O Paulo Gorjão faz a sua declaração de voto. Não concordo com todos os pressupostos dessa opção - a "teoria dos cestos", nomeadamente, ou a mera consideração das hipóteses Soares e Alegre - todavia, como é patente pelo que aqui se tem escrito, subscrevo-a. Ao fim de muitos anos a votar na "direita" - leia-se, no PSD - decidi, por causa da debandada de Barroso e do episódio Santana, votar em Sócrates. Digo-o assim, porque mais do que votar no Partido Socialista, foi a personagem racional, fria e determinada de José Sócrates quem mais fez pela minha contribuição para a maioria absoluta do PS em Fevereiro último. Apreciei a forma como conquistou, diante do país, a liderança do partido contra dois candidatos medíocres. Aliás, a triste figura que Alegre anda por aí a fazer, cheio de empáfia e pendurado em sondagens, tem também subjacente a tentativa de desforra tardia contra um secretário-geral social-democrata que jamais conseguiu engolir. Já Soares é um caso mais sério. Sócrates, mantendo a "grace under pressure", não podia deixar de aparecer. Soares colou-se-lhe no verão como uma lapa justamente para tentar desfazer o lance "moderado" e vagamente autoritário - no sentido clássico e nobre de demonstração da autoridade do Estado depois do desvario "santanista"- que conduz o primeiro-ministro. As outras "esquerdas", nesta eleição, encarregaram-se do resto. Por mais voltas que se dê, Soares e Sócrates constituem um binómio inverosímil. Não defendo essa superficialidade oportunista de dizer que Sócrates se dará melhor com Cavaco. Porém, sei perfeitamente - sabe e pressente o país - que não se daria melhor com Soares. E isso é que importa. Parte da maioria absoluta de Sócrates, a conquistada ao "centro" e à "direita", é sensivelmente a mesma que empurra agora Cavaco Silva para a maioria do próximo domingo. Ao contrário de Cavaco, que anuncia que a sua vitória não será a derrota de ninguém, eu entendo que será importante nomear os derrotados. Porque os vai haver. E muitos.
1 comentário:
Sócrates e Cavaco estão muito mais próximos ideologicamente do que à primeira vista se julga. E este governo tem provado isso mesmo. Por isso penso que a coabitação será pacifica, pelo menos neste primeiro mandato.
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