22.5.06

LEITURAS NO CARRIL


Tenho andado pelos transportes públicos, comboios e metro. Reparo no que lêem os "utentes". Para além dos jornais distribuídos gratuitamente, vejo as pessoas agarradas aos calhamaços do sr. Dan Brown, a calhamaços destinados a desmentir o sr. Dan Brown e, em geral, a outra "literatura" da mesma natureza, virada para o "além" e para o "espírito". Não se vislumbra um clássico e, aqui ou ali, desponta um português - de preferência, um jornalista-escritor - ou uma Rebelo Pinto. É com alguma vergonha que eu puxo das memórias do Zweig em " livre de poche". Ele fala de um mundo perdido que as guerras do século passado extinguiram sem dó nem piedade. Também para os leitores dos transportes públicos não chega o seu pequeno mundo. Por isso, no vaivém inútil das suas vidas, esquecem-se dele, por breves instantes, nos parágrafos mágicos das fantasias por que passam os olhos. Fazem bem. Como escreve Zweig, só a ilusão provoca felicidade, não o saber.

15 comentários:

Anónimo disse...

Não sei se é também o caso do João Gonçalves, mas eu tenho a feliz sorte de possuir as obras completas de Zweig. Sei por isso do que fala (também às vezes me olham de lado quando leio as folhas amarelecidas de um livro qualquer). Esquisita esta ideia de que os bons livros devem estar como novos. Sim, Zweig sabia que o conhecimento não era causa de felicidade. Tal como Rousseau e Kant, ao seu modo, também souberam.

Anónimo disse...

Não sei se é também o caso do João Gonçalves, mas eu tenho a feliz sorte de possuir as obras completas de Zweig. Sei por isso do que fala (também às vezes me olham de lado quando leio as folhas amarelecidas de um livro qualquer). Esquisita esta ideia de que os bons livros devem estar como novos. Sim, Zweig sabia que o conhecimento não era causa de felicidade. Tal como Rousseau e Kant, ao seu modo, também souberam.

António Viriato disse...

O Stefan Zweig resistiu ao tempo, coisa que dificilmente acontecerá com Browns e Margaridas Rebelo Pinto. A propósito : para quando a reedição da obra do grande escritor austríaco, quase toda traduzida para português há décadas,principalmente pela mão da Livraria Civilização Editora ? «O Mundo de Ontem» reapareceu em português pela Assírio e Alvim e «O Combate com o Demónio», pela Antígona. Mas há muito mais deste prolixo e inventivo escritor, tragicamente desaparecido.

desculpeqqc disse...

Nunca li Zweig, mas já li Dan.
Melhor ainda, nem na tranquilidade do meu lar tive disposição para ler Zweig, mas arranjei-a para ler Dan.
Li muito até hoje, livros ligados aos meus estudos, mas nada de grandes clássicos.
Dou por bem empregue o tempo que aqui passo a ler outras leituras, leituras que me despertam para provar coisas novas e ir ler Zweig. Obrigado.

Anónimo disse...

tenho quase quarenta anos e tenho reparado que os muito jovens lêm livros mais interessantes que o pessoal da minha idade.

António Gomes disse...

Esta semana ando a ler o Festim nu pelos transportes públicos, em casa leio livros técnicos onde preciso de maior concentração, tenho aqui para ler o Gene Egoísta e estou a ler Inteligência Emocional de Daniel Goleman, muito bom.

Anónimo disse...

A moda está a demorar a passar... e quando eu pensava que se estava a esfumar eis que surge o filme. Ando bastante de autocarros e é muito raro ver alguém a ler um livro. Também é quase impossível: somos transportados como sardinhas enlatadas. Vejo e muito é pessoas com revistas cor-de-rosa. Até na zona da paragem da universidade, vejo jovens com a Maria e não sei mais o quê. Entristece-me. nunca li nada de Zweig mas fica o apontamento. Neste momento leio A Rosa (Robert Walser) e El Aleph (Jorge Luis Borges).

Anónimo disse...

Depois de ver um texto inteligente, como são sempre os textos de João Gonçalves, é triste ver nesta caixa de comentários uma exibição bacoca das leituras intelectuais de cada um, como se de passaportes culturais se tratasse... Faz-me lembrar aqueles politicos que se passeiam com jornais estrangeiros debaixo do braço...

Anónimo disse...

... quem sabe se teêm que lêr 1º sobre o "além" para perceberem o "aqui e agora"

Anónimo disse...

... Porque o percurso na Vida não é igual para todos ...

Anónimo disse...

Eu. ao invés de ir lendo nos transportes públicos, opto por no «silêncio do meu espaço» ir escrevendo qualquer coisita.
Assim ...

«Quarto com vista»
Para onde avisto
Toda aquela imensidão
O, MAR ...

“Quarto” de janela
Por onde espreito e, assisto
Ao mergulhar, do teu corpo
Naquela vastidão
O, MAR ...

“Quarto” de espaço
Por onde espreito
Toda aquela massa
Correndo no seu leito
Nu e, sem lençol
E, sempre, sempre
Coberto, coberto por manto de luz
O, MAR ...

Luz, que nos aquece e trespassa
Com, ou sem vidraça
Luz, brilhante e viva do Sol
Que, à tardinha se deita
Por entre murmúrios do vento
Soprando de qualquer parte
Misturando, no meu azul eleito
Qual, obra de arte
Qual, empastamento de cor
Ou riquíssimo tratamento de luz
Pelo Homem, jamais conseguida
De tons vários ... qual o mais belo
Começando pelos primários
Púrpura, amarelo e, o meu azul sem fim
Sem esquecer o laranja, violeta e carmim
O, MAR ...

“Quarto” de lua
Que, até era crescente
Que, penetra por aquele espaço
De, “Quarto com vista”
E, num forte abraço
Nos envolve carinhosamente
Com sua luz branca, leve, anil
Mas, afinal tanto faz
Só, insiste em estar presente
Seu “Quarto” de rosto mostrar
Toda aquela imensidão banhar
O, MAR ...

E, daquele “Quarto com vista”
Onde, a lua vem testemunhar
... o sol aquecer
... e gotas de chuva nos refrescar
... breves brisas de vento, passam
Podendo assim
Por entre ternas carícias ... beijos
E, o teu olhar meigo e sedutor
Saborear
O, Esplendoroso luar que envolve
O, MAR ...

Anónimo disse...

Ó pá, não é que me acontece o mesmo?! Só para impressionar o indígena leio S. Basílio... em grego!

Anónimo disse...

eu estou a ler as letras do kim barreiros em hebraico nos transportes públicos e o cama-sutra para coelhos brancos entre os 9 e os 12 meses em casa porke preciso de estar muito concentrado. como sou funcionário público ainda leio houellebecq no trabalho pois é aí ke consigo o máximo de concentração. no caminho de casa para os transportes públicos leio o expresso para impressionar os vizinhos, porke é grande. dos transportes públicos para o trabalho leio l'humanité porke o meu chefe é comuna. quando vou a casa da sogra leio zen, meditação budista, para ter calma e não bater na sogra e kuando vou passear o cão leio 100 técnicas para engatar uma miúda enkuanto passeia o cão. enfim, sou um tipo ke devora livros.

Anónimo disse...

... a pintura da ilustração é de "excelente bom gosto»
... porem, porque é que só comtempla as "loiras"?

Anónimo disse...

pofético essa do carril. fugiu-lhe a boca para a verdade.