nasceu o Concílio Vaticano II, a que Ratzinger, como consultor de bispo de Colónia e já um celebrado "reformista", também assistiu. Só que os trabalhos do Concílio mudaram-no. Em determinada altura, percebeu que a liberdade que exigiam os teólogos do aggiornamento iria, tarde ou cedo, transformar a doutrina da Igreja "em matéria de opinião". Aqui Ratzinger não cedeu e, em aliança com os conservadores, resolveu pôr um limite ao que se devia mudar. Os velhos "reformistas" nunca lhe desculparam esta reviravolta. Mas, defendendo a tradição, ele estava intelectualmente em terreno seguro, porque, sem a tradição ou com uma tradição sob contínua crítica e suspeita, a Igreja ficava visivelmente vulnerável. O que não queria dizer que não se renovasse (como, de resto, se renovou). Queria dizer que a renovação implicava uma coerência com o passado doutrinal e litúrgico e uma distância segura à pressão ideológica de uma modernidade efémera. Ratzinger com toda a clareza (e, evidentemente, a força necessária) conseguiu estabelecer esse equilíbrio. "Reaccionário" não é; é um homem do Concílio sem ilusões.»

Vasco Pulido Valente, Público

2 comentários:

Anónimo disse...

Ao contrário de toda a espécie de pseudo-progressistas libertinos, como frei bento-da-perna-aberta.

Ass.: Besta Imunda

Roberto Ceolin disse...

O Vasco Pulido Valente está a sair-se cá um "teólogo". O dito frei, que de bento não tem nada, bem podia dele tomar umas lições