À ESPERA
Bastaram uns insistentes espirros em massa para que as urgências hospitalares ficassem, de novo, a nu. Quando Filipe Pereira começou, eu acreditei nele. Ao tentar pegar num assunto "redondo", como os hospitais do serviço nacional de saúde, por um ângulo supostamente diferente, o ministro parecia bem encaminhado. Contudo, a criação dos hospitais SA, a bem de uma "melhor gestão" e de uma melhor oferta de serviços aos utentes, acabou por se transformar em mais um episódio de "desorçamentação", tão criticado ao passado recente. Na realidade, e quando se apregoa que, pela primeira vez se reduziu o défice do SNS, conta-se uma história. Qualquer papalvo minimamente informado percebe que, se se tira de um lado, tem de se pagar por outro, e tudo através do mesmo orçamento de Estado. Nos hospitais ditos públicos - que escaparam, por enquanto, à obsessão (falsamente) privatística em curso - e, seguramente, nas "novas" criações, o problema das urgências subsiste e agrava-se. Não se deve isso apenas a uma incorrecta percepção dos cidadãos relativamente aos chamados "cuidados primários" a que não acorrem. Ao lado de tantas insuficiências, também não é feita uma despistagem eficaz, pelos e para os "primários". O SNS tem bons profissionais e equipamentos, mas a sua organização e controlo internos deixam muito a desejar. É mais prático e fácil exibir mapas e ratios muito coloridos e modernos, e que não dizem nada, nem aos utentes, nem aos profissionais de saúde. Às horas de espera nas urgências, ao desamparo falacioso dos quadros electónicos anódinos, junta-se a "lista de espera" nova, a de Filipe Pereira. Ao lado daquela que presumivelmente reduziu, abriu outra. E outras mais se irão abrir. Se há sector em que é preciso confiar, é neste. O experimentalismo de Luis Filipe Pereira tem deixado a confiança como ela nunca poderia estar, à espera.
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