O José Adelino Maltez é das poucas pessoas com quem ainda aprendo alguma coisa. Por isso, chegar a casa e vê-lo comentar, na SIC Notícias, o provável encerramento de pequenos partidos à conta da lei aprovada pelos grandes há três anos, foi uma lição. Como ele bem recordou, muita da gente que nos pastoreia não teria sido nada na vida se não tem passado pela ecologia do "radicalismo pequeno-burguês" - de esquerda ou de direita, passe o recurso ao título de Álvaro Cunhal -, na maioria dos casos, ou pela "dissidência" em relação aos quatro maiores. Nenhum grupúsculo ou partideco fez realmente mal a estes trinta e tal anos de democracia. Pelo contrário, os partidos do Estado - e estou à vontade porque pertenci a um deles durante vinte e um anos - induziram na sociedade e na vida política tantos vícios e tanta cupidez que o cidadão cada vez mais desconfia de uma democracia que se confunde com eles. O fenómeno Alegre nas presidenciais, a derrota do PS numas autárquicas escassos meses após uma maioria absoluta, a eleição do edil de Lisboa por apenas cinquenta e tal mil votos, o progresso da abstenção em todas as consultas populares, nada disto obriga os partidos do Estado a usar a cabeça, se é que a têm. Defendem-se com legislação "caseira" que serve de muro ao que se passa lá fora e que, excluídos os "partidinhos-satélites" estilo "verdes", "PPM's" e outros que tais, expulsa do folclore democrático (uso benevolentemente o termo) outros com idêntico direito à "animação partidária". Ninguém se iluda. Os partidos do Estado - incluo na designação o PC e o CDS - estão destinados a reproduzir humanóides sob a forma de políticos, "replicantes" em linguagem "Blade Runner". Basta olhar para as bancadas parlamentares para se perceber como se degradou, em todos os sentidos, a composição institucional mais representativa. Os partidos do Estado precisam urgentemente de uma "cimeira de Bali" ou de um "protocolo de Quioto".
3 comentários:
Só falta mesmo o senhor Raúl dos Santos, ex-presidente da câmara de Ourique e actual deputado pelo Porto, fundar o partido dos que não querem soprar no balão.
Os estudiosos do liberalismo clássico, e temos alguns de grande qualidade intelectual em Portugal, avançam com o conceito de «democracia totalitária».
Escreve Rui A. ;
- «(...)em circunstância alguma um liberal defende a soberania ilimitada do Estado, seja qual for a sua origem ou «legitimidade». Para o liberalismo, nenhuma soberania ilimitada é legítima, ainda que decretada pelo sufrágio universal. Nós mesmos, aqui no Portugal Contemporâneo, temos vindo a assinalar reiteradamente as limitações naturais que a regra democrática deve conhecer numa sociedade livre, bem como temos escrito que a sua transformação em fim legitimador do poder político, em vez de permanecer como método legitimador dos governantes, conduziu às democracias totalitárias em que vivemos(...)».
O desaparecimento dos "pequenos partidos", é apenas mais uma «afinação» na senda da democracia totalitária.
Eu também ouvi o Prof. Adelino Maltez e tenho imensa pena que tenha sido interrompido pela jornalista precisamente na altura em que ia explicar que estas atitudes do Poder são típicas do esgotamento dos regimes ...
excepcional.Só faltou referir os inefáveis "J" que fazem parte da Cãmara de horrores que se tornou a nossa politica
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