25 DE NOVEMBRO
Em política, como já em quase tudo, a memória é curtíssima. A maior parte dos jovens universitários que vão desfilar por esse País fora, em mais uma cansativa e folclórica "jornada de luta", não era nascida em 25 de Novembro de 1975. Nesse dia, a coragem moral, política e física - tudo espécies de carácter em vias de extinção - de um punhado de "civis" e de "militares", evitou o pior, ou seja, uma possível "guerra civil", em versão original portuguesa. Antes desse dia, no "terreno" e em constante combate, Mário Soares e o Partido Socialista (à altura, um enorme "albergue" de sinceros democratas e de curiosos oportunistas, depois revelados) fizeram o indispensável, como nunca é demais relembrar. No dia certo, quando se anunciou a aventura militar, de mãos dadas com a extrema-esquerda e a complacência estratégica do Dr. Cunhal, que se retirou no momento adequado, emergiu um homem desconhecido, com ar duro e sombrio, escondido nuns permanentes óculos escuros. Liderou com sucesso o "contra-golpe" e impôs-se, de seguida, como chefe incontestado de um exército desfeito, primeiro pela guerra, depois pelas brincadeiras de 74 e 75. Ramalho Eanes foi porventura a criatura que mais poder concentrou nas suas mãos, em Portugal, depois da "revolução". Depois de eleito presidente, em 1976, era também CEMGFA, comandante supremo e presidente do Conselho da Revolução. Nada disso impediu, antes pelo contrário, que voltasse a disciplina à tropa e que se realizasse a institucionalização da democracia. Apesar de tantas hesitações e ambiguidades, sempre respeitei Ramalho Eanes. A ele devemos o lance da liberdade, o de vivermos a liberdade em segurança. E um bom exemplo de coragem. Num texto de apoio à sua recandidatura, em 1980, Sophia de Mello Breyner lembrava a chegada do recém-eleito presidente aos Açores, onde o esperava uma manifestação de arruaceiros autonomistas. Eanes avançou sozinho para eles e perguntou-lhes, "quem vos pagou?". Falhou no episódio PRD e com Zenha. Ainda bem. Afinal, o homem dos óculos escuros provou que era apenas "humano", demasiado humano.
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