INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DESENCANTO- o voyeurismo doentio
Este ano fica assinalado pelo bombardeamento constante da opinião pública com notícias, eventos e factos, uns importantes e outros sem importância nenhuma, que encheram as primeiras páginas dos jornais, dos tablóides, das revistas, e com voz privilegiada, os jornais televisivos. A pobreza confrangedora do material noticioso juntou-se à exploração miserável de instintos primários e de analfabetismos seculares, pela especulação maliciosa e especulativa dos objectos analisados. A demagogia e o mau-gosto andaram de mãos dadas com a avidez doentia das audiências. O caso emblemático do ano foi , e é agora com maior intensidade, o processo da Casa Pia. Depois de se ter passado pela fase dos palpites e dos pré-julgamentos sob a forma de comentários, passando pela falta de serenidade de alguns protagonistas reais ou eventuais, com a divulgação da "acusação" entrou-se num momento de extrema promiscuidade no qual já está instalada a competição para ver quem é que consegue desvendar o pormenor mais sórdido. Numa acusação tão "exaustiva", só estranho que não apareça à cabeça o Estado, a quem a guarda das crianças molestadas estava confiada, e que falhou rotundamente anos e anos a fio quanto à salvaguarda dos seus direitos, aspirações e segurança mínima. Mas disto ninguém se lembra porque não "pega" noticiosamente .Este voyeurismo malsão não contribui para a maturidade cívica. A comunicação social portuguesa, forma contemporânea de soberania, salvo raras excepções, não quer distinguir a palha do grão, seja para não molestar "interesses", seja no seu próprio "interesse", ou seja ainda por pura e atrevida ignorância. Entretanto, com um ar pseudo grave, vai ajudando ao aviltamento geral, "lançando lama para a ventoínha".
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