20.1.06

O LUXO DA INDECISÃO

Algumas sondagens mostram que, para além do "exército dividido" de que falava Sócrates, existe um verdadeiro batalhão de indecisos que oscilará entre os dez e os vinte e tal por cento. Este luxo da indecisão merecia melhor estudo. Não tanto em termos eleitorais, mas no que respeita à idiossincrasia portuguesa. Quem é o indeciso? Nestas eleições, sabemos que fundamentalmente se arrasta pelo eleitorado tradicional do PS, "dividido" por três candidatos, Soares, Alegre e o próprio Cavaco. Todavia, e se olharmos bem nos olhos desses indecisos, vamos encontrar, bem lá no fundo, o português "profundo". O português que não gosta de dar a cara, o português que não se compromete, o português que sobrevive, o português oportunista, o português que "nunca é nada" e que gosta de, se possível, ser tudo, o português "suave", da carreirinha certinha, o português que se levanta todos os dias da sua imaculada cama onde nunca se passa nada de transcendente para além do sono. Este português é, no essencial, aquele que, mediante o seu trabalho de formiguinha anódina e anónima, constroi todos os dias um Portugal mais pequenino. Julgando-se subtil e decisivo na sua indecisão, este português cobarde é o melhor retrato de um país-caranguejo, cheio de respeitinho e sempre em diminutivo.

5 comentários:

Anónimo disse...

Excelente! Parabéns pelo post!

Anónimo disse...

Chegou ao fim a campanha, ainda bem. No domingo à noite espero ver tranquilamente no meu sofá a vitória de cavaco e a derrota de soares. Mais uma vez irei assistir a um desenlace que a história se vai repetir. A vitória da sabedoria, da educação, do bom-senso, da integridade, contra o snobismo, a indiferença, do maldizer, da má educação, da prepotência, da profecia da verdade, etc... Ainda me lembro de nas autárquicas de 2001, soares participar activamente nas campanhas para as câmaras do Porto, Coimbra, Lisboa e Setúbal, e o PS perder todas essas câmaras. Ainda me lembro dos disparates ditos quando não foi eleito presidente do parlamento europeu, puro machismo bacoco. Será que os senhores jornalista já se esqueceram disso e também da relação com Bettino Craxi, um corrupto condenado, que teve que fugir para a Tunísia..., essas questões nunca foram direccionadas a soares, somente o passado de cavaco é que interessava questiona e discutir, as perguntas difíceis não chegavam a soares. Por último, será que vamos assistir no domingo a mais um acto de desespero de soares apelando ao voto desta vez nele mesmo? Afinal o crime compensa. Desrespeitou a lei nas legislativas de 2005, prevaricou nas últimas autárquicas e nada lhe aconteceu...Porque será?. Em Portugal ainda não há “senadores vitalícios”....

Anónimo disse...

Eu ainda estou indeciso sobre se voto ou não Cavaco por isto: Ele tem Uma Imensa e Gritante Falta de Cultura Geral. Deve ter ouvido falar de Woody Allen (bem, fala-se agora no novo filme...) mas e de Herberto Helder? Talvez.. Mas de Kazan nunca ouviu falar de certeza!! Um presidente não precisa de ser culto?

Apatrida

Anónimo disse...

O Cavalo Vencedor e o Cavaco Perdedor

Há uns dias, no Forum da TSF sobre as sondagens, às tantas ouvi o Pedro Magalhães (Director do Centro de Sondagens da Católica) e (pondo as barbas de molho como o Mais Livre já alertou) a dizer que “as sondagens não servem para prever resultados eleitorais, servem para descrever intenções de voto”, “para o eleitorado da direita o Cavaco é o seu candidato” e até que “as eleições decidem-se no voto e não nas sondagens”.

Nessa altura, mais do que nunca ficou para mim claro que estas “sondagens” (e particularmente as “diárias” do DN e da TSF) foram a arma a que desta vez os cavaquistas (i.e. os grupos económicos e financeiros que pretendem pôr Cavaco na PR), deitaram a mão com mais força, para nos levarem na conversa deles..

Estas “sondagens” tentam fazer Cavaco parecer o que não é. Tentam dar dele a imagem de “vencedor”, escondendo que Cavaco é um candidato banal e minoritário. Banal, como se viu pelas generalidades que debitou nos debates e continua a debitar na campanha. Minoritário porque só tem o apoio do PSD e do PP. E bem nos lembramos das encenações com o Veiga e o Carlos Beato para “provar” apoios fora do seu campo, quando o Veiga se representa a si próprio e o Beato já antes o tinha apoiado...

Isto é tentam vender-nos o Cavaco como (durante muitos anos) nos venderam o sabonete Lux, não porque fosse um sabonete melhor do que os outros, mas porque era usado por nove em cada dez estrelas de Hollywood. Agora impingem-nos Cavaco, não porque seja melhor mas porque 60, 55, ou 53 por cento dos portugueses alegadamente vão votar nele...isto é, jogam no facto das pessoas gostarem de apostar no cavalo vencedor.

Mas estas “sondagens diárias” têm tão pouca credibilidade que nem sequer o Pedro Magalhães as inclui no gráfico do seu blogue Margens de Erro. É que as variações diárias que desde o dia 9, fazem as manchetes do DN e da TSF, estão todas dentro da margem de erro da própria sondagem e assim essas tais variações diárias podem portanto não significar rigorosamente nada. Mas disto ninguém avisa nem os ouvintes da TSF nem os leitores do DN...

Mesmo “pegando” nestas “sondagens”, em números brutos nem uma única vez sequer o Cavaco atingiu os 50%...no máximo foi aos 48% em 10 e 11 de Janeiro e hoje quedou-se pelos 41%. Isto é, nas 600 pessoas que em quatro dias foram inquiridas, nem 300 disseram que vão votar nele e hoje 240 dizem que sim mas 360 dizem que não.

E assim, apesar das “sondagens” se esvai a máscara do Cavalo Vencedor e começa a surgir o verdadeiro Cavaco Perdedor.

As sondagens – não as subestimemos – são técnicas poderosas para fazer a cabeça às pessoas, para criar modas, para nos porem a comprar coisas de que antes nunca necessitámos, para nos porem a simpatizar com quem não conhecemos (ou vice-versa). As sondagens custam dinheiro, muito dinheiro. Por isso quem o tem e quer atingir um determinado fim usa e abusa delas.

Mas sendo as “sondagens” a arma “deles”, é bom que a malta não esqueça que o voto é a nossa arma. E eu como trabalhadora e mulher vou votar Jerónimo e desafio-os a não votarem Cavaco!

Anónimo disse...

Concordo plenamente. E apesar de ser "assumida" e absolutamente decidida no voto, identifiquei-me com muitas das outras situaçoes.. e sou "uma criança" ainda. Se calhar faz parte. Espero evoluir para os decididos, irreverentes, surpreendentes e polémicos, quem sabe, para ver se evoluimos para "a frente".