«Vamos a caminho de sermos guturais, a falar como os SMS e a pensar com as 140 palavras do Twitter. Bom para as "bocas", mau para o pensamento. Nos anos de Weimar, o alemão estava sólido, embora os nazis suspeitassem que a Bauhaus, os comunistas da Bauhaus, queriam destruir a força da língua colocando os substantivos em minúsculas. Por cá, em Weimarzinho, a língua torna-se tropical e africana (como os capitais da banca) e afasta-se velozmente do latim por diktat do Estado e tratado de papel passado (eu quero no PÚBLICO a grafia anterior ao Acordo Ortográfico). (...) As autoridades pátrias encarregam-se de nos encher de circo para esconder que o pão encolheu. Um partido radical da extrema-esquerda faz dançar gente de mais à sua batuta, com o apoio de uma comunicação social que gosta de fitas e simpatiza com o niilismo do espectáculo, mesmo sem saber o que isto é. (...) A percepção dos valores da democracia é escassa: milhares de pessoas correm a assinar uma petição na Internet intitulada "1 milhão na Avenida da Liberdade pela demissão de toda a classe política" e jornais e blogues batem palmas como se não se tratasse de um puro manifesto antidemocrático. "Demitem toda a classe política" como? Como em 1926, com o 28 de Maio? Como se Portugal fosse o Egipto e "Sócrates-Passos Coelho- Portas" (e porque não Jerónimo de Sousa e Louçã) fosse um compósito de Mubarak? Sem eleições? Sem partidos? Democracia directa com votos pela televisão em chamadas de valor acrescentado e o Parlamento no Facebook? Os votos seriam como aquelas sondagens nos blogues? E por que, dizem, não é mais democrático, mais igualitário, mais livre, eu poder fazer o que entender, sem peias, nem lei, nem propriedade, expondo um mundo subterrâneo de gigantescos ressentimentos e invejas, que está lá bem em abaixo nos subterrâneos de Weimarzinho? O retrato desse mundo está bem presente no coro de insultos dos comentários, a vox populi muito elogiada pelos libertários da Internet, um mundo dos comentadores anónimos ou semianónimos que é fascista no seu preciso termo, é a linguagem da força sem lei, a destruição verbal do outro, o veneno das palavras, como o rícino que os squadristi obrigavam os seus adversários a tomar. Todas as peças se montam, em pequenino, em "zinho", mas encaixando entre si. E muita cobardia sobre o que se está a passar, sobre o mundo que começa a parecer, silêncio a mais. Weimarzinho significa também essa cobardia do espírito, de acomodações e silêncios, a dissolução do pensamento e da coragem cívica, essa "destruição da razão" substituída pelos incêndios românticos de livros. (...) Um imbecil igualitarismo entre quem estuda e quem dá "bitaites", perdoe-se o plebeísmo, entre quem conhece e quem "acha", entre quem sabe e o arrogante iniciante e ignorante que acha que por escrever um blogue tem o direito de ser "igual". (...) Dissolução do pensamento, apatia, preguiça, aceitação do inaceitável, cada dia com a sua cedência, à moda, ao espectáculo, à raiva populista e demagógica, para se passar pelo meio da chuva e "não se chatear". Direitos, deveres, procedimentos, regras, cada dia tem menos valor. Nas ruas de Weimar e nas ruelas de Weimarzinho passa o mesmo fantasma, um em versão trágica, outro em versão pobre e simples. Mas esse fantasma que assombra o nosso mundo não é o da primeira página do Manifesto, mas o da linha 9 do Canto III do Inferno de Dante: "Lasciate ogne speranza, voi ch"intrate". E o mundo sem esperança que se vive em Weimarzinho é propício a todos os demónios.»
José Pacheco Pereira, Público
José Pacheco Pereira, Público
10 comentários:
as 'novas oportunidades' são um convite ou passaporte para o fomento da imbecilidade.
ao fascismo socialista não interesa gente inteligente e culta.
para passar atestados de intelectual temos o pcp e o ps da rataria.
para implantar o socialismo chega gente como os armanis, os almeidas ....
por pagar fica a 'dívida soberana' em ascenção uniformemente acelerada
Ó JPP
De facto toda a classe política deveria ser metida na rua.Porque eu atesto que a classe política "ditadora" era muito melhor.Em todos os aspectos.Dispensava jardineiros a deputados.Falsos engenheiros a ministros.Traidores a governar.Eram certos como os relógios.Sempre com Portugal no coração.E com resultados que se comparados na sua totalidade, incluindo a "dívida", a nossa "colonização" os deixa num patamar muito acima da escumalha que nos desgoverna.,..
O JPP fala de barriga cheia, como sempre. O que ele, no fundo, quer é falar sozinho (sem concorrência, entenda-se). Uma chatice que haja mais blogues do que o Abrupto...
Portugal, não se discute.
Cidadão, que fica rico, na politica, é ladrão.
Este meu deputado (é mesmo) - o Pacheco - não responde a «mails» de constituintes devidamente identificados e sobre questões impessoais (acordo ortográfico) e vem queixar-se que as regras estão a ficar sem valor... A mim ensinaram-me - e não eram exemplo de democratas - que uma carta tem sempre resposta
Enfim...
Victor Santos Carvalho
Sinceramente, eu, blogger, não queria perturbar assim tanto o José Pacheco Pereira que obviamente se ressente dos bloggers que não o apreciam.
Sinceramente, até gosto dele. Só não gosto que contemporize com o socratismo e faça uma nuvem de raciocínios que instauram mais hesitação que decisão.
Seria menos amargo se se abrisse aos tais bloggers pelos quais se sente insultado.
JPP diz aqui algumas coisas acertadas, mas há muito que perdeu credibilidade política, por se ter contentado com a tagarelice mediática em que se especializou.
Deu cobertura a muitas nulidades intelectuais que descaracterizaram o PSD.
Parece mesmo ter-se desinteressado da Social-Democracia e aderido de coração ao fantástico universo neoliberal, responsável pelo actual descalabro em que vivemos.
É pena, porque poderia desempenhar um papel civicamente mais útil dentro da área social-democrática.
Mas cada um escolhe o seu caminho.
Eu também subscrevo o anónimo das 6.25. A nossa classe política dirigente é, de facto e de jure, um amontoado de gente medíocre e incompetente e que, como se tem visto à saciedade, anda frequentemente no fio da navalha da corrupção. Naturalmente que há excepções, mas essas nós conhecemo-las muito bem.
A carreira politica não é feita por merito mas por antiguidade nos partidos. Inscreves-te e pagas cotas, vais a reuniões. Deixas-te andar até que depois de queimados os mais velhos e antigos chega a tua vez...talvez te safes.É tudo uma questão de pagar as cotas não de merito ou saber...
Gramo da melancolia e do tedio da personagem na imagem. Cansado, fustigado pelas palavras, invadido por pensamentos...que lhe dão sono, como ao cachoro da imagem anterior.
So que o nosso humano,(da imagem) parece ser daqueles que abandonou as imagens. das igrejas, um protestante, que nao acredita em milagres...
Ac.
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