Li, saltando por cima de uma data de coisas dele e em duas noites antes do sono, o livro acima. Pensava que me ia reconciliar com a Mónica de outros livros, prévia ao dilúvio virgulino do desastroso Bilhete de Identidade. Sucede que, em alguns momentos, tive de reler frases porque nem sombra do prontuário da D. Edite Estrela nelas. Não que eu aqui não dê umas calinadas as quais são logo amavelmente denunciadas por leitores amigos. Mas isto é escrito em minutos e não está num livro. O que está - e o que vai estar - é revisto. Vidas, como denota o título, reúne textos sobre figuras mais ou menos conhecidas dos séculos XIX e XX. A primeira parte ainda escapa, apesar de um ensaio perfeitamente inútil sobre os "vencidos da vida". Na segunda, safam-se duas prosas sobre dois desconhecidos que a socióloga conheceu cá e em Oxford - um miúdo que acabou na "casa do gaiato" graças aos "conhecimentos" da Mónica ("a senhora doutora" ou "a senhora professora" como ela aprecia e está "habituada" a ser tratada cá) e uma garota do Minho que medrou na Inglaterra. Seguem-se pseudo-retratos alinhavados à pressa e com os arroubos de superioridade britânica vista da Lapa que não largam mais a senhora - "os homens fazem-me falta, quanto mais não seja para poder exibir a minha superioridade". Um momento de fazer inveja a Margarida Rebelo Pinto vindo de quem não sabe falar de mulheres nem, muito menos, de homens, supondo-o. Mónica (nunca faz a coisa por menos) louva-se logo de início em Lyton Strachey que, em 1918, "escandalizou a sociedade inglesa com a publicação de Eminent Victorians porque, diz ela, "destruía a reputação de quatro heróis britânicos". Se alguma coisa os últimos transportes da Mónica têm vindo metodicamente a destruir é a reputação intelectual dela. Há anos, de Londres, vim carregado de Strachey incluindo a sua excelente biografia (e de uma época), de Michael Holroyd, por causa da Mónica. Ela tinha-me "apresentado" o figurão num livro qualquer. Hoje, tristemente, constato que nada do que a Mónica escreve ou diz acrescenta um átomo ao que me interessa da vida. O defeito será meu e o castigo do tempo encarrega-se do resto. O livro custou-me mais do que devia ter custado. Vendo-o por cinco euros. Sempre dá para pagar metade da espreguiçadeira de um dia no Vau.
10 comentários:
Irmão
amanhã tem 'bruxas bíblicas'
Nada de admirar.
A D. Mónica esteve 2 (duas) vezes no Plano Inclinado e fiquei atónito com a displicência e superficialidade da sra. Foram os dois piores programas da série.
É o problema de quem fala de mais.
Três euros,João, «e não se fala mais nisso?...
Filomena Mónica cada vez mais se comporta como uma tudóloga. Por este caminho ainda acaba como uma Ferreira Alves, com a vantagem de ainda pensar um bocadinho e saber falar, coisas que a pseudo-dra. Ferreira Alves manifestamente não sabe fazer.
Há pessoas que envelhecem muito mal! Foi-se a académica, ficou a mulherzinha vaidosa e convencida.
Penso que a MFM goza de um grande estatuto intelectual na sociedade portuguesa, que não é condizente com o real valor do seu pensamento/obra. Reconheço que apenas li as obras "Visitas ao Poder", "Vida Moderna" e "Cenas da Vida Portuguesa", fiquei aborrecido com o que li, mas deu para notar na sua obra, e nos comentários que tece sobre a vida e sociedade portuguesa, resquícios e influências várias dos "intelectuais esquerdistas" franceses mentores do Maio de 68, e a sua estadia académia em Inglaterra não apagou esse facto. Tem uma prosa a lembrar o Sartre das "Situações", e nota-se uma profunda aversão pelas pessoas vulgares e a sobranceria de quem possui a receita milagrosa para transformar esta sociedade num paraíso, enfim uma "esquerdista" como a própria reconheceu, recentemente quando esteve na SIC N.
Confesso que no passado gostava dela. Perdeu muita credibilidade porque é uma desbocada. Diz tudo o que lhe vem à cabeça.
Tem um livro o "Vale a pena mandar os nossos filhos à escola?" onde arrasa com o eduquês. Coisa que foi das primeiras a fazer e que eu aprecio. Tem esse mérito. Ela e o Herman José, que nos idos anos 80 apanhou o espírito da coisa com a famosa rábula do menino Nélito e da sr.ª D. Palmira Peres.
João, o problema não é seu. É mesmo da Filomena Mónica. O livro a que se refere é de uma banalidade atroz. Eu passei a desgostar da senhora quando confessou que era a favor da unicidade sindical só porque o marido de então, Vasco Pulido Valente, não era. As posições políticas não podem depender de uma zanga com o marido ou com a mulher. Para mim, foi o ponto final.
Depois desta tua recensão, prefiro gastar o dinheirinho nas espreguiçadeiras :)
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