NÃO PRECISAMOS

Se é verdade que José Sócrates propôs pontes com os outros partidos no início da legislatura, é ainda mais verdade que agora, quando as pontes são necessárias, ele as nega por completo, num jogo esquizofrénico em que se queixa da pouca negociação da oposição quando é ele que a quer calar a todo o custo.

E o jogo prossegue, com ameaças subtis de demissão em bloco (como se isso não fosse bom) e, mais recentemente, de moções de confiança. Perante a inabilidade dos opositores, a vontade de José Sócrates é de lhes atirar o ónus da culpa. Não sendo talhado para governar em minoria, por ser essencialmente autoritário e inflexível dentro do seu vazio de ideias, a única solução que lhe resta é, com algum pó-de-arroz, fazer-se vítima e entupir-nos com a ladainha costumeira do «não me deixam governar». Tudo isto com um governo que está em efectividade de funções há menos de dois meses.

Pois se José Sócrates não aceita o jogo democrático, se não aceita que há cidadãos que não se revêem no seu projecto para o país e, ainda assim, se querem representados na delineação do nosso futuro colectivo, se num mês e meio de governação efectiva e com nenhuma lei verdadeiramente relevante chumbada ou aprovada já vem para as televisões atacar as instituições democraticamente eleitas; tem apenas uma solução: demitir-se. De um Primeiro-Ministro assim não precisamos. De todo.