«Em Agosto de 1962, aos 36 anos, morreu Norma Jeane Baker, facto que só é lembrado por ser esse o nome de baptismo da que para o mundo foi Marilyn Monroe. Volvidos 49 anos, esse ícone da beleza foi posto à venda em Buenos Aires. Ou melhor, foi a leilão um filme de Norma Jeane a fazer sexo. Da proverbial beleza pouco resta. É assim a pornografia e não podia ser diferente só por o objecto de prazer onanista ser Marilyn. Ninguém pagou os 350 mil euros pedidos. Porque, diz-se, o filme não entusiasma e, pior, pode ser falso. Mas, por se tratar de pornografia, a autenticidade importa menos do que o carácter quase sacrílego das imagens. Escreveram-se milhões de páginas sobre Marilyn, o seu sofrimento, os seus casamentos, as suas limitações como actriz... mas muito pouco sobre Norma Jeane. Foi isso que disse Ruy Belo quando escreveu: "Mais que chamar-lhe Marilyn/devíamos mas era reservar apenas para ela/o seco sóbrio simples nome de mulher." E foi a mulher que decidiu matar o mito, e morrer com ele, quando percebeu que "todos afinal a utilizavam". O drama dos ‘mitos’ é esse: anulam a nossa humanidade. Mas essa, ao menos essa, devia poder descansar em paz.»
«Marilyn is gone. She has slipped away from us over the edge of the horizon of the last pill. No force from outside, nor any pain, has finally proved stronger than her power to weigh down upon herself. If she has possibly been strangled once, then suffocated again in the life of the orphanage, and lived to be stifled by the studio and choked by the rages of marriage, she has kept in reaction a total control over her life, which is perhaps to say that she chooses to be in control of her death, and out there somewhere in the attractions of that eternity she has heard singing in her ears from childhood, she takes the leap to leave the pain of one deadned soul for the hope of life in another, she says goodbye to that world she conquered and could not use. We will never know if that is how she went. She could as easily have blundered past the last border, blubbering in the last corner of her heart, and no voice she knew to reply.»
Norman Mailer
1 comentário:
Estranho, ou talvez não, apenas uma minoria (nada significativa) do povo americano se debruçou continuadamente a sério sobre Marilyn. Teve de ser (também) este proscrito pela 'picket fenced America', Norman Mailer, a fazer esse exercício. O mesmo Norman que só obteve contrariedades, insultos e marginalização por parte da sociedade que desmontava "como um médico na mesa de autópsias". Mas o objecto do seu estudo - Norma Jean - é apenas um sonho e uma coisa gasosa e saudosa: para uns, motivo para vender recordações, quadros baratos, lixo icónico; para outros, motivo para se cevarem na personagem, no drama humano com valor, e na História - que manifestamente lhes falta; afinal estamos a falar do Novo Mundo. Em outro contexto, com outros gestos, com outros feitos e na Idade Média (em França, por exemplo) Norma Jean poderia muito bem ter sido uma espécie de 'Santa Joana'. Mas para os EUA, a numerosíssima 'santidade' e martirização medievais da Europa nunca esteve ao seu alcance. Os únicos verdadeiros santos dos EUA foram Ford, Rockefeller, Carnegie, etc.
Ass.: Besta Imunda
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