Agora, por breves instantes, uma coisa completamente diferente. Descubro neste blogue, Esplanar, pela mão de Rui Branco, e nesta "posta" sobre um filme ("A Culpa Humana") e sobre um livro ("A Mancha Humana"), parte da terrível rasura que ambos nos contam, embora sempre a benefício da magnífica prosa de Philip Roth. Algo que a película só de passagem conseguiu captar, sobretudo graças à composição da personagem por Nicole Kidman.
Quando, no livro, ela lhe diz que precisa de homens muito mais velhos do que ele, alguém com cem anos, talvez entrevado numa cadeira de rodas, temos a confirmação que ela sabe coisas sobre o ser humano, que há ali uma sabedoria antiga a falar. E compreendemo-los: eles são iguais e ela é tão velha como ele. No filme, nessa mesma cena (a cena em que ela, recordo, dança para ele), achamos que ela diz isso só para fazê-lo sentir-se melhor com a idade – e lamentamo-los. Eles já não estão de igual para igual, nem já velhos por igual; de repente, são apenas a jovem que se meneia em frente do velho professor movido a viagra, a quem lubrifica o ego com uma frase de consolação barata e triste. No livro, ela diz-lhe «és tu que és novo para mim»; no filme, ela diz-lhe «és um velho». É como se Faunia tivesse espetado uma estaca no coração do vampiro e este tivesse envelhecido, apodrecido, de um momento para o outro. A diferença entre o livro e o filme está um bocado nisto.
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