Vitorino Magalhães Godinho concedeu uma entrevista ao Expresso. Lamento ler nela - em papel porque não tenho acesso à totalidade, na net - não tanto as palavras do historiador mas a "leitura" das palavras de Magalhães Godinho conforme foi feita pelos entrevistadores. Godinho está à beira dos noventa com a mesma lucidez dos trinta ou dos quarenta. É discutível como toda a gente que pensa deve ser. Pena que os mais novos não possam - ou não queiram - usufruir do seu ensino, traduzido, felizmente, em livros de entre os quais se reeditou "A expansão quatrocentista portuguesa" (Dom Quixote). A nossa pobre "classe política", se lesse um livrinho seu intitulado " A Estrutura da Antiga Sociedade Portuguesa" (Arcádia), não seria certamente tão despropositada e vazia. Ninguém, aliás, devia ser "admitido" na política sem saber história. «Não estamos numa sociedade de pensamento, mas apenas de acumulação de dados», disse Godinho ao Expresso. É nisto que estamos, pastoreados por meros processadores de dados. Nada mais.
4 comentários:
Todos os dias vêm lamentar-se tantos anónimos nas nossas caixas de comentários. Porquê? Porque pensamos assim e não assado, pluralidade não praticada, denúncia não consentida, protesto e insatisfação impensáveis.
Está bem resumido o timbre dos que nos apascentam.
PALAVROSSAVRVS REX
Nem mais, João. Tive o prazer de lera entrevista na íntegra e denota aquilo a que antes se chamava um "homem superior", na melhor - e única - acepção da palavra. É evidente que discordo dele em muitos aspectos e o que se torna mais aflitivo, é a cegueira diante da nova realidade das coisas. VMG fala e revolta-se contra "a falta de ideais, de princípios e projectos". Mas deixo-lhe apenas algumas questões, entre muitas outras: no afã de arrasar todo o legado - em termos sociais, políticos, económicos e até civilizacionais -, não terá caído na armadilha tão fácil do anacronismo? Que gerações cultas criaram? Que escola construíram? Qual o conceito de hierarquia aceitável e necessário?
Não foca qualquer um destes temas. Fica-se por aquilo a que normalmente consideramos como..."antigamente é que era bom"... Era "bom" apesar da censura, dos claros privilégios que usufruiu, da condescendência reverencial que o rodeou. Não apreciei o claro desprezo lido nas entrelinhas, desprezo esse que se cola a nomes de colegas bem conhecidos e considerados. Fica mal. E ficamos por aqui.
* E no entanto, é um homem de grande valor.
vitorino, manuel antunes,pessoa,
a cultura "mais não disse por não saber ler nem escrever e assinou de cruzes canhoto"
Está aqui: http://aeiou.expresso.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=ex.stories/314283
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