1. "As opções relativamente à vida sexual não são para mim nem mais difíceis nem mais íntimas do que a opção relativamente a ser crente ou não ser crente", defende António Barreto, para quem "é indiferente que um candidato a primeiro-ministro seja homossexual ou heterossexual".
No entanto, Barreto assume que a sua defesa de que um candidato declare a sua orientação sexual não é um direito seu, nem um dever do candidato e que há, nesta matéria, "uma zona de imperfeições" "O facto de a opinião pública querer saber não obriga um político a dizê-lo", admite.
Mas, apesar da "imperfeição" do território, António Barreto é, claramente, a favor da máxima transparência mesmo neste terreno. O sociólogo admite que um político que tenha uma vida religiosa, financeira ou sexual oculta "é passível de chantagens, pressões indevidas, gestos politicamente menos racionais do que pessoas que não têm uma vida clandestina". Enfatiza não estar a "falar do ponto de vista moral, mas do ponto de vista político". Ou seja, segundo Barreto, um político "tem o direito de defender a sua privacidade, mas corre o risco de 'pagar as favas'" - ficar mais "frágil do ponto de vista político".
2. "Os moralistas têm vida curta entre nós; não só são gente de mau aspecto como se trata de pessoas cheias de inveja. Os portugueses são sarcásticos, quando se trata de moral - de Gil Vicente a Eça, há uma larga tradição de textos sobre o assunto, mostrando que a moral é matéria para consumo estritamente privado. Na verdade, padres, juízes, beatas envilecidas, fuinhas de toda a espécie, são pouco populares entre nós. É uma vantagem enorme que temos de agradecer ao destino. As pessoas sabem que há uma vida privada e que há uma vida pública; e sabem que, desde que a vida privada não assalte a vida pública, podem dormir descansadas. Os portugueses não apenas sabem isso, como também, porque são manhosos, percebem que a tentativa de moralizar não lhes vai ser útil nem agradável. Os portugueses gostam de desafiar a moral. E apreciam os gestos de gente livre e que não admite interferências do juízo moral dominante". (Francisco José Viegas, A vida privada, no Jornal de Notícias)
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