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25.12.10

O DIA DE NATAL

Aparentemente não há mais nada a dizer no dia de Natal do que contabilizar mortos e feridos na estrada, de preferência por comparação com o ano passado. Também contam as centenas de passageiros congelados em aeroportos europeus, coitadinhos, e pouco mais. O dia de hoje, porém, fundou um mundo. Pouco importa que esse mundo esteja a desaparecer precisamente, entre outros sítios, nos corredores aeroportuários onde os tontos saltam de "felicidade" em "felicidade" até ao descalabro final. Mas porque está a desaparecer é que ele brilha mais - forte, seguro e firme. A pergunta que fazemos a nós próprios - meu Deus, por que me abandonaste? - instaurou-se desde o primeiro momento, no silêncio e na simplicidade da gruta e das palhas. E este momento que fundou um mundo só terá sentido nos dias de agora se se mantiver o diálogo, essa tensão que salva, muito para lá do agora. O dia de Natal é o começo da passsagem que termina na Cruz, na morte e na ressurreição. É a história de uma vida renovada quotidianamente na inquietação e na esperança contra toda a esperança. Não há outra.

25.12.09

ACENDER FOGUEIRAS NA NOITE DO MUNDO


«A luz do primeiro Natal foi como um fogo aceso na noite. À volta tudo estava escuro, enquanto na gruta resplandecia a luz verdadeira «que ilumina todo o homem» (Jo 1, 9). E no entanto tudo acontece na simplicidade e ocultamente, segundo o estilo com que Deus actua em toda a história da salvação. Deus gosta de acender luzes circunscritas, para iluminarem depois ao longe e ao largo. A Verdade e também o Amor, que são o seu conteúdo, acendem-se onde a luz é acolhida, difundindo-se depois em círculos concêntricos, quase por contacto, nos corações e mentes de quantos, abrindo-se livremente ao seu esplendor, se tornam por sua vez fontes de luz. É a história da Igreja que inicia o seu caminho na pobre gruta de Belém e, através dos séculos, se torna Povo e fonte de luz para a humanidade. Também hoje, por meio daqueles que vão ao encontro do Menino, Deus ainda acende fogueiras na noite do mundo para convidar os homens a reconhecerem em Jesus o «sinal» da sua presença salvífica e libertadora e estender o «nós» dos crentes em Cristo à humanidade inteira.»

Papa Bento XVI, Mensagem Urbi et Orbi, 25 de Dezembro de 2009


24.12.09

RASGAR A FINITUDE


Chegamos ao Natal e ao fim do ano com o país a saque. A saque dos "duros" do PS - como o Expresso designa os prebostes de Sócrates que se "distinguem", tão valorosos quanto capachos persas, pela virulência contra o Chefe de Estado e na defesa do extremoso líder -, a saque da nomenclatura angolana cuja testa de ferro é a "empresária" filha de dos Santos com a benção, segundo o mesmo jornal, do banco público, a CGD, a saque do acordo ortográfico que vai aplicar-se já ao Diário da República (aqui nunca se aplicará), a saque das televisões que macaqueiam o espectador, a saque da indigência "cultural" cúmplice do regime e das suas prebendas, a saque, em suma, de tudo o que confina o que já devia ser uma sociedade liberal sem aspas há muito tempo mas que persiste estupidamente autoritária e refém de donos precários que só a diminuem. Para o autor deste blogue, o Natal é acolher o Filho do Homem nos nossos corações e deitar para o caixote do lixo pessoal e colectivo a "ideia" de um pai natal cheio de prendas e de ilusões montado no bezerro de ouro. Jesus é, a partir do seu Advento, Aquele que nunca nos abandona. Neste sentido, é impossível "passar" o natal sozinho ou pretender que o natal se reduza a uma mesa farta de gente, de couves e de bacalhau. Como escreve Ratzinger na ilustração deste post, Deus fez-se a si mesmo finito para rasgar a nossa finitude e a Fé encontrará de novo o homem. É só isto que interessa. Um Santo Natal.

Postal: Povo

20.12.09

«BENDITA ÉS TU»


Estamos no último domingo antes do Natal. Dizer isto ou que está frio é a mesma coisa. O que interessa é correr às lojas e, mais tarde, ao estádio de futebol ou para as televisões que o substitui com manifesto conforto. Sucede que o Natal não é esta falácia nem a blasfémia do "pai natal" das prendas. O Natal é o mistério do nascimento de Jesus e a percepção da possibilidade de uma vida nova nos nossos empedernidos corações. O Menino representado nos presépios é o mesmo mistério da Cruz que constitui o maior escândalo das nossas vidas. Não intuir isto é não perceber o que é o Advento. É, verdadeiramente, não perceber nada. No Evangelho de hoje lê-se: «Naqueles dias, Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se apressadamente para a montanha, em direcção a uma cidade de Judá. Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino exultou-lhe no seio. Isabel ficou cheia do Espírito Santo e exclamou em alta voz: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. Donde me é dado que venha ter comigo a Mãe do meu Senhor? Na verdade, logo que chegou aos meus ouvidos a voz da tua saudação, o menino exultou de alegria no meu seio. Bem-aventurada aquela que acreditou no cumprimento de tudo quanto lhe foi dito da parte do Senhor. (Lc 1,39-45)» O Natal representa, não uma epifania circunstancial de alívio da má consciência, mas a consciência de Isabel denotada na Palavra: presença permanente e jubilatória do Espírito Santo na Fé consagrada de Maria, Mãe de Deus.

24.12.08

IR AO FUNDO DAS COISAS


«A fé é, antes de tudo o mais, Jesus Cristo nascido na palha de uma pobre gruta. Não pode, por isso, deixar de ser a inspiradora de um radicalismo evangélico que obriga o homem a ir ao fundo das coisas e a não se resignar perante as injustiças, por mais que a mansidão lhe tenha sido ensinada.»

Victor Cunha Rego

«Estamos divididos entre dois mundos, um, aquele de que emergimos, e o outro, aquele em direcção ao qual caminhamos. Este é o sentido mais profundo da palavra "humano": somos um elo, uma ponte, uma promessa. É em nós que o processo da vida está a ser levado a efeito. Temos uma tremenda responsabilidade, e é a gravidade disso que desperta o nosso medo. Sabemos que se não formos em frente, se não realizarmos o nosso ser potencial, recairemos, nos apagaremos, e arrastaremos o mundo connosco na queda. Levamos o Céu e o Inferno dentro de nós e toda a Criação está ao nosso alcance. Para alguns são perspectivas aterrorizantes. Mas desejariamos que fosse diferente? Seriamos capazes de inventar um drama melhor? (...) Se fores capaz de ser um verme, serás também capaz de ser um deus.»

Henry Miller


É preciso dizer rosa em vez de dizer ideia
é preciso dizer azul em vez de dizer pantera
é preciso dizer febre em vez de dizer inocência
é preciso dizer o mundo em vez de dizer um homem

É preciso dizer candelabro em vez de dizer arcano
é preciso dizer Para Sempre em vez de dizer Agora
é preciso dizer O Dia em vez de dizer Um Ano
é preciso dizer Maria em vez de dizer aurora


Mário Cesariny

23.12.08

UM CRESCENTE JURO DE MONSTRUOSIDADE


O Miguel "deu-me" como prenda um "livro" e uma bela epígrafe: "de baioneta em riste na terra de ninguém esventrada pela estupidez dos homens. Que nunca lhe esmoreça a atenção de sentinela." Retribuo com Jorge de Sena nestes dias cínicos em que tendemos a esquecer o que é o homem e, como dizia Michaux, caímos na tentação de lhe querer bem.

«O mal não se perpetua senão no pretender-se que não existe, ou que, excessivo para a nossa delicadeza, há que deixá-lo num discreto limbo. É no silêncio e no calculado esquecimento dos delicados que o mal se apura e afina - tanto assim é, que é tradicional o amor das tiranias pelo silêncio, e que as Inquisições sempre só trouxeram à luz do dia as suas vítimas, para assassiná-las exemplarmente. Por outro lado, o que às vezes parece amor do mal é uma infinita piedade de que os "bondosos" e os "puros" se cortaram: uma compreensão e um apelo em favor de que o amor do "bem" não alimente nem justifique a monstruosidade do mal, tanto mais monstruoso quanto mais, psico-socialmente, a idealização desse "bem" o confinou a ser. [A vida] só é monstruosa, não porque algo o seja, e sim porque o repouso egoísta, a ignorância, a falsa inocência, são sempre feitas de um crescente juro de monstruosidade. Nenhum realismo o será, se recuar aflito, mas porque, aflito, não recua.»

17.12.08

ESPERANÇA E MISTÉRIO


«Sotto la spinta di un consumismo edonista, purtroppo, il Natale rischia di perdere il suo significato spirituale per ridursi a mera occasione commerciale di acquisti e scambi di doni! In verità, però, le difficoltà, le incertezze e la stessa crisi economica che in questi mesi stanno vivendo tantissime famiglie, e che tocca l’intera l’umanità, possono essere uno stimolo a riscoprire il calore della semplicità, dell’amicizia e della solidarietà, valori tipici del Natale. Spogliato delle incrostazioni consumistiche e materialistiche, il Natale può diventare così un’occasione per accogliere, come regalo personale, il messaggio di speranza che promana dal mistero della nascita di Cristo.»

Papa Bento XVI

25.12.07

ÚLTIMO POSTAL DE NATAL


Na "Missa do Galo", em São Pedro, Bento XVI recordou que, quando Jesus nasceu, não havia lugar para Ele. Não havia lugar para Ele porque as hospedarias estavam cheias, esgotadas. Tal como então, também nós, modernos representantes das hospedarias de Jerusalém antiga, dificilmente encontramos - nas nossas atribulações, na nossa tonteria, no nosso egoísmo, no nosso narcisismo - lugar para Ele. Há doze anos, neste dia de Natal, estava sozinho em Havana. Comprei, às escondidas, livros proibidos pelo regime na praça da Catedral. O calor era intenso e, também ali, não queriam que houvesse lugar para Ele. Mas Ele estava ali, naquela praça, por detrás de cada sorriso hospitaleiro, de cada história pessoal contada à pressa, de cada vida sonhada diferente e vivida com a generosa e desesperada esperança cubana. "O Senhor está perto dos contritos de coração” (Sal 34/33, 19), lembrou Ratzinger. "O céu não pertence à geografia do espaço, mas à geografia do coração. E o coração de Deus, na Noite santa, inclinou-Se até ao curral: a humildade de Deus é o céu. E se formos ao encontro desta humildade, então tocamos o céu." A amargura e a futilidade que se apoderaram dos nossos corações impedem-nos de "tocar o céu", isto é, de surpreendermos a esperança onde menos esperamos surpreendê-la. Numa rua de Havana, há doze anos, pediram-me um dólar que recusei. Nunca acreditei na esmola. Acho-a indigna. Disseram-me então: "tu não és um homem mau, és um homem amargurado". Havia, nesta frase singular, uma sabedoria que me ultrapassava porque não estava atento à "geografia do coração". Como Vergílio Ferreira, pergunto e afirmo agora: «Porque se me não apaga a memória de quando nascias vivo? De quando, em noite límpida e frígida, tu descias das estrelas e te aguardávamos no que de novo sorria na nossa solidão? Tudo agora é tão de mais. Tempo de um amanhã sem remédio, e o cansaço, o cansaço. Timbre de sinos de outrora, sinos de prata dobram agora para a morte. Morte de ti. Morte de nós."

24.12.07

POSTAIS DE NATAL - 3


POSTAIS DE NATAL - 2

Fala-se da "magia" desta época. As crianças são enganadas e idiotizadas pela figura de um "pai natal" que não existe. Espertas, anseiam por abrir os pacotes que as esperam a um canto da casa há muito lá postos pelo pai ou pela mãe, "biológicos" ou "de afecto" para sermos correctos. Os adultos, coitados, ainda conseguem ser mais idiotas do que as crianças, correndo de um lado para o outro, alimentados de mentira. Há anos e anos que hoje é véspera de natal. Passa por ser "a festa da família". Mesmo aquelas famílias que se odeiam respeitosamente, não se privam. Aqui houve tempos disso até que, de acordo com o cânone, as pessoas começaram a separar-se e a morrer. A partir de certa altura da vida, o natal é uma imensa caixa registadora que apenas me revela o passivo. O da família, o dos amigos, o dos amantes, o dos conhecidos. Em suma, o que em mim diminuiu de "humano". Por isso o dispenso enquanto "festa" e o lembro exclusivamente como aquilo que sempre foi. O momento teimosamente renovado em que o absoluto Outro se fez homem - "Deus connosco" - para nos "salvar".

23.12.07

POSTAIS DE NATAL - 1

As arcadas da Praça do Comércio, em Lisboa, são o derradeiro refúgio de muitos sem-abrigo. Homens e mulheres de qualquer idade dormem ali, embrulhados em cartão ou, com alguma sorte, num edredão para dois. "Deitam-se" cedo, como pude verificar esta semana quando me encaminhava, ao princípio da noite, para a nova estação do metro, no Terreiro do Paço. De dia, andam por ali de olhos postos em lado nenhum. Não imagino como reagem à Praça aberta aos domingos ao caprichismo demagógico do dr. Costa. Esta gente foi expulsa da vida e não possui quaisquer ilusões sobre a "humanidade". O Filho do Homem nasceu e viveu na maior pobreza material e na maior riqueza do coração. Maria e José bateram a várias portas e ninguém os acolheu. Foi num estábulo, dentro de uma gruta, longe dos homens, escondido e perseguido, que Deus surgiu menino. E esse Menino que emerge amanhã dentro do coração de cada um de nós, nada tem a ver com o materialismo desenfreado associado ao "natal" transformado em centro comercial. Levar o Menino Deus junto daqueles que perderam toda a esperança Nele e no homem, é cumprir a verdadeira mensagem do Natal. "Ele está no meio de nós" quer dizer isso mesmo: intransigência na esperança e na fé, contra o mundo, a frivolidade e a morte. A lição do Menino da gruta é a maior lição de vida destes dias. O resto é lixo.