12.2.11

MUNDO SEM ESPERANÇA


«Vamos a caminho de sermos guturais, a falar como os SMS e a pensar com as 140 palavras do Twitter. Bom para as "bocas", mau para o pensamento. Nos anos de Weimar, o alemão estava sólido, embora os nazis suspeitassem que a Bauhaus, os comunistas da Bauhaus, queriam destruir a força da língua colocando os substantivos em minúsculas. Por cá, em Weimarzinho, a língua torna-se tropical e africana (como os capitais da banca) e afasta-se velozmente do latim por diktat do Estado e tratado de papel passado (eu quero no PÚBLICO a grafia anterior ao Acordo Ortográfico). (...) As autoridades pátrias encarregam-se de nos encher de circo para esconder que o pão encolheu. Um partido radical da extrema-esquerda faz dançar gente de mais à sua batuta, com o apoio de uma comunicação social que gosta de fitas e simpatiza com o niilismo do espectáculo, mesmo sem saber o que isto é. (...) A percepção dos valores da democracia é escassa: milhares de pessoas correm a assinar uma petição na Internet intitulada "1 milhão na Avenida da Liberdade pela demissão de toda a classe política" e jornais e blogues batem palmas como se não se tratasse de um puro manifesto antidemocrático. "Demitem toda a classe política" como? Como em 1926, com o 28 de Maio? Como se Portugal fosse o Egipto e "Sócrates-Passos Coelho- Portas" (e porque não Jerónimo de Sousa e Louçã) fosse um compósito de Mubarak? Sem eleições? Sem partidos? Democracia directa com votos pela televisão em chamadas de valor acrescentado e o Parlamento no Facebook? Os votos seriam como aquelas sondagens nos blogues? E por que, dizem, não é mais democrático, mais igualitário, mais livre, eu poder fazer o que entender, sem peias, nem lei, nem propriedade, expondo um mundo subterrâneo de gigantescos ressentimentos e invejas, que está lá bem em abaixo nos subterrâneos de Weimarzinho? O retrato desse mundo está bem presente no coro de insultos dos comentários, a vox populi muito elogiada pelos libertários da Internet, um mundo dos comentadores anónimos ou semianónimos que é fascista no seu preciso termo, é a linguagem da força sem lei, a destruição verbal do outro, o veneno das palavras, como o rícino que os squadristi obrigavam os seus adversários a tomar. Todas as peças se montam, em pequenino, em "zinho", mas encaixando entre si. E muita cobardia sobre o que se está a passar, sobre o mundo que começa a parecer, silêncio a mais. Weimarzinho significa também essa cobardia do espírito, de acomodações e silêncios, a dissolução do pensamento e da coragem cívica, essa "destruição da razão" substituída pelos incêndios românticos de livros. (...) Um imbecil igualitarismo entre quem estuda e quem dá "bitaites", perdoe-se o plebeísmo, entre quem conhece e quem "acha", entre quem sabe e o arrogante iniciante e ignorante que acha que por escrever um blogue tem o direito de ser "igual". (...) Dissolução do pensamento, apatia, preguiça, aceitação do inaceitável, cada dia com a sua cedência, à moda, ao espectáculo, à raiva populista e demagógica, para se passar pelo meio da chuva e "não se chatear". Direitos, deveres, procedimentos, regras, cada dia tem menos valor. Nas ruas de Weimar e nas ruelas de Weimarzinho passa o mesmo fantasma, um em versão trágica, outro em versão pobre e simples. Mas esse fantasma que assombra o nosso mundo não é o da primeira página do Manifesto, mas o da linha 9 do Canto III do Inferno de Dante: "Lasciate ogne speranza, voi ch"intrate". E o mundo sem esperança que se vive em Weimarzinho é propício a todos os demónios.»

José Pacheco Pereira, Público

10 comentários:

floribundus disse...

as 'novas oportunidades' são um convite ou passaporte para o fomento da imbecilidade.

ao fascismo socialista não interesa gente inteligente e culta.
para passar atestados de intelectual temos o pcp e o ps da rataria.
para implantar o socialismo chega gente como os armanis, os almeidas ....

por pagar fica a 'dívida soberana' em ascenção uniformemente acelerada

Anónimo disse...

Ó JPP
De facto toda a classe política deveria ser metida na rua.Porque eu atesto que a classe política "ditadora" era muito melhor.Em todos os aspectos.Dispensava jardineiros a deputados.Falsos engenheiros a ministros.Traidores a governar.Eram certos como os relógios.Sempre com Portugal no coração.E com resultados que se comparados na sua totalidade, incluindo a "dívida", a nossa "colonização" os deixa num patamar muito acima da escumalha que nos desgoverna.,..

Anónimo disse...

O JPP fala de barriga cheia, como sempre. O que ele, no fundo, quer é falar sozinho (sem concorrência, entenda-se). Uma chatice que haja mais blogues do que o Abrupto...

Anónimo disse...

Portugal, não se discute.
Cidadão, que fica rico, na politica, é ladrão.

Anónimo disse...

Este meu deputado (é mesmo) - o Pacheco - não responde a «mails» de constituintes devidamente identificados e sobre questões impessoais (acordo ortográfico) e vem queixar-se que as regras estão a ficar sem valor... A mim ensinaram-me - e não eram exemplo de democratas - que uma carta tem sempre resposta
Enfim...
Victor Santos Carvalho

joshua disse...

Sinceramente, eu, blogger, não queria perturbar assim tanto o José Pacheco Pereira que obviamente se ressente dos bloggers que não o apreciam.

Sinceramente, até gosto dele. Só não gosto que contemporize com o socratismo e faça uma nuvem de raciocínios que instauram mais hesitação que decisão.

Seria menos amargo se se abrisse aos tais bloggers pelos quais se sente insultado.

antonio.viriato@sapo.pt disse...

JPP diz aqui algumas coisas acertadas, mas há muito que perdeu credibilidade política, por se ter contentado com a tagarelice mediática em que se especializou.

Deu cobertura a muitas nulidades intelectuais que descaracterizaram o PSD.

Parece mesmo ter-se desinteressado da Social-Democracia e aderido de coração ao fantástico universo neoliberal, responsável pelo actual descalabro em que vivemos.

É pena, porque poderia desempenhar um papel civicamente mais útil dentro da área social-democrática.

Mas cada um escolhe o seu caminho.

Anónimo disse...

Eu também subscrevo o anónimo das 6.25. A nossa classe política dirigente é, de facto e de jure, um amontoado de gente medíocre e incompetente e que, como se tem visto à saciedade, anda frequentemente no fio da navalha da corrupção. Naturalmente que há excepções, mas essas nós conhecemo-las muito bem.

Anónimo disse...

A carreira politica não é feita por merito mas por antiguidade nos partidos. Inscreves-te e pagas cotas, vais a reuniões. Deixas-te andar até que depois de queimados os mais velhos e antigos chega a tua vez...talvez te safes.É tudo uma questão de pagar as cotas não de merito ou saber...

Anónimo disse...

Gramo da melancolia e do tedio da personagem na imagem. Cansado, fustigado pelas palavras, invadido por pensamentos...que lhe dão sono, como ao cachoro da imagem anterior.
So que o nosso humano,(da imagem) parece ser daqueles que abandonou as imagens. das igrejas, um protestante, que nao acredita em milagres...
Ac.