«Nem vale a pena falar daqueles que, à esquerda, convictos de que a presidência é a sua reserva natural, desde o primeiro dia se prepararam para tratar como intruso um presidente em quem não mandaram votar. Para eles, tudo nesta presid~encia foi "sabotagem" da governação ou indício de uma "agenda conservadora". Mas nem por isso as direitas foram capazes de mostrar-se satisfeitas. Há por esse lado quem não perdoe ao Presidente não ter combatido ou ganho as guerras que as próprias direitas não quiseram combater ou não souberam ganhar no tempo e no lugar certos. (...) Prometeram-nos em 2006 que o antigo primeiro-ministro não saberia ser presidente. Afinal, soube. Contra os devaneios de uma presidência executiva ou profética, respeitou a concepção institucionalista da função. Por convicção? Por feitio? Por cálculo? Não importa agora o motivo, mas o resultado. O seu mandato ficou definido pelo protesto contra o Estatuto Político-Administrativo dos Açores, em Julho de 2008, quando a constituição foi cinicamente pisada para servir os interesses eleitorais dos partidos. Nem a classe política nem a população, indiferentes a tudo o que não diga respeito ao poder e às suas benesses, o pareceram compreender. Pudemos então medir a ocasional solidão de um Presidente meticuloso. A exorbitância é uma das tendências dos nossos órgãos de soberania: proliferam, com sucesso, os juízes que se julgam justiceiros e os governantes com aspirações a demiurgos. Raramente um titular de cargo público admitiu não poder corrigir e salvar o mundo: era só ter os "recursos" necessários ou o apoio "suficiente". Contra a corrente, tivemos nestes anos um Presidente que, com mais ou menos felicidade, acabou por ser apenas o Presidente tal como estava previsto na constituição - nem o messias da pátria aflita, nem o vingador das oposições, nem o guarda-portão de um qualquer sectarismo. Saberemos perdoar-lhe esse escrúpulo?»
Rui Ramos, Expresso
15 comentários:
NO SEGUNDO MANDATO A DRAMÁTICA SITUAÇÃO DE PORTUGAL OBRIGA A QUE VENHA A SER MAIS INTERVENTIVO.PARA ISSO TERÁ DE TER TODO O NOSSO APOIO.
Deus nos livre!... ...
O GRANDE ARQUITECTO NOS LIVRE DA KAROL!... ...
Não lhe perdoo ter promulgado o Acordo Ortográfico. Por mim não passa. Há limites para tudo e o meu limite está aqui - o resto são fait-divers que o tempo apagará, transformará - coisas circunstanciais das sociedades. Mais padralhada menos padralhada, casamentos disto ou daquilo, bah, tudo isso é irrelevante. Mas permitir que se comece a dar cabo (seriamente) de uma língua é, a meu ver, um acto profundamente errado. Só espero que não seja irreversível.
Cavaco Silva.....o homem que fez questão de apoiar publicamente, durante quase todo o mandato, a mais desastrosa ministra da educação de que há memória em Portugal. Podia-se pelo menos ter remetido a um discreto silencio enquanto Maria de Lurdes Rodrigues se afadigava a destruir o que ainda restava da escola portuguesa....já quando foi primeiro ministro as medidas que tomou no sector da educação apontavam no sentido da melhoria das estatisticas educativas incentivando o facilitismo. Anos mais tarde, quando surgiu em cena a grande facilitadora Lurdes Rodrigues, apoiou-a publicamente enquanto PR.
Meticuloso não sei se será....mas facilitista no que diz respeito ás questões educativas não tenho duvidas de que é!
soares pronuncia-se sobre tudo e sobre nada
menos a respeito deste mandato presidencial
depois de ter sido tão grosseiro na TV durante a campanha.
a direita não se endireita nem com viagra
João
Pela primeira vez discordo de Rui Ramos.
Há uma distância entre um "o messias", "o justiceiro", "o guarda~portão" e "o ausente", "o indiferente", "o reformado em funções".
Entre o Presidente-messias e o Presidente-ausente, há um espaço, e esse espaço são os cidadãos esquecidos pelo sistema e um país contaminado e controlado. Tudo contaminado, as instituições-chave, os travões dos excessos. E tudo controlado.
No fundo, já estamos todos reféns da lógica do "sistema", incluindo o Presidente.
Ana
Dizem-me que este Sr.Rui Ramos também é de «direita» e «liberal».
Mas vai votar Cavaco...
O que é que se há-de fazer?
Ao menos as suas interrogações são sempre bem recebidas aqui, como sabe, Garganta Funda. E é um blogue cavaquista. Imagine se não fosse...
Apesar de o autor ser cavaquista pode dizer-se que neste blogue há lugar à pluralidade de opiniões sobre Cavaco Silva....ou seja, o autor do blogue tenta desesperadamente arranjar alguma coisa de bom para dizer acerca do PR, e depois todos os leitores se afadigam a dizer mal de Cavaco.
Ainda nunca aqui li um unico comentário de um leitor a apoiar Cavaco....isto deve querer dizer alguma coisa!
Anónimo 8:56 PM
Pelos vistos, V. anda de candeias às avessas com o oftalmologista.
Concordo que este blog (ainda) é cavaquista porque o JG (ainda) é um seguidor (clubista) do PR. Mas as ideias que por aqui circulam há muito que deixaram o dr. Cavaco para trás agarrado aos seus silencios e tabús e óbvias limitações.
Comentador Javali,
Também já me tenho interrogado sobre se de entre as tolices omissivas e comissivas de todos estes últimos anos, o mais grave não será o «acordo» ortográfico, pelas repercussões duradouras que pode vir a ter, embora ainda espere que não. Mas «acordo» e dívida e miséria nascem dos mesmos acessos delirantes e estes da mesma incapacidade de nos ocuparmos com o que é essencial.
O acordo ortográfico ainda pode ser revisto. Pior foi a promulgação sem a minima critica, por Cavaco, da lei socratista/socialista da nacionalidade. Um autentico aborto legislativo politicamente correcto, que possibilita a concessão sem critérios de exigencia minimamente satisfatorios da nacionalidade portuguesa. O consenso no parlamento foi amplo nesta matéria, com o PSD a dar igualmente o seu aval a este aborto juridico. Restava esperar que Cavaco fosse o ultimo reduto de defesa de um minimo de dignidade e exigencia nesta matéria. Mas não foi. Promulgou sem levantar qualquer objecção.
"quando a constituição foi cinicamente pisada para servir os interesses eleitorais dos partidos. Nem a classe política nem a população, indiferentes a tudo o que não diga respeito ao poder e às suas benesses, o pareceram compreender. Pudemos então medir a ocasional solidão de um Presidente meticuloso." -
Isto aplica-se a Mota Amaral, na famigerada Comissão ... Também, segundo o próprio, ao proibir o uso das escutas, estava apenas a defender a Constituição e a Lei, segundo as quais as ditas escutas só poderão ser usadas em contexto judicial ... mas nem isso o salvou da traulitada que, também deste blogue, apanhou !
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