Esta é a versão oficial: Pinamonti recusou o convite. Mais tarde saberemos a verdadeira história. Trata-se da miserável crónica de uma demissão anunciada. As carpideiras, fartas de saberem o que se ia passar, anteciparam por uns dias o "requiem". Sou dos poucos que está à vontade sobre Pinamonti. Há quatro anos saí pelos meus próprios pés da direcção do Teatro Nacional de São Carlos a que ele presidia. Na carta de demissão que enviei aos então ministro e secretário de Estado da Cultura expliquei porquê. Não fui poupado pelas referidas carpideiras. Mal cheguei, pedi uma auditoria à gestão do Teatro a efectuar pelo Tribunal de Contas. Que eu saiba, até hoje nunca foi realizada. Defendi o encerramento provisório do Teatro para introduzir-se um módico de racionalidade, de eficiência e de controlo interno, acabando de vez com o arrastar de insustentáveis situações de facto de há muito instaladas. A resposta foi sempre "seguir em frente". Deste modo, o TNSC acumulou os erros da empresa pública, os erros da fundação do dr. Santana Lopes e da dra. Nogueira Pinto e os erros do instituto público. Mário Vieira de Carvalho vai agora somá-los todos na sua gloriosa OPARTE que, desde o ínicio, mereceu a crítica frontal dos directores artísticos do Teatro, Pinamonti, e da Companhia Nacional de Bailado, Ana Pereira Caldas. Resta saber quem são os monos disponíveis para tomar conta da OPARTE e do Teatro ao lado do novo director, antigo "intendente" da Ópera de Colónia. Certamente que não faltam candidatos, a começar pelos que inexplicavelmente ainda lá estão. Dito isto, Pinamonti prestou um relevante serviço à "cultura" deste pequenino país que abandona às mãos do caprichismo político-ideológico de uma "política cultural" protagonizada por dois "independentes" do PS, certamente com a complacência de Sócrates que deve perceber tanto de ópera como eu de russo. Os cortesãos que bajularam Pinamonti durante estes seis anos já devem estar a preparar-se para receber o novo director artístico. O governo foi um mau Wotan que quebrou a lança do guerreiro a meio da obra. O abraço que dei a Pinamonti no sábado à noite, depois da derradeira representação da "Valquíria" - um espectáculo emblemático e premonitório - pressentia-se o último. Dammann fica com o seu conterrâneo Wagner nos braços. Oxalá complete a "tetralogia" e que o "crepúsculo dos deuses" coincida com outros finais e maldições. Os deuses também se abatem.
2 comentários:
"Os deuses também se abatem"...é verdade, mas....MORREM DE PÉ, COMO AS ÁRVORES!!!
Claro que tinha de ser da Ópera de Colónia; é por lá e pela ex-RDA que o nosso Sec Est da Cultura tem os seus camaradas do tempo em que era estudante de doutorameonto (em Berlim-Leste). Já leram o seu "Pensar é morrer"? Caso se materializem as suas recomendações para um teatro público de ópera em Portugal (companhia nacional, óperas em tradução, etc) acabou-se de vez o TNCS como centro de alguma excelência no mundo operático europeu. Que tristeza.
Enviar um comentário