13.6.10

OS SHREKS DA PSEUDO DIREITA

"O dr. Cavaco não tem sido um grande Presidente; nem sequer um bom Presidente. Mas, no fundo, não tem sido um mau Presidente. Na medida em que a Constituição lhe permite, foi fazendo o que pôde, que não era com certeza o que ele pretendia, nem principalmente o que prometeu. De qualquer maneira, hoje, com a candidatura de Manuel Alegre, é a única garantia de sanidade para os próximos cinco anos. Mas, pela primeira vez, parece que a direita se agita para apresentar um segundo candidato, o que pode levar Cavaco com uma certa facilidade a uma segunda volta perigosa e humilhante (em 2006 só ganhou por 50,5 por cento do voto) ou mesmo, com azar, a uma inesperada derrota. Ninguém sabe o resultado da demagogia de Alegre num país miserável e desesperado.Quem e porquê resolveu correr esse risco? De acordo com o DN, a Igreja Católica e alguns conservadores sem identificação precisa. Parece que esta hipótese ou, se preferirem, esta
suspeita, se funda num "guião" anónimo, que por aí circula e "crucifica" o Presidente por causa da lei do casamento homossexual (que ele não vetou). Esse "guião" é um "guião" para homilias, que aparentemente já começaram e se espalham agora por Portugal inteiro. O protesto não é só contra a passividade de Cavaco, é também contra a justificação que ele deu para essa passividade - a crise económica - que "ofende a inteligência e a dignidade de um povo". Os promotores do movimento (se movimento existe) acham que antes da crise económica vem a "crise de valores" e que o dr. Cavaco falhou no principal. Esta excitação não espanta. O cardeal patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, insinuou há semanas que o Presidente não seria reeleito. O dr. Bagão Félix também tornou pública a sua infelicidade de católico e acrescentou que era muito "saudável para a democracia" uma "candidatura do centro-direita" (como se a de Cavaco não pertencesse à espécie). E anteontem o dr. Santana Lopes, sempre esse homem fatal, trouxe o seu precioso apoio ao exercício. Manifestamente, as lições da TVI e do aborto não ensinaram nada ao cardeal Policarpo. Quando a Igreja, ameaçando com o seu o presumível peso eleitoral, se decide ingerir na política prática, acaba inevitavelmente por perder e por se perder. Quer de facto o sr. D. José medir pelo voto a influência da Igreja em Portugal? Pense bem."

Vasco Pulido Valente, Publico (links e sublinhados da minha responsabilidade)
Adenda (bem vista, de um leitor): "O sr. cardeal não criticou o autor da lei (Sócrates), não criticou os "aprovadores" da lei (esquerda unida folclórica), mas veio criticar o promulgador da lei. Eu sei que não sou muito inteligente, mas a verdade é que não consigo mesmo perceber a coerência do sr. cardeal. "

13 comentários:

floribundus disse...

se condicionarem o PR
vão ter uma vida alegre

com muitas coroas e flores

Anónimo disse...

Não posso perceber estes tipos da referida "direita católica". Tal como eles, não aprovo o casamento gay e outras preciosidades do progressismo. No entanto escolheram o motivo mais fútil e a pior altura para desapoiar cavaco, ou melhor, fazerem de ofendidos. Em certa medida, isto deu a verdadeira dimensão da sua tolerância aos sucessivos atentados a valores - levados a cabo pela esquerda - mantendo-se caladinhos a maior parte do tempo. Tarde piaram. E mal. Onde estavam essas públicas vozinhas da direita, enquanto pinto de sousa mentia com descaro, pervertia o ensino, falsificava números, roubava e mandava roubar, calava e mandava calar e comprometia o país com os seus delírios criminosos ?
Para se zangarem com cavaco tinham bastos motivos e há muito tempo; foram logo escolher, dadas as circunstâncias, o mais fútil.
Vão mas é brincar para a estrada!

Ass.: Besta Imunda

Anónimo disse...

Como sempre, os comentários de VPV são claramente certeiros, não divergindo em nada de outros anteriores versando o mesmo tema, ou seja, as presidenciais.
Quanto ao sr. D. José, que esperar de um homem que sendo o chefe da igreja portuguesa, tem tido um comportamento muito pendular em relação à governação do país, que como se sabe, tem posto os católicos à beira de um ataque de nervos.
Cavaco Silva, quer queiramos quer não, em relação aos candidatos que se perfilam, pelo menos já sabemos com que contamos, e isso já é uma grande vantagem, muito embora não esteja isento de algumas trapalhadas que todos nós conhecemos.
Cps
Scaramouche

Anónimo disse...

Se se tratasse de "medir pelo voto" a influência da Igreja e a de Cavaco não tenho dúvidas que ganharia a Igreja. Neste caso, é o dr. Cavaco que vai ter que "medir pelo voto" a sua influência.

Fuas de Roupão disse...

VPV deve estar em Marte há muito tempo.
"com azar, uma inesperada derrota"?
Não quererá dizer "só com muita sorte se poderá livrar de uma mais que provável derrota"?
E o grande apoiante de Sócrates é do "centro-direita"? Ou será que considera Sócrates centro-direita?
Desça à Terra, homem!

Eduardo Freitas disse...

Um bom conselho, o de Vasco Pulido Valente. Que o ex-reitor o ouça.

Anónimo disse...

Ainda não percebi uma coisa: o sr. cardeal não criticou o autor da lei (Sócrates), não criticou os "aprovadores" da lei (esquerda unida folclórica), mas veio criticar o promulgador da lei.
Eu sei que não sou muito inteligente, mas a verdade é que não consigo mesmo perceber a coerência do sr, cardeal.

Garganta Funda... disse...

Quando oiço falar da «Direita» portuguesa dá-me vontade de rir...

Não sei se já repararam, mas os principais gúrus e mentores da direita bloguística e opinitiva dos jornais são quase todos ex-maoistas convertidos ao mais inflamado e rasca neo-liberalismo.

Sempre viveram à custa do Estado; não abrem mão dos privilégios alcançados nas «conquista de Abril», mas apresentam-se nesses meios como arautos do mercado e da empresa livre!

É demais!

Que vão pentear macacos para o Jardim Zoológico!

Anónimo disse...

Que esperar dum cardeal maçon??? Honestidade ou traficância??? Onde está a admiração???

MV disse...

Faço minhas as palavras do leitor, nomeadamente "...Eu sei que não sou muito inteligente, mas a verdade é que não consigo mesmo perceber a coerência do sr. cardeal."

Fuas de Roupão disse...

Quem é o sr. cardeal?

Ana Gabriela disse...

João, em relação à Adenda:
A diferença é simples: O PM e a "esquerda unida folclórica" não criaram expectativas em relação ao respeito pelos valores da Igreja, nem acompanharam a visita do Papa em peregrinação e em fotografias de família.
Além disso, o Presidente da República é um cargo de valor universal, não de fractura nacional mas de unidade nacional, "de todos os portugueses". E ainda por cima eleito pela área do centro-direita.

Creio que a promulgação da lei foi a última gota. E bem analisada, esta opção presidencial revela que afinal não sabemos bem com o que contar, as explicações não são consistentes.

Finalmente, devemos ponderar bem nos tempos que aí vêm: um governo do "novo PSD" por exemplo, mais uma desgraça a somar à desgraça do PS, ou outro cenário tão caro ao actual Presidente, um "bloco central". Imaginemos o actual Presidente em Belém, a sua inércia, a sua incapacidade de unir e inspirar os cidadãos.
Onde é que iremos parar se isto continuar nesta política medíocre?
Ana

M. Abrantes disse...

Muito bom texto.