30.5.06

DE OLHOS ABERTOS


Eu queria escrever sobre o belo rosto devastado de Jeanne Moreau, a que mais próxima se encontra, pela idade, perto da morte. Queria tentar "explicar" o que o protagonista não consegue explicar a si próprio e aos outros: a tranquilidade absoluta da morte. Queria dizer da serenidade com que o protagonista constrói a sua "agenda" para o "tempo que resta" (sim, os que sabem que vão morrer também têm uma "agenda"). Finalmente queria frisar que não existe um pingo de pieguice no filme de François Ozon, Le Temps qui Reste. Como escreve o António, "a personagem de Poupaud, sem nunca abdicar do seu temperamento colérico, está, à morte, muitíssimo próximo da vida". Não é preciso dizer mais nada. Romain (Melvil Poupaud), o protagonista, seguiu o conselho de Marguerite Yourcenar. Entrou na morte de olhos abertos.

(Le temps qui rest, um filme de François Ozon, em Lisboa estupidamente "apenas" no El Corte Ingles)

2 comentários:

Anónimo disse...

Ainda não vi o filme, mas

... já Mozart e, a propósito da morte do pai dizia, que «uma das coisas para que nascemos é para nos prepararmos para a morte»
… e, é precisamente sobre a qual, nos interrogamos, mas que nada fazemos, no sentido, de nos mentalizarmos, para a aceitação de uma condição óbvia - permatura ou não - , - nossa ou dos outros -sem grandes perturbações emocionais
… é uma mudança ... somente e, que permaneça a melhor imagem
… a “saudade” pode ser, por vezes, somente “egoísmo” de quem fica
… vêr “SOFRER” e nada “PODER FAZER” para mim é que é “UMA DOR MAIOR”
… e, quando o António escreve
"… , à morte, muitíssimo próximo da vida".
... penso … entendê-lo perfeitamente …

Anónimo disse...

... e, afirmo
"Sem grandes perturbações emocionais"

... eu não disse “sem perturbações emocionais".
... sabe, é que para mim, a cabeça, não serve só para ter um “lindo cabelo” ou pôr um “bonito chapeu”, etc ... tenho tentado, ao longo da minha vida, aprender a utilizá-la dentro de uma forma construtiva, positiva, etc. Senão serei vítima de mim própria e, mesmo assim, há situações das quais, não podemos fugir e, a última é a nossa própria “morte”
... de qualquer forma, compreendo que estes temas não são para serem falados através de uma “caixinha de comentários” – são bem mais profundos.
... no entanto, obrigada pelo seu comentário