António Guterres, presidente da Internacional Socialista e antigo primeiro-ministro, vai aparecer na campanha do PS em Castelo Branco. Consta que é uma "mais-valia" para a maioria absoluta. Julgo que ninguém se esqueceu facilmente de Guterres e que muitos o lembram por razões completamentamente distintas. Existem, pois, "dois" Guterres. O "primeiro" é aquele que deu os melhores resultados de sempre ao PS em eleições legislativas e que formou um bom governo em 1995. O "segundo Guterres" é outro. É o homem que, a partir de 1999, ficou ressentido com "as portuguesas e os portugueses" que não lhe deram a maioria absoluta. É o homem que, por isso, praticamente deixou de governar. É o homem que, depois de se entregar de corpo e alma ao semestre da presidência portuguesa da UE, em 2000, não mais largou as "vistas" internacionais. Sem nada de excitante ou de particularmente elevado para apresentar ao país, Guterres afundou as expectativas dos "Estados Gerais" e de um primeiro bom mandato governativo naquilo a que Manuel Maria Carrilho chamou na altura "a apoteose do vazio". Chegou a Dezembro de 2001 inevitavelmente exangue e sem uma sombra da chama dos primeiros anos da década de 90. Murmurou o "pântano" para justificar a interrupção da sua governação politicamente debilitada. E inaugurou, na vida política portuguesa, o célebre lance da fuga, retomado três anos mais tarde, noutros moldes, por Durão Barroso. Com isto, não deixou no entanto de ser quem fundamentalmente é: um especialista em "táctica", com inegáveis dotes oratórios e movido por uma inquebrantável retórica, agora confortavelmente "globalizada". Serão estas "qualidades" suficientes para levar o eleitorado do "centro" a esquecer o "último" Guterres? Será de certeza esta a "melhor ajuda" para conquistar o "centro" para a maioria absoluta? Será mesmo?
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