19.12.03

UM CASAMENTO E VÁRIOS FUNERAIS

José Eduardo dos Santos, o eterno presidente de Angola, casa uma filha. Tal evento não teria importância nenhuma se não tivesse foros de acontecimento político e social que acaba por nos tocar. Acontece que o referido presidente convidou o Dr. Durão Barroso de quem, pelos vistos, é amigo e este aceitou. Angola é seguramente um dos casos de maior vergonha da era pós-colonial. Milhares de autócnes mortos, ora pela guerra, ora pela fome, milhares de crianças amputadas pelas minas escondidas, contrastam, a escuro, com o fausto de que normalmente a nomenclatura de dos Santos se faz acompanhar e que não deixará de estar presente no tal casamento. É neste contexto paradoxal, e que Barroso tão bem conhece, que se desloca à Angola top line, um país-outro, distante da miséria que se vive na maioria das casas e na rua. Entre outros convidados, segue uma amiga da filha de Eduardo dos Santos, a cintilante Cinha Jardim, o que propiciará capas e capas de revistas para ler nos cabeleireiros de Lisboa. É coisa que também não tem relevância nenhuma, mas a que esta crónica deu alguma importância. Vale a pena lê-la e colocá-la no portfolio do mais inevitável "candidato a candidato" a presidente da República. Ajuda a definir os contornos mais marcantes do seu "perfil" e, para quem estiver para aí virado, avaliar dos "atributos" que possui para almejar a chefia do Estado. Sim, porque é disso que falamos quando dele falamos, convém nunca esquecer. Finalmente, no último debate do ano no Parlamento, com a presença do convidado de Eduardo dos Santos e nosso Primeiro Ministro, falou-se da Europa e do aborto. No meio de alguns lugares-comuns e de muita hipocrisia verbal e política, registei o tom alarve com que o Sr. Telmo Correia, lider parlamentar do pequeno PP, se referiu a Mário Soares, o que chegou a merecer um reparo de Mota Amaral. É desta rapaziada vulgar, sem biografia e que se julga patroa disto tudo, que é feita a maioria que tanto alegra D. Barroso, um convidado muito especial de um casamento, e não só.

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