Nas minhas deambulações pelas ruas e pelos transportes públicos, tenho reparado que a maior parte das pessoas, independentemente da idade, anda de ouvidos tapados ou agarrada ao telemóvel. O "novo homem português" - o tal que o prof. Cavaco pretendia insistentemente criar nos anos oitenta e que Sócrates anda há dois anos a "reciclar" - é agora um ser embrutecido, ensimesmado e triste que se refugia na sua pobre pessoa e que evita, até com o olhar, o Outro. Existe um preocupante trânsito de abúlicos reais por aí, directamente saídos da melhor ficção científica. O médico de Francisco Franco, o "generalíssimo" aqui do lado, revelou esta semana que, já moribundo e perante a nossa original "revolução dos cravos", o seu doente ter-lhe-á dito nada recear "daqui", afirmando que "os portugueses são uns cobardes". Este solipsismo social que anda aí pelas ruas é a forma "moderna" dessa cobardia, incompreensível para um homem que venceu uma guerra civil com milhares de mortos e que dirigiu, sem tergiversações e com sentido do "tempo" (diferentemente de Salazar), uma Espanha próspera e alegre. O "ipod" é a "nova oportunidade" dessa cobardia, o pequeno objecto que finge a alegria solitária de uma raça que, de há muito, deixou de ir a lado algum. Bom proveito.
20 comentários:
Caro João Gonçalves:
Prefiro refugiar-me no meu iPod a ter de suportar as imbecis conversas entre balconistas e doutorzinhos da nossa sociedade, os estimulantes debates acerca do senhor "scólari" e da senhora "bábara" guimarães, as diarreias verbais acerca do senhor pinto da costa ou as comprinhas de natal. Não abdico dos meus adiolivros (tenho ouvido centenas a caminho do emprego) nem do meu Handel ou do meu Beethoven.
Para lixo já me basta a imagem desta realidade portuguesinha.
O que é que eu ganho em "partilhar" o espaço público com esta canhalha? O João por acaso tem ganho alguma coisa? :-)
Caro João Gonçalves
Bem. Quanto à "raça", já está abastardada à quase 100 anos. Triste é pensarmos que fomos os melhores e ao mesmo tempo cuspirmos na história, plantarmos bandeirinhas nas varandas e nas antenas dos carros como se esse fosse o gesto adequado da expressão pátria, confundirmos valores e tradições com arcaísmo e passado. Somos um país, artificialmente mantido pelos fundos comunitários, onde qualquer voz que rebata o regime "virtuoso" é logo apelidada de "fascista"!! Vamos a ver como a "alma" vai ficar quando o desemprego atingir os 25%.
Caro João,
O "ipod", só?
Estás a esquecer os jornalecos grátis e os diários de "referência" como "A Bola" e o "Record".
Quanto à Espanha próspera e alegre, com "sentido de tempo" (diferente de Salazar), estás enganado, ainda nos fins dos anos 60 a Espanha era uma miséria face a Portugal, basta lembrar a diferença do valor das moedas, o que perdurou até pouco depois do 25 de Abril.
Quanto à alegria e ao "sentido do tempo", pergunta aos garrotados, fuzilados e aos milhares de mortos do Franquismo, (face aos trinta e poucos mortos em incidentes com a PIDE ou nas prisões) que eles esplicam-te!
A propósito do assassinato de Dallas, pode ver uma "vídeo-paródia", a que nem Marilyn Monroe escapa.
Ver
esta parece um pouco rebuscada, não é por mim, que não uso transportes, nem ipod e telemóvel o quanto baste, mas vejo isto em todos os países que tenho visitado, o embrutecimento é outro.
Os portugueses, na sua maioria, não sabe tirar o proveito devido das novas tecnologias...São uns novos-ricos constantes! Podem não ter dinheiro para comer...ou para mandar os filhos para a escola, mas um telemovelzinho no bolso e na orelha, ah isso tem de ser!!!
Uns ANALFABETOS MENTAIS!
Concordo com a opinião de vanguardista em relação à Espanha franquista. Seria que a "alegria" nascia de um tal Real Madrid ou com a selecção nacional espanhola ??
Quanto ao resto até compreendo. E eu que nem tenho telemóvel (nem nunca tive, não aprecio o objecto), nem sei o que é o ipod.
O aparente "novo" Homem Português... sem nada (em termos de conteúdo), mas cheio de coisas em seu redor.
Deixe lá, Gonçalves; antigamente andava tudo de gravata e chapéu-de-côco e também nunca foram muito longe. É mesmo assim.
«a maior parte das pessoas» é um exagero, mas que há quem, idiotamente escravo desses brinquedos, estorve ou venha contra os outros em locais onde é suposto as pessoas circularem, lá isso é verdade.
Ainda voltando a este assunto do Post
... que não “entendo” no seu “todo”
... mas que “concordo”, especialmente em
“ ... O "ipod" é a "nova oportunidade" dessa cobardia, o pequeno objecto que finge a alegria solitária de uma raça que, de há muito, deixou de ir a lado algum. Bom proveito... ”
porque se o DITO veio facilitar, as comunicações conferindo maior rapidez/mobilidade
por outro sem dúvida veio INDIVIDUALIZAR veio contribuir enormemente para, o que refere como “... solipsismo social que anda aí pelas ruas ... "
No fundo é mais uma vez uma IMPOSIÇÃO que nos caí de cima
Cabe a NÓS “gerir” essa OFERTA ... e, isso mais uma vez tem a ver, tambem, com o que está escrito a seguir do título do seu Blogue
“ ... estado de crise moral em que nos encontramos ... “
António J.Saraiva já aflora esses tópicos.E também Feijó,na correspondência com Luís de Magalhães.Hoje seriam "excomungados" na praça pública...
Quanto à Espanha...bom a Espanha é diferente (e isto não é um slogan turístico,mas sim um truísmo).Ali permanece o fascínio pelo "ballet de la muerte",por muita cosmética semântica que lhe queiram aplicar...
Um país permanentemente hipotético também.
Lá está o João com esse seu problema em evoluir no pensamento quando se fala das novas gerações, e tudo o que de mau (e tambem de bom!!) nelas surge. O problema não são os iPods, nem os copos de plástico. O problema é outro e bem mais grave, e esse não surgiu certamente na próprio geração.
Aguarde para ver o que daqui vai sair. A sua sorte é que provavelmente ja não vai estar para assistir. A minha sorte será eu sair daqui o mais rápido possivel. Felizmente já estou a trabalhar nisso!
JBS
É uma forma como outra qualquer de fugir á realidade!
Quando deixamos o Tejo não foi uma forma esquecer o que se não pode esquecer?
Como aquele emigrante sem sucesso,quando perguntado sobre a sua terra respondeu "Já não me lembro"!
Ninguem se esquece da terra onde nasceu.O "ipod" é tão útil como um barco á vela.
portugal ainda é dos países europeus onde se vê menos pessoas com ipods...
(felicíssimo utilizador de um)
Está visto que o Sr. João Gonçalves é um grande fã do Vale dos Caídos. Mas apresse-se, pois o governo de Zapatero, prepara-se para "profanar" esse templo Franquista, retirando-lhe as conotações à "bondosa" ditadura do Sr. generalíssimo.
Olá desiludidos da vida!
Com toda esta cobardia, cá vamos cantando e rindo.
Felizes? Nunca fomos.
Alegres?Nunca fomos.
Cobardes? Alguns de nós sê-lo-ão (a começar pelos que entendem estar a viver no meio de atrasados mentais) mas a maioria não o é e a guerra do Ultramar (Colonial para os Anacletos mais sensíveis) provou-o.
O Franco disse o quê? Mas que interessa o que disse um f. da p.?
Vão-se catar durante o fim de semana!
Perante tanto pessimismo - atávico , entre os portugueses - acho que me cabe deixar aqui uma luz de esperança . O Ipod , tal como o Walkman e outros produtos já "falecidos" , é usado massivamente no Metro de Nova Iorque ou no TGV europeu , facto que até nos coloca "au pair" com essa gente tão educada e desenvolvida . Pelo menos nisso .
Mas a esperança reside na imigração : já existem sinais de que os milhares de brasileiros(as) que por cá montaram arraial começam a dar um pouco de "sal" à nossa pasmada sociedade . Pelo menos no futebol , na música e na alegria de viver.
E já não é pouco .
José Guedes
A utilidade do iPod consiste em dar música ao tempo vago que liga as ocupações que temos. A meu ver, certos iPods são um meio de culturizar o tempo. E face á questão da cobardia...não há nada tão simples como retirar os phones.
se a dita raça(não sei se o João Gonçalves se refere a Dobermans ou ao rafeiro alentejano) não vai a lado nenhum(há séculos segundo ele), porque este pobre bloguer se preocupa tanto com ipods e similares. Deveria viajar mais, Londres e tal, para ver que o fenómeno não se restringe à paróquia. No fundo com blogueres destes não se trata de ir a algum lado, eles mesmos deixaram de ir, já não vão e refastelam-se em descobrir sinais desse não ir nos outros, que esses outros são os culpados pela triste situação de não ir da sua pessoa.
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