20.12.09

INEVITÁVEL COMO MORRER


Ao fim de sessenta e cinco anos, fechou finalmente (este "finalmente" é escrito sem sombra de ironia e com uma enorme tristeza) a Buchholz. Na realidade, a Buchholz já estava fechada há muito tempo e a derradeira devassa - livros a um ou dois euros - só acentuou esse fim melancólico e inglório. Entrei lá pela última vez a semana passada. A Buchholz devolvia-nos, apesar da duradoura antipatia das senhoras encarregadas daquilo anos a fio, o prazer de frequentar uma livraria que é um termo que se tem vindo a perder para os amontoados comerciais onde livros ombreiam com tudo e com nada. Por isso, não vale a pena acrescentar algo ao dito noutra ocasião. «Livrarias como a Buchholz fazem parte daqueles raros lugares de silêncio onde podemos sentir intimamente a euforia que representa o amor pelos livros e pela leitura. Fomos nós, os leitores, que as "traímos" quando as trocámos pela "facilidade" dos "grandes espaços". Talvez tudo isto seja inevitável como morrer que é o que, afinal, um livro nos "ensina".»

6 comentários:

Nuno Castelo-Branco disse...

De facto, as fulanas eram horríveis e sempre me fizeram sentir como um intruso ou ladrão. Um ambiente mais afável talvez tivesse ajudado.

radical livre disse...

as nossas bibliotecas são mausoleus de livros.

a maior parte das livrarias são um "monstruário" de monos.
exibem durante anos o que não se vende.
os livros vendáveis raramente são repostos.

conheci esta livraria na avenida da liberdade.
era um espaço diferente
num rectângulo decadente

Anónimo disse...

Uma péssima livraria num tempo em que as livrarias eram todas más. Tinha alguns volumes da colecção Budé e a gorra basca de AJ Saraiva. As fraulein eram provincianas, da estirpe das bibliotecárias da biblioteca nacional. Graças à internet quem quer livros hoje não precisa de perder tempo em lugares tão pedantes quanto imbecis.

fado alexandrino. disse...

Passei várias vezes e parava nas montras e entrei uma vez.
Intimidava, reservada a intelectuais.
Penso que nunca perceberam que estes não chegavam para a sobrevivência.
O resultado está aí.

João Pais disse...

Tem razão, os clientes não estão ao nível da Bucholz. Por isso é que ela devia até ter fechado mais cedo, e ir para outras bandas procurar clientes com mais nível.
Quem trata assim as pessoas, não merece tê-las de volta - os livros, esses, acabam sempre por se encontrar noutros sítios.

Anónimo disse...

Foi um tempo em que os livros eram encomendados e vinham de fora. esse tempo acabou. Tive pena. Fui lá nas últimas semanas.Entrei e saí a correr. Mais uma livraria que se fecha e mais um banco ou um centro comercial que se abre...é o mundo em que a maioria escolheu viver. Não faço parte dessa maioria e por muito que goste de computadores,nada como um bom livro.
Não compro livros em supermercados. Que me desculpem, mas não compro. É ser pedante? Paciência!

Marquesa de Carabás