«Neste Natal, da conspiração de avós e netos, com as televisões em transmissões tipo RTP-Memória, entre José Hermano Saraiva e Mário Soares, com intervalos de Manuel Oliveira e José Saramago, todos somos sepulcros caiados de branco, escrevendo relatos de além túmulo, na eterna conspiração de avós e netos. Por outras palavras, precisamos que um qualquer Almada venha emitir novo manifesto anti-Dantas, porque muitos já estão fartos de casacas acolchoadas, sapatinhos de verniz a ombreiras almofadadas, com o consequente conceito de pátria portuguesa. O meu feliz Natal existiria se meia dúzia de inconformistas se juntassem, saudando o nascer de novo, nem que fosse para a emissão de uma sonora gargalhada ao ritmo do tal manifesto anti-Dantas.» Tem aqui um, José Adelino.
2 comentários:
Também eu.
É preciso muito cuidado com as comparações Dantas/Almada. Ainda não se fez um estudo da obra e da personalidade de Júlio Dantas. Para muitos foi "apenas" o autor de "A Ceia dos Cardeais" e durante muitos anos presidente da Academia das Ciências. Mas a sua vasta obra, escrita num português sem mácula, espelha um pensamento muito original e aborda temas muito delicados para a época, e que nada têm a ver com a "moral" ortodoxa do Estado Novo. As suas personagens não sáo apenas fidalgos e clérigos e os cenários das suas peças não se passam todos no Paço de Veiros ou nas Laranjeiras. Sob as roupagens de uma prosa requintada esconde-se um pensamento progressista. A maior parte das pessoas refere-se a Dantas sem o conhecer. Quanto a Almada, por certo artista de valor e também escritor reconhecido, utilizou muitas vezes o "escândalo" para se promover e não se coibiu de colaborar com o regime anterior como foi o caso, entre outros, dos seus cartazes para o plebiscito da Constituição de 1933. A sua fama de anti-situacionista construiu-se mais tarde.
Eu, que conheci pessoalmente um e outro, aconselho a que se estudem primeiro os homens e as obras e que, depois, se tirem as conclusões. Entretanto, neste dia de Natal de 2007, apetece-me dizer: Viva o Dantas.
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