5.11.07

RUA A RUA, PORTA A PORTA


«A interpretação da Bíblia pode efectivamente tornar-se um instrumento do anticristo, escreve Ratzinger. O papa refere-se à exegese moderna, científica, na qual o próprio Deus não diz nada. Clemente de Alexandria, há 1800 anos, na Exortação aos Gregos, também avisava os fiéis para fugirem dos demónios como se fugissem de bestas selvagens; embora na altura a tarefa de Clemente fosse a desconstrução dos deuses gregos, existem algumas semelhanças entre as duas missões. Ratzinger pretende evangelizar de novo e não o esconde, Clemente iniciou uma evangelização. Ratzinger tem como adversários, diz ele, o hiper-racionalismo, a fé na ciência e o distanciamento de Deus; Clemente lutava contra os "deuses adúlteros", os estóicos ("que cobrem a filosofia de vergonha") e os epicuristas ("afirmam que Deus não se importa com o mundo"). O último livro do Papa - escrito de forma acessível - é de leitura obrigatória para quem quiser antecipar a política do Vaticano para os próximos anos. Vai ser uma luta rua a rua, porta a porta.»

Filipe Nunes Vicente

11 comentários:

Anónimo disse...

"...hiper-racionalismo, a fé na ciência e o distanciamento de Deus."

Quem me dera que a nossa sociedade fosse hiper-racionalista e com fé na ciência, empregando os seus métodos de busca da verdade - método ciêntifico. A maioria dos Idiotas que nos governam não tería emprego.

Quando leio os seus comentários acerca de fé e religião (sobre a falta destas virtudes), vem-me constantemente à memória uma frase de Flaubert que li algures:" Não existindo já os deuses e não existindo ainda Cristo, houve de Cícero a Marco Aurélio, um momento único em que só existiu o homem."

Ratzinger sabe que estamos numa época semelhante à que Flaubert falava, com a agravente de que naquela altura a fé existia, agora existe um vácuo enorme no que toca à existência do absoluto. O assalto iniciado por Newton (sem que este o desejasse) tem sido constante e avassalador. Cada vez há menos espaço para o metafísico no nosso mundo físico.

Num mundo em que a manifestação mistica se reduziu aos desenhos nas searas de trigo é difícil para Ratzinger escolher adversários, por isso ataca a ciência e o racionalismo.(ainda não li o livro , apenas comento o comentário)
Insisto, os problemas da nossa sociedade não se resolvem pondo em causa a racionalidade ou o método ciêntifico.

Gostaria de recomendar ao forum a leitura de um livrinho de Carl Sagan - Um mundo infestado de Demónios - que expressa, muito melhor do que eu alguma vez poderei, estes pontos de vista.

Cumprimentos

Anónimo disse...

Caro Senhor Joao Gonçalves,

Esta sua veia de beato de escritos apócrifos são um case study...

Esta sei que é só para si, pois presumo que a sua cristandade tb será inquisitória...


Saudações

Conde de Sortelha

João Gonçalves disse...

Foi logo buscar o Sagan, um dos maiores pantomineiros da "ciência ao alcance de todos". Try another one.

Anónimo disse...

Deus existe.

O que está em causa será a Fé na Ciência e não naturalmente a própria Ciência. Esta tem sido construida ao longo dos tempos com bons ou maus propósitos. Quantas vezes tem sido aproveitadas para bons fins tecnologias de guerra e vice-versa.

A procura de Deus deve ser constante no nosso dia a dia, procurando contrariar a tendência natural para a destruição que a Vida possui. É este o caminho que certamente o Papa pretende ver seguido. Manter a Luz sempre ao fundo do Túnel, a guiar-nos.

João Távora disse...

Essa do Conde de Sortelha é um cómico abuso...

Anónimo disse...

"Foi logo buscar o Sagan, um dos maiores pantomineiros da "ciência ao alcance de todos". Try another one."

A cada um o seu Santo...

Não percebo porque apelida Sagan de pantomineiro (intrujão) da "ciência ao alcance de todos".
A ciência está ao alcanse de todos! Basta perder algum tempo (bem sei que ele não abunda nos dias que correm) para aprender os seus fundamentos básicos.
Sinceramente nunca percebi qual é a dificuldade que as pessoas têm com a ciência. É tão complicado aprender a lei da atracção universal universal como entender a républica de Platão, ou a teoria Keynsiana da economia de mercado.

No livro que sugeri, o autor sugere que, face a um mundo em que a desinformação impera se proceda com cepticismo e mente aberta aos problemas com que se nos deparam. Sugere que o método ciêntifico seja empregue em questões que nos afectam actualmente e é profundamente contra o obscurantismo das "verdades feitas" inalteráveis e eternas.

Se o João Gonçalves não leu o livro sugiro que o leia - assim como eu quero ler o do seu "profeta" para poder criticar.
Acho que chamar intrujão a uma pessoa que diz categoricamente que: "Os patriotas fazem perguntas!" ou "Se a educação é cara, muito mais caro sai a ignorância!" é no mínimo uma desconsideração.

Por último, sou da área de ciências (física) e acho que a ciência está ao alcance de todos - não sou nenhum iluminado que viu a luz - e no entanto estou a lê-lo a si.

Cumprimentos

Pedro Picoito disse...

A frase não é do Flaubert, mas da Yourcenar. Lamento ser hiper-racionalista.

joshua disse...

O abismo atrai o abismo: o amor da ciência não é a fé nela como num absoluto ou sequer no racionalismo como noutro. De fascínio em fascínio, a Ciência não pode retribuir como a plenitude da Relação com o divino no humano.

O que convém ao Homem é uma noção integradora e holística que nada exclua da experiência e intuições luminosas dos nossos antepassados, seja ela na vertente mística e ânsia de Além, seja no permanente questionamento e transformação da realidade.

Amar a Deus com todo o Ser, com toda a mente, de todo o coração, é uma formulação abrangente e ambiciosa que exige se lance fora todos os orgulhos suicidários que nos foram dizimando desde o princípio, não a Ciência ou o Progresso. O orgulho racionalista não integra outras dimensões da complexidade que nos constitui e o problema de Deus não é enfrentável eliminando-O sem que nos eliminemos em simultâneo. A nossa caminhada no Planeta tem um peso eminentemente religioso de muitos milhares de anos que não representa qualquer lastro, mas a bela experiência de uma peregrinação comum.

Hojem, até as nossas mais profundas ânsias estão soterradas de pragmatismo, dispersas por mil e uma coisas, e o Céu é olhado com desdém. Urgente, por isso mesmo, uma refontalização. Isso faz-se tanto com uma pregação ardente e convicta quanto com uma calorosa e acolhedora caridade fraterna praticada.

Tudo, porém, está em crise e numa dormência impressionante. Comiam e dormiam e não quiseram saber até que sobreveio a PARUSIA como um ladrão.

No último domingo, eu, que andava com o coração pesado de preocupações, dei por mim à beira-mar, testemunhando um novo e belíssimo ocaso e o que foi extraordinário foi sentir um vislumbre, um odor passageiro, ao tempo em que vivia leve, inteiramente nas mãos de Deus, despreocupado, numa essencialidade límpida de coração. Leve, com os olhos postos no Alto e, claro, imensamente feliz.

Depois regressei às preocupações e ao registo pesado de viver aflito com as coisas quotidianas do costume. Ficou a noção de como é fácil ser feliz e de como uma vida espiritual intensa basta para nos dar o cume da alegria. O meu cume da alegria, obviamente, é o CRISTO comungado e escutado com o coração. Ele que está Vivo e Reina ONTEM, HOJE e SEMPRE.


joshua

Anónimo disse...

Pedro Picoito:

Efectivemente foi no livro "As memórias de Adriano", nas notas finais, que descobri essa frase; no entanto a autora não assume a sua paternidade, atribuindo-a a Flaubert numa das suas cartas.

Não deixa no entanto de ser uma grande frase!

Quanto ao "Hiper-Racionalismo", lamento não conseguir vislumbrar o que é ser excessivamente racional; será que existe uma escala? Até 500 perguntas/respostas é-se racinal, para além disso é ser-se hiper?

Ratzinger afirma ter uma relação especial com o criador do Universo - é o seu apóstolo. Serei eu "hiper-racionalista" em me perguntar 'porquê'? Serei eu "hiper-racionalista" em achar estranho que o criador do Universo não sabia até 199i que era a Terra que gira em torno do Sol e não o contrário. Ou então que se esqueceu de avisar os seus representantes cá em baixo, evitando que estes destruissem os seus semelhantes que acreditavam o contrário?
A lista é extensa (não sei se ultrapassa as 500 perguntas).
É acerca disto que se refere Ratzinger quando fala de fé na ciência? Se é estamos mal!

Cumprimentos

P.S. As perguntas aplicam-se a outras religiões e pseudo-religiões não derivadas de Abraão.

JP disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

Ainda com a conversa da evangelização? Mas quem é precisa de religião? As pessoas precisam tanto de Deus como do Pai Natal (e por acaso até estou à espera que digam que o pai natal é necessário para o desenvolvimento psicossomático equilibrado das crianças, etc., etc., etc., ). Deus não existe sem ser na cabeça das pessoas e vejo as pessoas a perderem o pouco e precioso tempo que têm de vida dedicando-se a um vulto, uma sombra, um fantasma, que nem sequer está lé, numa estupidez pegada, esterilizante, castradora, estupidificante. Gostam de mitologia, o Tolkien também criou uma bastante credível e, provavelmente, nem sequer a melhor. O que vejo acontecer é o ressurgimento do fundamentalismo (felizmente já ninguém vai na cantiga de dar poder político/público à Igreja) cujo esmorecimento foi a principal razão da descolagem da Europa em relação ao resto do mundo.
Eu, sinceramnete, não quero ofender ninguém, mas, para mim, isto é tudo uma estupidez pegada, que já perdeu o interesse exótico que o folclore sempre tem.