13.8.11

A LUZ SEM NOME



«Poucos como Caravaggio se abeiraram tanto desse encontro com a carne quotidiana. Talvez banal. Mas resgatada pela pintura (e pela vontade).» Só descarto o "leninismo pictórico" de Caravaggio. Prefiro pensar, como ele, que o «melhor remédio para a secura do espírito, é representarmo-nos sempre, perante Deus e os santos, como mendigos.»

7 comentários:

floribundus disse...

recentemente li um artigo sobre artes plásticas onde alguns eram postos em causa por pertencerem à protecçãosoviética, nazi e outras formas de socialismo.

lembrei-me das minhas visitas à igreja de São Luís dos Franceses, perto da praça Navona, para ver Caravaggio. recordei-me que a grande maioria dos artistas não perderam independência pelo facto de trabalharem para reis, Papas, gente rica.

caravaggio é um 'despojado' em todos os sentidos. conheceu demasiado bem a miséria da condição humana e representou-a com mestria.

o lenine é demasiado sinistro para ser associado a este pintor.

alguém o associoua à maricada, mas esse assunto não me interessa.

floribundus disse...

há porcarias na moda como os códigos da Vinci e outras imundicies

receio que pertença ao lixo
Ben Browning; Caravaggio papers

Carlos Vidal disse...

Compreendo, é belíssima a frase de Filipe Neri, que, por acaso ou não (não há acasos, pois não?), vem do último (mais actual?) post que dediquei ao assunto. Um abraço. CV

Blogue de Júlio de Magalhães disse...

Desconheço a abordagem do livro, mas congratulo-me sempre que se publica algo sobre Caravaggio.

Mais do que para ler o Mestre é para se ver. Mas é importante também que se leia.

Por isso, aguardo com curiosidade a edição do livro.

Anónimo disse...

É quase impossível evitar atirar para cima do nosso objecto de estudo, as nossas ânsias e os nossos 'gostos' (manias, ideologias), especialmente se admiramos a pessoa; isso deverá acontecer a todos aqueles (por mais objectivos que sejam...) que estudem algo ou alguém. Mas neste caso é talvez excessivo ensopar Caravaggio de doutrina. O homem viveu numa época em que a vida e a morte estavam constantemente separadas por um fio - sendo que a esperança de vida era reduzidíssima, e por um pequeno corte infectado se podia morrer. Pedintes, putas e putos não faltavam na rua (modelos). A luz real e as rugas nas faces maduras dos homens, dos Santos (assim como as peles lisas dos jovens), para um Mestre da representação, são uma tentação enorme e uma ligítima vaidade: mais do que qualquer depoimento político. Os seus patronos e os 'seus bispos' não se deixaram (todos) repugnar por isso, antes pelo contrário. Deve agradar especialmente a Vidal o facto de Caravaggio ter sido um foragido, um desordeiro e usar (ilegalmente) espada - sendo-lhe atribuídas, em duelos ou não, a morte de vários indivíduos. Até a sua representação do sangue a jorrar de entranhas e pescoços (embora 'cinematograficamente' imperfeita) é significativa da sua vida de andarilho e de fugido à polícia. Os anjinhos, os jogadores, os jovens de Caravaggio têm feições viciosas e por vezes bestiais. Mas o espanto, o temor, o drama, a expressão de fé no rosto de jovens e de velhos apóstolos - representados por Caravaggio - são algo que nenhuma ideologia, teoria, sistema, poderia suscitar nas fuças de um homem. Caravaggio foi sim um extraordinário 'captador' da nossa fragilidade e da nossa efemeridade neste Mundo; a sua representação avassaladora das coisas banais do real - incluídas as pessoas - assim o demonstra.

Ass.: Besta Imunda

Anónimo disse...

Isto é cada cromo?

O Caravaggio quando pintou, Lenine já era vivo?

Carlos Vidal disse...

(O Caravaggio que me interessa neste livro - e que julgo verdadeiro - é exactamente o oposto do descrito por Besta Imunda. Quanto a Lenine, isso foi um post do 5dias. Por isso, "calmex". CV)