11.12.11

MANDATO SOCIAL

Somos tão poucos mas vale a pena construir cidades.
Denunciar a tinta
gasta em discursos.
Os mitos criam-se de baixo para cima.
As plantas enraízam
e só depois recortam o céu
ou são colhidas para efeitos vários.
O boletim metereológico diz que vai chover,
mas nunca se sabe se vem um ciclone,
e então salve-nos Deus
se não soubermos prever
os alicerces,
o boato dito pelo telefone,
o sonho, esse mesmo, em que se morre
de estupidez, o coração a bater
como de cavalo que ganhou a corrida
e é levado pelo dono
ao parque do hipódromo.
Basta de balancé
entre o que é, o que virá, o que não é.
Basta de poetas com as mãos cruzadas
e de operários a cair de sono.
Basta de velhotes impotentes
a fornicar sabedoria antiga.
O mandato social é desobriga
como na Páscoa a comunhão dos homens.
Somos poucos mas vale a pena construir cidades
e morrer de pé.


Ruy Cinatti, Archeologia ad Usum Animae

1 comentário:

Torquato da Luz disse...

Obrigado por este poema do Ruy, de quem fui amigo (e vizinho!) até ao fim. Um forte abraço.