1.5.08

UM PESADELO CANSADO


«Vou cotejando a crónica dos noticiários e apercebo-me do estado a que chegou o país das "novas oportunidades", do "empreendedorismo", "dos jovens empresários", "das novas empresas" e da "excelência". Um pesadelo cansado, com vincos de exasperação na comissura dos lábios, com funcionários cansados e vigiados, denúncias e processos disciplinares, polícias maltrapilhos e juízes resignados e impotentes entretendo-se em macaquear a habitualidade da justiça e da segurança em que já ninguém acredita. Assim também já esteve Portugal há muito, muito tempo. Sabemos como terminou a aventura da incompetência desses tempos. As "democracias latinas" são as maiores amigas dos ditadores.»

Miguel Castelo-Branco, in Combustões

6 comentários:

Unknown disse...

Nem mais.E a "coisa" vai-se aguentando enquanto se aguentar a prestimosa "Associação de Merceeiros",vulgarmente conhecida por UE.

Anónimo disse...

já gastei todo o vocabulário relacionado com a miséria a que chegou o rectângulo. o PR nada diz. qualquer dia alguém grita. Fuuujaaaam! ficam 11 mil ricos e os politicos

Anónimo disse...

A Lídia Jorge também cotejou a poesia traduzida pelo Vasco Graça Moura, de acordo com as novas regras do acordo ortográfico, e chegou a uma conclusão bem diferente da sua!

Anónimo disse...

«Um pesadelo cansado»
E o pior para vir.
Quando forem iniciados os últimos grandes empreendimentos do regime: TGV Porto, super ponte mar da Palha, super frente ribeirinha (quando não há verbas para reparar o super tapete rolante de Alcântara, avariado há uma década), auto estradas para todos...
O regresso ao passado (triste), da banca rota do fontismo (1892/93),da recusa de novos empréstimos internacionais, da emigração em grande escala para o Brazil.
Hoje, a percentagem do desemprego desceu uma décima. Alguem terá contabilizado os milhares que se ausentaram do país, à procura de trabalho?
Um amigo meu, 40 anos, antigo imigrante (Suiça), frequentador das «novas oportunidades», acaba de se ausentar. Para a Suiça.
Manuela F. Leite, denunciou muito bem a febre construtora deste governo (Expresso de há umas semanas).
Receio que vá ser tarde, muito tarde.
JB

Anónimo disse...

soa tão decadentista. começando nas palavras e acabando no que elas estão ali a dizer.
parece irónico, vindo de onde vem...

Nuno Castelo-Branco disse...

O meu irmão é muito pessimista, mas a distância dá--lhe uma certa vantagem. Vê o que realmente interessa e no nosso país, quando micro-empresários se imolam pelo fogo, isso quer dizer qualquer coisa.
Decorridos trezentos anos desde o fim do crepitar das fogueiras humanas, eis que estas ressurgem, atestando o fracasso de muitas ideias e preconceitos sobre os quais se ergueram vários Estados de coisas. Dramático.