15.12.11

AO CUIDADO DO DEPUTADO PEDRO NUNO SANTOS

«A dívida instalou-se na cultura ocidental, e de um modo cada vez mais constante e avassalador, desde que se privilegiou de um modo absoluto a relação com o futuro, concebendo-o como um horizonte que acolhe e compatibiliza todas as promessas e expectativas, por mais contraditórias ou inviáveis que fossem. Foi isso que, antes de todos, percebeu Nietzsche, o mais visionário dos filósofos do século XIX. Foi no segundo ensaio do seu livro A Genealogia da Moral, de 1887, que ele perspicazmente sugeriu que a sociedade não resulta da troca económica (como pensaram A. Smith ou K. Marx), nem assenta na troca simbólica (como viriam a defender as perspectivas antropológica ou psicanalítica), mas que ela se organiza a partir do crédito. Ou mais precisamente, da relação credor-devedor. A grande intuição de Nietzsche foi a de que é a assimetria entre o crédito concedido e a dívida assumida que, desde os seus primórdios, está no fundamento de toda a vida social, antes mesmo da produção e do trabalho. Destacando a proximidade, em alemão, entre o conceito de dívidas (Schulden) e a noção de culpa (Schuld), Nietzsche defende que a chave da organização da sociedade se encontra na sua capacidade para fabricar homens capazes de prometer, e nos seus múltiplos mecanismos para obrigar a honrar as promessas feitas. Teria sido esta a origem da memória, que seria o lugar do mais remoto aparecimento da consciência individual, e nomeadamente dos sentimentos de medo, de má consciência ou de culpabilidade.»

M. M. Carrilho

6 comentários:

Anónimo disse...

As rebeldes afirmações de Pedro Nuno Santos, de Aveiro, equiparam-se na perfeição ao que poderia jorrar do albanês-BE ou do soviético-PC em comícios delirantes; a saída da "Ruptura/FER", ainda assim, parece ter deixado os bloquistas mais burgueses e menos precipitados... Ora quem saiu já em defesa do azougado deputado dos barrilinhos de ovos moles? Manuel Alegre, claro - qual trombeta de barricada. Entretanto este charivari, inqualificável de irresponsabilidade, já originou outro maior - de falta de linha - no Plenário da AR envolvendo os inacreditáveis Junqueiro, Basílio, Isabel Moreira (a tatuada), o próprio Pedro-Nuno e o empastelado Zorrinho O Dr. Soares recomenda ao Primeiro Ministro que vá aos Conselhos Europeus "dar murros na mesa"; sócrates, intervindo remotamente de Paris, dá a entender que ser honrado e cumpridor "é uma coisa de crianças", ao passo que é bem melhor "gerir dívidas", especialmente se essa gestão se limitar a contraír mais e mais. Hoje, as afirmações alarves deste rapaz vieram demonstrar que o PS de Seguro é um clube de bairro onde se joga, cervejando; é uma associação de alegres-excursionistas; é o "Ases das Avenidas" versão São Bento; é uma barraca de tiro com uma bandeira vermelha; é um lupanar político; é um depósito de arruaceiros com número de sócio - tudo menos uma instituição respeitável. E Tó-Zé à proa.

Ass.: Besta Imunda

Anónimo disse...

Parabéns, porque a notícia já está em Espanha. Bom serviço ao país o desta besta quadrada.

http://www.libremercado.com/2011-12-15/los-socialistas-portugueses-amenazan-a-berlin-con-impagar-la-deuda-1276444326/

Xico disse...

Ainda tem esperanças que o deputado é de leituras? Aquilo deve transitar entre a Bola e a Caras.

Isabel disse...

Ouve-se e não se acredita. Como é que labregos imorais deste calibre são deputados da Nação?

Anónimo disse...

Muito bom excerto. Provavelmente o melhor que li alguma vez de M.M.Carrilho.

lucklucky

Freire de Andrade disse...

Pior do que Sócrates, só o seu discípulo Pedro Nuno Santos. Sócrates disse que as dívidas não são para serem pagas, são "por definição" eternas, são para serem geridas. Só é pena que não tenha sabido geri-las quando chefiou o Governo, a não ser que considere que gerir é engordá-las até serem ingeríveis. Posteriormente veio explicar que queria dizer que não são para serem pagas imediatamente e na totalidade. Queria dizer, mas não tinha dito. Mas Nuno Santos refinou o raciocínio: A dívida é uma arma, mas não para o credor: é a bomba atómica do devedor. Pode-se fazer bluff com a dívida ameaçando não pagar até tremerem as pernas dos banqueiros credores e ficaram finos. Só os políticos que nunca jogaram poker é que não compreendem isto... Eu, que não sou político e nunca joguei poker, o pouco que sei desse jogo é suficiente para compreender que se o adversário conhece que cartas temos na mão o bluff torna-se impossível; e os nossos credores conhecem bem a nossa situação e, se nós ameaçarmos não pagar, sabem que não podemos cumprir a ameaça porque precisamos que nos emprestem mais. Se eu tiver um crédito num banco e for lá ameaçar que não pago, não vale a pena pedir mais dinheiro emprestado. Aliás, ao contrário do que o ilustre deputado pensa, os bancos alemães e franceses não nos puseram condições duras quando nos emprestaram dinheiro: limitaram-se a comprar os nossos títulos de dívida em leilão ou no mercado secundário nas condições que o Instituto de Gestão da Tesouraria e do Crédito Público determinou. Como disse Miguel Beleza, o episódio só mereceria ser ignorado, tal a incompetência e ignorância que demonstra, não fosse o deputado vice-presidente da bancada do maior partido da oposição, partido que, enquanto suporte do governo anterior, negociou o memorando que, esse sim, nos obriga a medidas duras, mas nos obriga e nos dá condições e tempo para pagarmos as nossas dívidas.