Não pertenço ao clube de fãs de Jorge Silva Melo. Nunca fiz vigílias interiores ou exteriores por causa dele (dele, do Cintra ou de outros quaisquer que foram sempre mais "teatro nacional" do que o D. Maria tutelado oficialmente pelo Estado). Todavia há momentos da sua entrevista ao Público de domingo com os quais só posso concordar. "Os centros culturais em velocidade de cruzeiro - Culturgest, Maria Matos, Centro Cultural de Belém... - andam a produzir todos o mesmo espectáculo teatral em que não acredito de todo: a especificidade teatral, a autoria da cena sobre a autoria literária"? Andam. Existe "um certo amadorismo, em copy paste, em espectáculos com pouco mais interesse do que o bolo de aniversário e o cantar dos parabéns" que "atingem, acima de tudo, 50 amigos dos aniversariantes" e que, "à volta disso", tudo o resto "parece franchising"? Existe. "A "festivalização" da Cultura é uma coisa evidente, depois da Cultura nacional" e isso corresponde à criação de um público e à emergência daquela "figura a meu ver tremenda que é o programador, intermediários vindos não sei de que cama que aparecem para dizer às pessoas o que ver"? É. "Desaparece o teatro que me interessa - que é a literatura", "tal como a literatura tem vindo a desaparecer" porque, "numa sociedade dominada pela superficialidade da imagem, nas artes perfomativas, o que está a ser feito é a criação de imagens, acompanhadas de vagos lugares-comuns da filosofia contemporânea" onde "três frases de Agamben, meia de Zizek, duas de Didi-Huberman, mais três notícias de jornal e uma imagem forte e fica o espectáculo feito"? Desaparece. Como escreveu Vasco Pulido Valente noutro contexto, há quase vinte anos, as possibilidades reduzem-se à medida que se roda para o fundo do funil. É mais ou ou menos para aí que tudo - todos - roda.
5 comentários:
Gosto em geral, mas especialmente dos "intermediários vindos não sei de que cama". É que não é uma figura de retórica.
Como não li a entrevista, presumo pelas aspas que a frase é do Silva Melo. Contudo, nessa matéria, quem estiver inocente que atire a primeira pedra.
o turbilhão attasta tudo para o fundo
cada vez gosto mais de ler do que ver teatro
não sou saudosista,
mas isto é uma merda
Didi-Huberman? que tem o Didi-Huberman a ver com zizeks?
Tem uma certa graça que o que nunca Ferro ou outros conseguiram totalmente no tempo de Salazar e dos "centenários" (e isto no tempo da ditadura que tudo controlava, contratava, encenava e controlava), é conseguido agora com o 'pensamento único' (da fufice intelectual, coisa amplamente abrangente) de vacuidade que dirige estes 'agentes', estas comadres, estes irmãos, estas jezabéis-da-koltura (e o seu precioso modinho de vida...). O 'povo', 'os governantes', os 'patronos' (patrocinadores com direito a exibir o emblema da Galp e da BP) passam ao lado das questões dos conteúdos e dos reais objectivos: "...sei lá, e quero lá saber! é cultura, não é?". Os espectadores são hordas corcovadas e de lombos proeminentes como bovinos ou lanígeros da transumância teatral - a dias certos e de estreia. Neste País acrítico-de-tudo, a "cultura" é uma modorra (mais uma) em que se instalam pobres gentes urbanas.
O que era afinal Canavilhas senão uma Jezabel que geria a reles plataforma de subsídios-kolturais para as suas amigalhaças de todos os sexos? Neste perigo ou pecado podem incorrer quaisquer 'ministros' ou secretários de estado.
Ass.: Besta Imunda
...Pois se, em viagem no alpha de Coimbra a Porto a visitar filhota actiz, ao meter conversa com um dos muitos jovens vedetas 'actores' lhe pergunto se estudos tinha / minha filhota até a 'bíblia de Jerusalém haveria por força de ler na antiga escola normal hoje conservatório de teatro no Porto / ao meter com ele conversa dizia / dizia-me ele 'não preciso de estudos que tenho amigos na sic' -- quanto a teatro e espectáculo e a viver artist's life estamos conversados.
Não acha sr dr João Gonçalves? (Compadrios e panelinhas temos demasiadas, meu caro...)
Enviar um comentário