20.11.03

UNA VOCE POCO FA

Para não dar demasiado nas vistas, o Teatro Nacional de São Carlos, nas pessoas da sua direcção e do secretário de Estado da Cultura, "divulgou" a temporada lírica, que começa em Janeiro, abdicando da figura, usada na "mini-temporada" de Outono, da conferência de imprensa. Lidas as notícias do evento nos jornais e o habitual comentário do crítico, alinhavo de seguida umas breves notas:

Positivas

1. Estão de parabéns o sector de marketing e imprensa do Teatro e, logicamente, o Director do Teatro, pela alteração qualitativa introduzida no site. Não será porventura o ideal, mas dentro do possível, é bem melhor do que a miséria anterior.

2. Eu tive as suficientes divergências relativamente a Paolo Pinamonti, entre outros mais sérios motivos, para me ter demitido da direcção do Teatro. Tenho-o criticado aqui sempre que julgo oportuno, fundamentalmente pela forma como exerce as funções de director, que acumula com as de director artístico. Como tal, as suas escolhas das produções, para a "contingência" nacional, foram e continuam a ser de qualidade, mesmo quando recorre ao seu petit comité de conhecidos. Antes de Pinamonti houve grandes momentos em São Carlos, naturalmente. Como é dele agora a responsabilidade, é por isso que o elogio. Nas actuais circunstâncias e "apertos", não se pode ir muito mais longe.

3. Também deve ser saudado o regresso da Orquestra Sinfónica Portuguesa ao Centro Cultural de Bélem, para os concertos sinfónicos, e em dias de semana adequados. É um espaço que agrada simultaneamente ao público e à Orquestra. Bom seria que o maestro titular, tantas vezes distante por tantos e tão prolongados períodos, andasse mais por perto.

Negativas

1. O secretário de Estado da Cultura voltou "à vaca fria" da ideia de uma"empresa" para substituir o actual figurino do instituto público. A desculpa é sempre a mesma, a da "flexibilização" dos procedimentos. Se Amaral Lopes lesse com atenção a presente lei orgânica do Teatro- e , mutatis mutandis, as dos outros teatros nacionais- veria que ela prevê mecanismos mais do que suficientes para garantir a tal flexibilidade exigida pelas produções. Haja, sim, orçamentação plurianual e verbas adequadas. Dou a mão à palmatória: a recuperação da autonomia financeira dos Teatros - que também prometeu depois de a ter deixado escapar-, no actual contexto, é essencial. Ponto final. As "empresas" ou as "fundações" não são precisas para nada, a não ser para dar aos seus putativos administradores um conjunto de prebendas que, num instituto público, não são viáveis. Mas nem em relação a isto Amaral Lopes acerta. Num dia, é uma "SA", no outro, uma "empresa pública". Parece que chamou ao D. Maria, de que foi presidente da Comissão de Gestão, escolhido pelo Sr. Sasportes, "peso morto". É caso para perguntar o que é que lá andou a fazer.

2. Ficou-se a saber que, segundo as contas da direcção e da tutela, o Teatro tem, em 2004, um acréscimo de cerca de 10,7% para as produções. Não vale a pena embandeirar já em arco com isto. É melhor esperar pelo mês de Janeiro de 2004 para ver se não terão que ser feitas "cativações"... Por outro lado, a concentração das que, julgo, virão a ser as duas maiores produções, em termos financeiros, no primeiro trimestre, com a séria hipótese das "cativações", a burocracia das autorizações de despesa e de pagamento, o anacrónico regime duodecimal e o pesadelo das "horas extraordinárias", não auguram vida fácil à minha distinta sucessora.

3. Presumo que o Teatro continuará a ter elevados custos fixos, apesar dos "alívios" em curso no pessoal do quadro. No Verão do ano passado, quando estive sozinho a assegurar a gestão do Teatro, enviei um diagnóstico exaustivo sobre a situação de todo o pessoal da casa - quadro, avenças, prestações de serviço - , a pedido do Ministério da Cultura , com as notas relevantes. Ninguém, até hoje, o deve ter lido. Seria agora interessante saber quanto custam as prestações de serviço e as avenças, formais ou informais, entretanto constituídas e que não devem ser nada mal remuneradas, por comparação com as remunerações auferidas por algum pessoal do quadro. Sublinho "algum".

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