1.12.03

1º DE DEZEMBRO



Comemora-se hoje a "restauração" da independência nacional, supostamente perdida para os espanhóis em 1580. Nessa altura, a Espanha, governada por Filipe, conhecido como o "demónio do meio-dia", senhor de um império "onde o sol nunca se punha", tratou de retirar-nos, a pretexto da sucessão de D. Sebastião, a soberania na ordem externa, como se diria hoje. Ou seja, o País mantinha as suas instituições políticas, mas quem o representava era Filipe II de Espanha e primeiro de Portugal. Dito de outra forma: nunca chegámos verdadeiramente a perder a independência enquanto "soberania na ordem interna". Ficámos, isso sim, diminuídos na nossa capacidade de reacção diplomática, uma vez que a nossa fronteira, a terrestre e a marítima, estava "tapada" pela mesma potência. Esta situação arrastou-se por cerca de sessenta anos e, no tal 1 de Dezembro de 1640, uma rapaziada garbosa, glorificada nos livros de história pátria, defenestrou os traidores e, com esse gesto, logrou recuperar, a seguir a mais uma "guerra doméstica", e por entre muitas escaramuças e peripécias, a tal soberania externa perdida. Visto isto à distância, em pleno processo de reforma da União Europeia, olhando ao País que somos e ao que a Espanha é, o episódio do 1º de Dezembro e respectivas sequelas bem podem ter representado um passo atrás. Da mesma forma que me considero federalista, já fui mais céptico quanto a ser "iberista". Entre outras vantagens, teríamos sido poupados a esta discussão idiota acerca de uma desnecessária revisão constitucional e poderíamos ter construído um sólido corpo de élites em diversas áreas, cuja falta se sente cada vez mais, desde as universidades a S. Bento, passando pela administração pública e pela "sociedade civil". O desastre de Alcácer Quibir levou-nos as poucas que possuíamos. E daí em diante é o que se sabe. Assim como estamos agora, julgamo-nos independentes, contentinhos e "europeus". Não estará porventura no momento de voltar a atirar alguém, de novo, pela janela?

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