Logo no início do recente Indiana Jones, o reitor da universidade onde o "herói" ensina explica-lhe, melancolicamente, que há um momento na nossa vida em que ela já não nos dá nada e só retira. A frase também serve para o que se lê. Cioran era adepto da releitura. Um livro - dizia ele - só se "adquire" verdadeiramente depois de lido umas cinco ou seis vezes. É o que ando a fazer, em menor escala, com Gore Vidal e os seus ensaios. Falta-nos um Gore Vidal como, apesar de Eduardo Lourenço, sempre nos faltou um Montaigne. O nosso ensaísmo tende a ser chato e palavroso mesmo quando é eloquente. Raramente um autor consegue, em breves e acutilantes parágrafos, dizer o essencial. Lourenço tem frases de tirar o fôlego, longas, com cada palavra pesada e pensada meticulosamente o que, por vezes, nos obriga a lê-las devagar para lhe "saborear" o efeito. Para o fim, António José Saraiva foi-se tornando mais enxuto sem nunca cair na trivialidade ou na irrelevância. Mais do qualquer outro, foi polémico e cruel, embora Lourenço o saiba ser, de uma forma subtil, mesmo quando é "consensual". Joaquim Manuel Magalhães, a milhas o melhor "leitor", sem ademanes, de poesia e de outras realidades, nunca chegou bem a andar no "circuito" costumeiro a que, ainda novos, não cessam tantos de aderir. Depois falta "mundo" e vida - da vivida - aos nossos raros ensaístas ou candidatos a tal. Apesar do cosmopolitismo retórico de muitos, verdadeiramente nunca passaram de "ratos de biblioteca". Há demasiada "academia" mesmo nos não académicos. Vidal passou a vida a limpo nos seus ensaios e nas suas memórias. Ler umas eventuais memórias de Lourenço ou de outro qualquer seria, quase inevitavelmente, um belíssimo exercício literário sem "fibra" ou "músculo" a sustentá-lo. A propósito do que quer que seja, o ensaísmo tal como a literatura "a sério", servem, nas palavras de Vidal, para "desmascarar a orgulhosa demência da sociedade". Por isso, cada vez mais só releio para atenuar a usura do tempo que jamais me trará nada nem ninguém de volta. A Indiana Jones, vejam lá, trouxe-lhe um filho como na história da carochinha onde, contra a "filosofia" inicial do reitor do filme, afinal tudo acaba bem. Que terrível banalidade.
2 comentários:
os latinos são palavrosos: fidel, chavez.os portugueses ao fim de 5 min. ninguém mais os ouve.fiz trabalhos lidos em 5 min. e nem assim conseguia ser ouvido com atenção, apesar do tom leve e divertido. o ritmo hoje é galopante.os escritores de hoje são pesados, com frases longas. prefiro outras leituras.neste momento leio Fédorowski; le roman de la Russie insolite. temos índios a mais para o meu gosto
Há uma coisa que vai acabar mal:
Filme no Oeiras, CC.
Antes do filme, 15 minutos de banalidades, entre publicidade e próximos filmes.
O que poderia passar em tres/quatro minutos, para todos.
Portanto e como o estimado público já se apercebeu, metade vai entrando ao longo do aperitivo.
Aqui está um método, mais um, de levar esta gente a cumprir e respeitar horários.
Boa dica para o futuro.
A bem da disciplina.
JB
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