7.4.06

CFA


Quando saiu o livro que reunia algumas das prosas de "A pluma caprichosa", de Clara Ferreira Alves (CFA), fui quase a correr comprá-lo. Aprecio aquele género de textos esparsos sobre tudo e sobre nada, de preferência quando são bem escritos, como entendia que aquela colectânea concreta os tinha. Continuei a ler CFA no Expresso em regime de intermitência. Percebi que nem toda a sua prosa me interessava como normalmente me interessam, para citar apenas senhoras, as de Constança Cunha e Sá, Maria de Fátima Bonifácio, Helena Matos ou Maria Filomena Mónica, esta desprovida do horrível "Bilhete de Identidade". Embirrei fortemente com a cedência de CFA ao "santanismo" e, em especial, ao "Pedro". Depois ainda menos suportei a sua invectiva contra Vasco Pulido Valente por causa disto, vinda de quem veio e de quem vive, muito legitimamente, entre outras coisas, da maledicência televisiva. Chegou agora a vez de CFA se "vingar" globalmente da blogosfera. Na sua "despedida" do "Diário Digital" - cheguei lá pelo "Anarca" -, CFA não se poupa, nem sequer à habitual citação em inglês.

"Os jornais ainda não encontraram a fórmula para combater os seus dois inimigos, a televisão e a net, incluindo esse novo mundo da blogosfera, que será em breve um velho mundo e sofrerá o seu backlash. A blogosfera é um saco de gatos que mistura o óptimo com o rasca e acabou por tornar-se um prolongamento do magistério da opinião nos jornais. Num qualquer blogger existe e vegeta um colunista ambicioso ou desempregado ou um mero espírito ocioso e rancoroso. Dantes, a pior desta gente praticava o onanismo literário e escrevia maus versos para a gaveta, agora publicam-se as ejaculações. Mas, sem querer estar aqui a analisar a blogosfera e as suas implicações, nem a evidente vantagem dessa existência e da qualidade e liberdade que revela por vezes, destituindo do seu posto informativo os jornais e televisões aprisionados em formatos e vícios, o resíduo principal de tudo isto é que os jornais mudaram, e muito, e mudaram muito rapidamente. Parafraseando Pessoa na hora da morte, We know not what tomorrow will bring."
Como se pode ver por este naco, CFA escreve aqui a crónica da morte anunciada (e seguramente desejada) da blogosfera, apesar de lhe conceder o direito à "existência" e de vislumbrar, aqui e ali, uns vagos nichos de "qualidade". Eu, pelo contrário, desejo vida e saúde à sua "pluma caprichosa" no jornal do regime, bem como à sua "língua de prata" na versão televisiva do mesmo jornal. Não a leio. Não a oiço. Por isso não me incomoda nada que ela exista, mesmo que "aprisionada" nos seus "formatos e vícios".

4 comentários:

António Viriato disse...

A Clarinha, na verdade, não é má pessoa, faz pela vida, escrevendo, como muita outra gente, com a arte que o Senhor lhe deu. Julga-se, por vezes, da Esquerda intelectual, ma non tropo; outras, quer-se desalinhada, libertária, talvez emancipada, qualquer coisa destas. Mas também já flartou com a Direita, enfim, sem se comprometer muito. Nenhum mal viria daí ao Mundo, não fora uma certa presunção que, às vezes, lhe sobe à cabeça, como no momento em que escrevinhou essa objurgatória, aqui citada, contra os confrades da blogosfera. Já estou até arrependido de ter criticado o VPV, por excesso de linguagem, quando a ela se referiu no seu (e da CCS) saudoso Espectro. Mas não percamos tempo com ela. Deixemo-la em companhia dos seus autores favoritos, suponho que de língua inglesa, a sonhar que nós, os nativos desta rude nesga de terra, não a mereceremos nunca, quando finalmente acabar de escrever a sua inexcedível obra prima, para sua maior glória e nosso derradeiro desdém.

Anónimo disse...

CFA pode ser uma parva, mas fez muitssimo bem em ter movido um processo crime contra o decadente do VPV.
Aquele post do Espectro era por demais ofensivo e só é cego quem não quer ver!

Arrebenta disse...

A Rainha da Sucata


Andam por aí umas vozes em sobressalto com o que se escreve na Net, e, à cabeça, com a crescente influência das temáticas, abordadas nos “blogues”, sobre a Opinião Pública Nacional. Cumpre-me aqui dizer que sou novo nos “blogues”, e suficientemente antigo, na Opinião Pública. E como me estou, à cabeça, aparentemente – depois, verão que não... – zenitalmente borrifando para os “blogues”, vou, pois, começar pela Opinião Pública.

Ora, em qualquer país pretendido civilizado, a Opinião Pública não é mais do que um misto de emoção e raciocínio difuso, que leva a que as sociedades exerçam, em conjunto, as suas auto-análises, os seus direitos espontâneos de aprovação e desagrado, e uma necessária catarse colectiva, fruto dos sabores e dissabores do Rumo da História.
Os períodos de Opressão e de Distensão medem-se, pois, pelo vigor e maturidade que essa Opinião Pública manifestar.
Na sua coluna de despedida do “Diário Digital”, Clara Ferreira Alves, criatura que nunca frequentei, nem sequer sabia que escrevia, mas que, naquele panorama do Ridículo Nacional, apenas me fazia, de quando em vez, sorrir, entre as suas apalhaçadas oscilações entre o negro azeviche e o louro caniche, dizia eu, centra-se, num dado momento da sua despedida, sobre a perniciosa influência dos blogues na tradicional “Imprensa Impressa”: de acordo com ela, “A Blogosfera é um saco de gatos, que mistura o óptimo com o rasca, e (as vírgulas atrás são todas minhas) acabou por se tornar num magistério da opinião (d)os jornais”, os quais nunca foram sacos de gatos, sempre souberam recolher o óptimo, e nunca constituíram um prolongamento do magistério dos Interesses Ocultos Predominantes.

É óbvio que em todos os jornais, como em todos os "blogues", como em todos os programas de televisão de carácter rasca, -- terríveis eixos do mal --, “existe e vegeta um colunista ambicioso, ou desempregado, (as vírgulas continuam a ser minhas), ou um mero espírito ocioso e rancoroso”, que pode ser vário, como os nomes de Satã.
“Dantes, a pior desta gente praticava o onanismo literário e escrevia maus versos para a gaveta, [publicando] agora as ejaculações”, as quais deveriam continuar a ser privadas, porque o exercício da cobrição, que tantas vezes levou a que um mau texto aparecesse nas parangonas da Crítica, fruto de uma noite mais ou menos bem passada, ou de uma jantarada em lugar eminente, poderia, e deveria, pelos mais elementares deveres do Pudor, nunca ultrapassar a atmosférica fronteira do Secreto e do Invisível. Para mais, parece que, nos blogues, escancarada janela rasgada sobre o Tudo, já não existe aquela claustrofóbica sensação das escassas três ou quatro janelinhas, onde a iluminação da Crítica Impressa revelava ao profano o pouco que se fazia, e, logo, podia aspirar a existir. Parece que nos blogues, dizia eu, se fala agora abertamente de tudo e de todos, e não apenas dos amigos, dos que nos assalariaram o texto, ou dos que nos pagaram para sermos gerentes da sua irremediável Insignificância.

Compreende-se a angústia da Clarinha: com a ascensão dos “blogues” e o declínio dos jornais, anuncia-se também o fim do monopólio das palas postas nos olhos dos burros, e daqueles que tinham o exclusivo poder de as pôr.
Clara Ferreira Alves manifesta-se inquieta pelo seu Presente, e teme pelo seu Futuro. Mais acrescento eu que o que está em jogo é, sobretudo, o seu PASSADO e o de todos os que se lhe assemelham, porque a Cabala, que, durante décadas, tão habilmente geriram, se está agora a desmantelar por todos os lados.

Nos “blogues”, nada mais existe do que quem diariamente fale de tudo e todos, sem defender quaisquer sistemas que não os da prevalência do Excelente sobre o Medíocre, do Livre sobre o Encomendado, e, sobretudo, quem o faça GRATUITAMENTE, ou seja, por mero Dever Cívico, por vontade de intervir, por caturrice, ou tão-só pela amistosa gratidão de poder Partilhar.

É verdade que com os “blogues”, poderá estar em jogo o fim da Palavra Comprada, e já estar a vislumbrar-se o início da Era da Palavra Livre e Particular, o Reino da Palavra Gratuita. Talvez seja isso a Comunicação Global. Em breve, também aí se fará a separação do Trigo do Joio, e passará a vencer quem melhor escrever e mais for lido, dispensando-se as tradicionais encomendas das almas.

Penso, publico, sou lido, e logo existo. Tudo o resto é vão.

Ah, e isto não é um texto para resposta, sobretudo qualquer tipo de resposta, como dizia o Vasco Pulido Valente, que metesse “na conversa a sua célebre descrição do pôr-do-sol no Cairo.

Muito obrigado.”

http://braganza-mothers.blogspot.com/

Paulo Alves disse...

Pois, mas até o Diário Digital avançou e para futuro não conta com a Clara.