Fala-se da "magia" desta época. As crianças são enganadas e idiotizadas pela figura de um "pai natal" que não existe. Espertas, anseiam por abrir os pacotes que as esperam a um canto da casa há muito lá postos pelo pai ou pela mãe, "biológicos" ou "de afecto" para sermos correctos. Os adultos, coitados, ainda conseguem ser mais idiotas do que as crianças, correndo de um lado para o outro, alimentados de mentira. Há anos e anos que hoje é véspera de natal. Passa por ser "a festa da família". Mesmo aquelas famílias que se odeiam respeitosamente, não se privam. Aqui houve tempos disso até que, de acordo com o cânone, as pessoas começaram a separar-se e a morrer. A partir de certa altura da vida, o natal é uma imensa caixa registadora que apenas me revela o passivo. O da família, o dos amigos, o dos amantes, o dos conhecidos. Em suma, o que em mim diminuiu de "humano". Por isso o dispenso enquanto "festa" e o lembro exclusivamente como aquilo que sempre foi. O momento teimosamente renovado em que o absoluto Outro se fez homem - "Deus connosco" - para nos "salvar".
5 comentários:
Certeiro.
Natal - uma contabilidade de ausências,pessoais e afectivas.
Mesmo assim,e dando de barato o cepticismo,atrevo-me a desejar-lhe um Bom Natal,sem qualquer ironia.
E com a certeza da sua lúcida "companhia" ao longo de 2008.
Cpmts
Não me leve a mal,mas deixe-me desejar-lhe um Bom Natal.
A si,que me faz tanta companhia.
Um abraço.
... certeiro como sempre... eu é que não tenho a sua coragem (nem - ainda - as mágoas, admito).. para mim é uma questão de concordância estética.
Ontem tive a felicidade de assistir a uma bela homilia,aqui na Igreja de Almada,no 4ºDomingo do Advento.Por mera coincidência,foi também o dia dos meus 52 anos.Saí tranquilo,em paz com a minha consciência,para viver mais um dia,como tenho feito desde hà quase 8 anos,quando um carcinoma da supra-renal esquerda, me fez repensar de modo diverso, o correr desta vida.
Relativizo mais certas coisas e aprendi a ignorar tantas outras,enquanto valorizo o que se calhar dantes não via.Uma extraordinária mulher(quase 25 anos de casado)e dois filhos já quase,também, "lançados".
Meu caro,compreendo algum do seu desânimo,eu, leitor fiel do seu blog.Por isso,desculpe o atrevimento,mas embora o que à nossa volta por vezes não seja bom de ver, cá vai:
Boas Festas,saúde e continue a escrever.
A pessoa que escreveu isto:
"As crianças são enganadas e idiotizadas pela figura de um "pai natal" que não existe."
é a pessoa que escreveu isto:
"O momento teimosamente renovado em que o absoluto Outro se fez homem - "Deus connosco" - para nos "salvar"."
Sou o único a ver algo de inconsistente aqui?
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