14.3.07

O CASO PINAMONTI - 2

Sobre este patético episódio, vale a pena ler o editorial de José Manuel Fernandes no Público e ir lendo o Henrique Silveira em o "Crítico". É de presumir - presunção não ilidível já que as "grandes" e únicas tiradas da "política cultural" deste governo tiveram todas o beneplácito dele: "Casa da Música", "Colecção Berardo" e a remoção de António Lagarto e de Paolo Pinamonti - que Sócrates concordou com este gesto político praticado com delicadeza latino-americana. Por isso, não convém deixar Vieira de Carvalho e Isabel Pires de Lima sozinhos em cena. Sócrates é quem manda.
"Foi um dia triste para a cultura portuguesa. A gente pequena que episodicamente habita o Ministério da Cultura afastou, sem justificação e sem civilidade, um homem grande cujo nome muitos recordarão por mais tempo do que o de suas insignificâncias. No São Carlos todos os que puderam apreciaram nas últimas semanas a montagem de uma das grandes óperas de Wagner: A Valquíria, segunda parte do ciclo O Anel do Nibelungo. Cruel coincidência. Na cena final da criativa encenação, recebida com entusiasmo, Brünnhilde, uma das valquírias, jaz dentro de um saco de plástico, idêntico aos utilizados para os cadáveres nos cenários de guerra, rodeada por um anel de néon que simula o anel de fogo imaginado pelo compositor. Ora essa imagem final parece mostrar como modernidade parece ser incompatível com o nosso único teatro lírico. Era como se, no centro do cenário que ocupava o lugar da plateia, fosse o próprio cadáver do São Carlos que jazia morto e apodrecia.Ou como se, numa visão ainda mais cruel, a coincidência de A Valquíria com a saída do melhor director que o São Carlos conheceu nas últimas décadas sublinhasse o lado negro da lenda nórdica, o momento em que os anjos se podem transformar em bruxas e os cabelos louros e atraentes das servidoras de Odin, o implacável senhor da guerra, o animal feroz, se revelassem pouco mais do que um platinado sem graça ou gosto. Como um outro platinado que por ora habita o Palácio da Ajuda, sede do Ministério da Cultura. Coincidências, lendas e alegorias à parte, a verdade é que a saída de Paolo Pinamonti do São Carlos é uma péssima notícia para a cultura portuguesa. É um terramoto que mostrou, à mais crua evidência, que a mesquinhez e o provincianismo bacoco têm hoje, à frente do ministério, fiéis intérpretes. Porquê mesquinhez? Porque, sopra-se, Pinamonti ganhava mais dinheiro que os directores-gerais de idêntico estatuto. Só pode ser verdade e ainda bem que era verdade: a mediocridade é barata, a qualidade paga-se. E, no caso da ópera e do director de um teatro nacional, o contribuinte paga bem menos do que acaba sempre por pagar para, por exemplo, alguns clubes de futebol praticarem desvarios em contratações de jogadores sem categoria. Ora o grande senhor que foi malcriadamente despedido por carta - o que é típico dos cobardes, dos que não são capazes de olhar olhos nos olhos - distinguia-se por ter categoria. Era um daqueles homens de cultura que, por raras vezes, Portugal tem a sorte de passarem por cá e cá fazerem o seu melhor para promover o nosso indigente nível cultural. Os que nos tornam acessível o melhor, assim ajudando a distinguir a mediania da excelência, elevando o gosto médio e a exigência de públicos que, por serem escassos, devem ser tratados como sementes que espalham a boa nova de ser possível assistir, em Lisboa, a algo que é belo e, ao mesmo tempo, comovedor. Nem todas as obras de arte atingem tal nível, mas as que lá chegam é que permitem saltos de qualidade. Mas não. A qualidade não parece ser o critério do momento. Mais depressa a mentira e a manipulação (veja-se a forma despudorada como a saída de Pinamonti foi apresentada como correspondendo a uma demissão, utilizando para tal um extracto fora do contexto de uma das cartas que escreveu a uma ministra que nem merece que se lhe cite o nome). Mais depressa o populismo sem horizontes (que é isso de um São Carlos para o turismo cultural? Matinés para japoneses?). Ou, pior ainda, mais depressa dirigista e controleiro, velha tentação de quem já foi controleiro na vida política e de quem entende que, na cultura, também há uma linha justa. Por isso o provincianismo. E a inveja, bem evidente noutras situações, como a que também hoje relatamos relativamente ao Museu Nacional de Arte Antiga. Uma directora faz bom trabalho, destaca-se, consegue dinheiro de mecenas? Então pancada para cima, que o palco de Portugal é curto e os medíocres nunca apreciaram quem a seu lado fosse capaz de se destacar. Em terra de cegos, quem um olho é rei. Arranquem-se pois os olhos a todos que não são cegos."
por José Manuel Fernandes, director do Público (nota: emendei o título da ópera, "Die Walküre" não é plural)

4 comentários:

Anónimo disse...

Governantes medíocres, Cultura inexistente.....gente mal-educada, sem ética!!!!

Como pode o País progredir com gente desta???

Anónimo disse...

Muita e muita gente tem demonstrado a sua solidariedade com Paolo Pinamonti e muitas delas referem que "lamentam os políticos que temos!!"

Eu diria antes: a verdadeira Política não merece esta canalha!!!!

Anónimo disse...

Ai meu deus, eu ainda não percebi nada disto. então, vamos deixar de ter ópera? sem o pinamonti não há ópera? ai jesus maria, que nos tiraram o pinamonti! comuniiiistas! como é que pode o país progredir? ó rapaz, então as três toscas e as cinco traviatas que pedi há horas?

Anónimo disse...

Um pequeno problema nacional:
a)A falta de educação,incluisve nas altas esferas.
b)O baixo nivel de cultura sofisticada em geral.
c) A má educação,particularmente entre os alarves que subiram ao/s poder/es.
Por carta,pois.
Talvez para, evitando uma conversa civilizada, disfarçarem a reduzida bagagem com que chegaram ao tôpo.