21.8.11

«JE SUIS MON OUVRAGE»


O amor é, também, a arte da guerra. Pode intervalar-se Sun Tzu com Choderlos de Laclos e vice-versa que vai praticamente dar ao mesmo. Por um euro, num quiosque de jornais, pode adquirir-se uma tradução das Ligações, do Laclos, que não é boa nem má, vem de Espanha e é distribuída pelo grupo Impresa. Recomendo, em especial, a epistolografia da Madame de Merteuil. Numa das cartas mais interessantes, Mme. de Merteuil traça o retrato definitivo: «je suis mon ouvrage.» Os tradutores não chegaram lá e retiraram, com uma frase espúria, a força da original. De duas cartas, de Valmont a Mme. de Merteuil e da resposta desta.

-«Mais vale ter-me como amigo do que como inimigo. Adeus, Marquesa, até à primeira ocasião.»
-«Não gosto que se acrescentem graças de mau gosto a atitudes deselegantes; e isso não está mais nos meus hábitos que no meu gosto. Quando tenho motivos de queixa de alguém, não o escarneço; faço melhor: vingo-me. Por muito contente que esteja neste momento, não se esqueça de que não seria a primeira vez que se aplaudiria antecipadamente, na esperança de um triunfo que lhe escaparia no próprio momento em que se felicitava. Adeus.»

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