2.2.08

RETRATO DO PAI NATAL


Quando vi quem era o novo ministro da Cultura - o advogado Pinto Ribeiro - disse a alguém que se tratava de uma espécie de Fernanda Câncio de fato e gravata. "Esquerda caviar", bem ataviado, bom aspecto, boas "causas", com um pezinho bem calçado fora do "sistema" e o resto do corpo bem por dentro, enfim, um pseudo "outsider" que fica sempre bem num regimento partidário de óbvia extracção. Também apoiou Mário Soares na sua recandidatura minimalista e esteve bem à vista, do lado dos "bons", no referendo sobre o aborto. Eis que é justamente Câncio, melhor do que qualquer escriba da secretaria-geral do ministério de Ribeiro, quem produziu o currículo adequado a figurar no "sítio" do MC. Nem Carrilho, quando começou, teve tão boa propaganda. Que nos diz Câncio do seu admirado Ribeiro? «Parece ter no máximo 40 e tal anos. "Uma cara de miúdo", como diz o amigo e sócio nas Produções Fictícias Nuno Artur Silva», ou então, nas palavras de Luísa Schmidt - «socióloga e companheira de luta pelos direitos cívicos», como se estivéssemos a falar de um herói do Tarrafal ou da II guerra mundial - uma criatura com uma «extraordinária energia». Este magnífico homem, para além destes primeiros predicados, ainda pode ser comparado, segundo Nuno, aos U2 porque «faz muita advocacia pro bono». A "colega" piadista Ferreira Alves, não estivesse tão ocupada com o dr. Soares, certamente não diria melhor. Mas há mais. Ribeiro, para descanso do país e das gentes da cultura, é «genuinamente de esquerda» apesar das medonhas origens sociais que não recomendavam o qualificativo e da «advocacia de negócios" (como ele próprio diz), com inúmeros bancos e grandes empresas a fazer o grosso da clientela.» Indomável, Pinto Ribeiro «ia sistematicamente passar férias no estrangeiro, vivia e convivia com outros mundos». É, diz-nos Câncio, em 1978 que este extraordinário cidadão começa a fermentar «a espessura crítica do seu olhar sobre o sistema jurídico português » e a descobrir «a injustiça da justiça portuguesa, portanto.» Nasce, dez anos depois de bem fermentada a ideia, o "Fórum Justiça e Liberdades" que o tornará ainda mais famoso e vaidoso, se bem que Câncio ache que o dito "Fórum" foi «uma referência, durante os anos 90, em termos da defesa e construção de um verdadeiro Estado de Direito», presumivelmente contra Cavaco e contra Guterres. E, para acentuar a "independência" do novo ministro, o panegírico da jornalista recorre a um exemplo mais recente: «Pinto Ribeiro criticou, em Outubro de 2006, o Governo - mais concretamente o então ministro da Administração Interna António Costa -, a propósito da violência policial, por "não impor uma hierarquia de valores adequada às polícias.» Quanto à parte "cultural" propriamente dita do ministro, ficamos a saber que é «um «apaixonado da literatura que adora Ingmar Bergman e "as coisas de humor" (Nuno Artur Silva dixit), advogado de artistas mil (incluindo os Gato Fedorento), bem entrosado no meio das artes plásticas e membro da administração da Colecção Berardo.» Em suma, «era mesmo o Pinto Ribeiro certo.» Tão certo que a socióloga Schmidt já antevê «a inauguração de um novo estilo no Conselho de Ministros», fora o «mecenato cultural» que ele vai «activar graças ao seu espírito empresarial e aos contactos com o mundo da finança.» Finalmente, e num solene momento de introspecção, o nosso homem define-se como sendo «muito convincente» e «correr o risco da demagogia a todo o momento», assegurando nunca ter feito compromissos, «o que é uma coisa muito desagradável para os outros.» E termina com estrépito: «É muito fácil ser-se seduzido, entrar numa teia de relações toda feita de promessas e compromissos. É por isso que é complicado ser-se crítico nisto: só se pode ser isto a sério.» Isto não é o retrato de um ministro da Cultura. Isto é o retrato do pai natal.

21 comentários:

aviador disse...

Na direita não há vaidosos.

São todos muito humildes e repeitosos católicos.

O João Gonçalves se não existisse tinha de ser inventado.

Que demagogia!

Anónimo disse...

O «Jansenista», retrata-o assim :

- «Desde que os nossos caminhos se cruzaram há muito, muito tempo, ele sempre representou para mim o pior da esquerda caviar: muita conversa «radical chic» a sublinhar a pose peneirenta, as tiradas acacianas com pretensões a verve polida, os trejeitos pseudo-palacianos, os fatos de bombazine e a melena sugerindo um toque de rebeldia, tudo no meio da mais desenfreada arrogância, da mais incongruente vassalagem ao vil metal. Nunca, felizmente, lhe frequentei a casa: mas vários que o faziam testemunharam que a inflamada retórica spartakista só era interrompida por desagradabilíssimos impropérios e prepotências dirigidos à criadagem.
Bem escolhido».

Rui Vasco Neto disse...

joão,
impiedoso.
mas bom texto.

Joao Pedro disse...

porra! o gajo ainda nao aqueceu a cadeira, e...ja' isto???

sai mais uma garrafa de agua das pedras!

Anónimo disse...

Não conheço bem para poder opinar, mas qualquer elogio da Câncio, essa Barbie edição para crianças monoparentais, soa sempre um pouco fúnebre.
Se eu fosse o novo ministro depois de ler aquilo ia ao médico e mudava de alfaiate. Hoje. As duas coisas.

Anónimo disse...

Há que anos que este neneca, coitado, andava em bico de pés para aquecer uma cadeirinha ... era ele e o Severianinho, o cabecinha tonta da Defesa que engoliu "de pancada" um elefante, ontem, com o discurso do PR. Esse é que precisa de bicarbonato de sódio ...
Ministros de primeira água !

Anónimo disse...

Quanto a inteligência e sabedoria, ficamos esclarecidos. Saberá ele em que séc. viveu, digamos, João Pinto Ribeiro?

Karocha disse...

loollll


Ai! Ai! e depois a Karocha é que é doida e estupida. Bom artigo Parabéns! Se a Karochinha podesse falar! Mas eu adoro este blogue os artigos e os comentários e não quero que lhe façam nenhuma maldade . Pai Natal, loolll

Anónimo disse...

Pela triste experiência acumulada, aprendi a dizer que sempre que a bela Câncio se apaixona saco logo da pistola!

VANGUARDISTA disse...

Bom texto João!
Enfim, subiu a ministro mais um "zero à esquerda" que vive para por os "zeros à direita" .

Anónimo disse...

O curriculum adequado!!!
Nem mais, hilariante e terrivelmente verdadeiro. Vou pendurar estas linhas por cima do ficheiro topografico da minha sala, dependência menor do MC. É um ficheiro sem conteúdos.
Parabéns João Gonçalves!!

A. Cristina Duarte Ferreira

Anónimo disse...

Genial!

Não se esqueçam os meus caros de que a primeira dama da cultura é a Anabela Mota Ribeiro. Agora é que vamos todos ficar cultos e bem snobes...O Carrilho e a Bárbara Guimarães estão de volta: o Carrilho de melena e a Babá gorda, baixota e feia.

Tino disse...

Felicito o autor pela excelente prosa, cuja qualidade invejo.

Quanto à probabilidade do convite por engano, de Sócrates tudo é expectável menos que admita a realidade e fale verdade. Isto é bastante improvável...

Anónimo disse...

Até pode haver alguma lucidez neste arrazoado invejoso. Mas nem é tanto sobre o que a Câncio diz; é mais sobre o que o JG queria que ela dissesse...Veja-se o caso das viagens do ministro, o seu alegado cosmpolitismo....se ler bem não é sobre ele, é sobre o tio!!

Anónimo disse...

Concordo em absoluto. A qualidade que mais falta em Portugal é esta: Humildade. Desde o "mânfio" mais desprezível até ao PM, pois claro, a menor relativização das coisas em função de uma prioridade moral e ética absoluta, não é tida como qualidade mas sim como fraqueza. Ora, num país como nosso, onde o que se impõe é educar as pessoas e fazê-lo pela cultura, a "reabilitação" da "Cultura" como círculo fechado como mais um grupo de pressão não augura nada de bom: Continuamos satisfeitos com o que temos e lá vamos, cantando e rindo!

Anónimo disse...

Só sei que estou muito, cada vez mais, cansado destas pessoas. Na sua intimidade, devem ser adoráveis, quando tomam o pequeno-almoço, quando vão beber copos com os amigos ou comer uma sopinha de agrião. Nada a dizer deles. Mas já não tenho cu para a sua versão de "figuras". Que fazer? Emigrar?Ignorar? è uma possibilidade, mas depois fico sem pode usufrir de um espaço que gosto. E eles estão em todo o lado, caramba! Nas TV´s, nos jornais, com a suas fotografias mentirosas de 10 anos a menos que o presente, como se não cagassem nem dormissem sem maquilhagem, bos blogs, aqui, ali, acolá... porra!

Karocha disse...

pró anónimo:Acontece, ele à dias aziágos!Já me aconteceu, emigrar? pra onde? este paìs é único,bom clima, boa comida, BOA GENTE, ignorar? se ignoramos quem faz algo? Se não fossem os blog quem saberia do Sr. Sócrates? Quanto às figuras que quer que façam? quando a natureza é gentil, sabe o que acontece?"INVEJA" tás óptima quantas plásticas," não! estas a mentir" e tra lálá , tenha calma respire fundo como diz o Medina Carreira isto tem que ir se não for a bem vai a mal, mas lá que tem que ir tem:-)

Nuno Góis disse...

"Se a karochinha podesse falar!". Primeiro convinha que soubesse ou PUdesse escrever alguma coisa de jeito. Realmente HÁ comentários muito fraquinhos...
Quanto ao essencial devo dizer quenão entendo de todo esta crucificação à priori do novo ministro. O que é que ele fez para tanto comentário negativo? Quem propõem vocês para M.C.? Sem que o(a)trucidem antes de tempo?
Tive a felicidade de ter aulas com o actual ministro num curso de gestão e produção das artes do espectáculo (se isto nada tem a ver com cultura...)em que nos deu Direitos de autor, como conhecedor que é dessa realidade e pela ligação que teve a S.P.A. .
Foi sempre um pedagogo bastante acessível, sem peneiras e tratando todos de igual para igual. Ah é verdade e para além disso é mesmo muito culto.

Karocha disse...

"Trabalho (HÁ) à cerca de 10 anos em teatro..." - do perfil do Nuno Gois.
Não se atiram pedras aos telhados dos outros quando os nossos (os seus!) são de vidro!!
Bom fds.

Nuno Góis disse...

Desculpe karochinha, mas tive a amabilidade de só lhe apontar dois erros ortográficos, porque se fosse ser exaustivo ficava aqui horas...De qualquer forma agradecido pois foi uma distração que irei emendar. Curioso ter ido ao meu perfil só para poder responder...que futilidade.

E mais importante não era sobre o actual ministro que estávamos a falar? Tem alguma coisa realmente interessante a dizer sobre esta matéria?

Felicidades e uma boa gramática...

Karocha disse...

Boa noite a todos do blog, peço imensa desculpa a todos, pelo meu português - sou britânica.
Passei o fim-de-semana a cultivar-me! Estou a apreender Português arcaico!
Pensava, mal pelos vistos, que isto era um espaço de opinião (o que será de quem não tem cultura e quer opinar na NET).
A propósito de futilidades: já alguém sabe algo da entrevista de sua Exa. o Senhor Presidente da Câmara Municipal de Lisboa ? Gostava muito de receber notícias desta futilidade.

PS (post scriptum para não se confundir com partido socialista)- gostava de saber notícias de outra futilidade: Como é que o Senhor Ministro da Cultura vai dar a volta à Direcção-Geral de Impostos?